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15 DE MAIO DE 2020

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Ora, a situação que atualmente vivemos no âmbito da pandemia da doença COVID-19 põe ainda mais em

evidência a injustiça e a imoralidade da existência de paraísos fiscais, principalmente se se permitir que as

empresas sediadas em paraísos fiscais possam, no quadro deste surto epidémico, vir a beneficiar de apoios

públicos como sucede com outras empresas que pagam os seus impostos em Portugal e, devido à redução,

ou mesmo suspensão da sua atividade, apresentam comprovadamente uma quebra das suas receitas.

Para estas empresas, nomeadamente as micro, pequenas e médias empresas, as medidas de apoio nesta

fase são fundamentais para tentar garantir a sua sobrevivência e a manutenção dos postos de trabalho, sendo

de destacar que assumem um papel absolutamente decisivo na nossa economia porque representam cerca de

99% do número total de empresas do nosso País, são responsáveis por 80% do total de emprego e

representam 60% do total do volume de negócios das sociedades não financeiras.

Assim, a par de outras medidas que o Governo deve implementar, como o reforço do Serviço Nacional de

Saúde, a garantia de equipamentos de proteção individual para quem está na linha da frente deste combate, a

proteção do emprego, o fim de despedimentos abusivos e do abuso indiscriminado do lay-off, a garantia da

concretização de direitos, liberdades e garantias, entre muitas outras, impõe-se corrigir uma situação que é

escandalosa a vários níveis através da proibição do acesso destas empresas a apoios estatais.

Efetivamente, em contexto do surto epidémico da COVID-19, alguns países europeus já avançaram com

essa medida, proibindo que os apoios do Estado sejam acessíveis a empresas sediadas em paraísos fiscais

durante a pandemia.

Numa situação dentro da normalidade, já seria desejável e expectável que o Estado português não

pactuasse com este mecanismo que permite não pagar impostos, fugir ao pagamento das obrigações fiscais e

esconder dinheiro. Numa situação excecional como a que hoje vivemos, mais se justifica a adoção desta

medida.

Saliente-se que, apesar da importância que assumem do ponto de vista da nossa economia, é bem

conhecida a realidade difícil de muitas empresas que contribuem para o desenvolvimento do país e que

pagam em Portugal os seus impostos.

Logo, não é aceitável que os apoios no âmbito da pandemia de COVID-19 tratem de forma igual empresas

que são substancialmente diferentes, devendo haver uma diferença no seu acesso, pois umas empresas

precisam desses apoios para sobreviver, enquanto outras gozam do privilégio de pouco ou nada pagarem em

impostos pelos seus lucros avultados.

Acresce ainda que a existência de paraísos fiscais é absolutamente inseparável do agravamento das

desigualdades sociais, da pobreza e da insustentabilidade do modelo económico que se vai instalando no

mundo.

Efetivamente, os paraísos fiscais fragilizam de forma substancial as bases financeiras do Estado e não

criam riqueza para o País, colocando em causa as suas receitas e recursos que, de outro modo, poderiam ser

canalizados para investimento público em áreas absolutamente prioritárias, como serviços públicos e políticas

sociais.

De acordo com os dados comunicados pelos bancos à Autoridade Tributária e Aduaneira, em 2018 foram

transferidos 8,95 mil milhões de euros para paraísos fiscais, tendo sido realizadas 113 875 transferências para

territórios com situação tributária mais favorável, mais 11 571 do que no ano anterior, tendo sido os destinos

preferidos a Suíça e Hong Kong. Relativamente aos ordenantes, em 2017 foram 11 093 e em 2018 totalizaram

13 043, sendo a maioria pessoas coletivas, como empresas.

Mas mais, os paraísos fiscais também foram o palco de alguns dos acontecimentos, como a falência de

bancos ou as fraudes em larga escala. Por cá, será oportuno recordar os processos escandalosos do BCP

(Banco Comercial Português), do BPP (Banco Privado Português) ou do BPN (Banco Português de Negócios),

que indiciaram práticas relacionadas com empresas sediadas precisamente em paraísos fiscais e cuja fatura,

nalguns casos, acabou por ser paga pelos contribuintes portugueses.

Facilmente se conclui que a existência de paraísos fiscais tem consequências negativas do ponto de vista

económico, financeiro, social e político, razão pela qual o Partido Ecologista «Os Verdes» sempre foi contra

este sistema e sempre reclamou o seu fim.

A este propósito, recorde-se que a posição do Partido Ecologista «Os Verdes» está bem expressa no

Projeto de Resolução n.º 86/XIV/1.ª que recomenda ao Governo que tome a iniciativa e se envolva ativamente,

junto dos restantes Estados e das Organizações Internacionais de que faz parte, no sentido de encontrar

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