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28 DE SETEMBRO DE 2020

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Falamos primeiro das desigualdades sociais e em seguida das alterações climáticas. Tal não foi por acaso,

uma vez que os estudos mais recentes constatam esta relação – ditam que as pessoas mais desfavorecidas e

menos responsáveis pela sobre-exploração dos recursos naturais, são as mais afetadas pelos eventos

associados às alterações climáticas, sendo que «mas não é só dentro de cada cidade ou região que estas

desigualdades se fazem sentir. A nível global, os países que menos contribuem para o aquecimento global são

os que mais sofrem com ele. Se olharmos para a lista dos países mais afetados pelas alterações climáticas nos

últimos vinte anos, encontramos, no topo do ranking, países que representam percentagens marginais das

emissões globais de dióxido de carbono. Em primeiro lugar surge Porto Rico, país responsável por 0,002% do

CO2 emitido para a atmosfera a nível mundial. Honduras (0,03% do global) e Myanmar (0,05%) surgem a

seguir»15.

Tamanhas desigualdades, exacerbadas pela recente pandemia, expõem as lacunas do modelo capitalista

implementado nas sociedades, que carecem de ser supridas de forma urgente. Como defende o economista

britânico Paul Collier16, urge «enfrentar a ascensão do individualismo e a destruição do sentido de comunidade,

bem como o desvio das empresas de cumprirem objetivos sociais para apenas buscarem o lucro».

A conjuntura, em muito potenciada pela inconsciência manifestada por muitas das pessoas mais poderosas

do mundo, resulta na perigosa ascensão do populismo. Um bom indicador do crescimento de movimentos

extremistas que se vão formando devido à insatisfação de uma franja significativa da população face ao modelo

social e económico atual prende-se com o incremento da representação parlamentar de partidos de extrema-

direita na UE, sendo que neste momento, apenas três países não têm partidos de extrema-direita com

representação parlamentar – Irlanda, Luxemburgo e Malta.

Ao quadro preocupante exposto, juntam-se mais dois problemas: um muito atual – pandemia relativa ao

coronavírus SARS-CoV-2 e outro que apresentando atualidade, preocupa mais no médio prazo –

automatização/desemprego tecnológico. No que diz respeito à Covid-19, por um lado, caminhamos a passos

largos para os 30 milhões de infetados e um milhão de mortos em todo o mundo. Por outro lado, as

desigualdades sociais que foram mencionadas inúmeras vezes no presente projeto, tornaram-se ainda mais

vincadas – por exemplo, a Fundação Bill Gates produziu um relatório17, com a análise das repercussões da

pandemia, havendo concluído que o mundo regrediu «cerca de 25 anos em perto de 25 semanas», com um

aumento de 7% nos níveis de pobreza extrema; com um queda da cobertura da vacinação para índices dos

anos 90 e com o crescimento das desigualdades sociais sendo que «a pandemia reduziu a distribuição de

comida, aumentou os preços dos alimentos e impediu as pessoas de se moverem em busca de oportunidades

como antes faziam»18.

Analisando as repercussões da pandemia do nosso país, o quadro não é animador, sendo que até à data se

verificou um aumento de quase cem mil desempregados na «era Covid» (num total de 407 mil

desempregados)19.

Quanto ao choque na economia, cumpre referir que o PIB «registou, durante o segundo trimestre deste ano,

uma contracção face ao trimestre imediatamente anterior de 14,1%, a maior de que há registo. E quando a

comparação é feita com o mesmo trimestre do ano anterior, a diminuição do PIB foi de 16,5%, também um novo

máximo», o que representa a «redução da atividade económica mais brusca desde pelo menos 1977»20.

Tendo em consideração os números apresentados, cumpre referir que até os impactos da pandemia denotam

a existência de acentuadas desigualdades sociais. O estudo denominado «Barómetro Covid-19: Opinião Social

– Conhecer, Decidir, Agir. Os Portugueses, a COVID-19 e as Respostas do Serviço Nacional de Saúde»21

elaborado pela Escola Nacional de Saúde Pública conclui que as pessoas mais pobres e em idade ativa são as

mais afetadas pela pandemia. Cita-se o trecho mais elucidativo: «são as pessoas com baixos rendimentos e

1?utm_content=Covid%20contagia%20candidaturas%20a%20Presidente%20da%20República&utm_medium=newsletter&utm_campaign=26cf258075&utm_source=expresso-expressomatinal%20%E2%80%93 . 15 Passível de verificação no link https://observador.pt/especiais/pobreza-racismo-e-poluicao-as-alteracoes-climaticas-tambem-revelam-e-acentuam-as-desigualdades/?ct=t(NIEN_2020_02_05_COPY_01) . 16 No livro Greed Is Dead: Politics After Individualism. 17Para consulta do relatório, ver o link https://www.gatesfoundation.org/goalkeepers/report/2020-report/#GlobalPerspective . 18Para consulta de notícias associadas, ver por exemplo, https://expresso.pt/coronavirus/2020-09-15-Covid-19.-Regredimos-cerca-de-25-anos-em-25-semanas.-Bill-Gates-fala-em-retrocesso-gigante-no-desenvolvimento-global . 19Ver o link https://expresso.pt/economia/2020-08-25-Covid-19.-Pandemia-criou-92-mil-novos-desempregados.-46-estao-na-regiao-de-Lisboa . 20https://www.publico.pt/2020/07/31/economia/noticia/economia-portuguesa-contraccao-recorde-141-segundo-trimestre-1926562 . 21https://barometro-covid-19.ensp.unl.pt/opiniao-social-com-novo-foco-populacoes-vulneraveis-e-desigualdades/ .

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