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II SÉRIE-A — NÚMERO 77

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«De acordo com o Inquérito Nacional de Saúde 2019 (INE), a obesidade afeta 1,5 milhões de pessoas

adultas em Portugal, o equivalente a 16,9% da população. Já as estatísticas da OCDE retratam uma

prevalência superior, indicando que 28,7% da população portuguesa adulta terá obesidade (Health at a Glance

2020). Esta percentagem coloca Portugal como o terceiro país europeu com maior prevalência (entre os nove

comparados pela OCDE), atrás de Hungria e Turquia. Quando se trata de obesidade autodiagnosticada, 15%

da população nacional considera-se obesa, segundo o mesmo relatório.

As previsões do World Obesity Report (elaborado pela World Obesity Federation) são claras: a este ritmo, a

população com obesidade em Portugal será, em 2025, superior ao número de habitantes da Grande Lisboa. O

relatório projeta que, entre a população adulta e infantil, existirão mais de 2,4 milhões de pessoas com

obesidade no país. Na Europa, mais de metade da população adulta vive com excesso de peso ou obesidade

(51,6%, dados Eurostat).

Classificado como de ‘alto risco’ pela World Obesity Federation, Portugal será incapaz de cumprir a meta

das Nações Unidas para 2025 para travar a progressão da obesidade em adultos: as hipóteses são nulas no

que concerne às metas na população masculina (0,0%) e muito escassas na população feminina (2,0%).

A inépcia de travar a obesidade resulta numa sociedade mais doente e mais vulnerável, mas também num

impacto em termos de custos para o sistema de saúde nacional. Ainda de acordo com o World Obesity Report,

a fatura para Portugal de não tratar a obesidade é elevada: 1,9 mil milhões de dólares (dados referentes a

2016)».

Fica claro que é benéfico apostar e urgente agir num eficaz combate à obesidade, tanto em idade

pediátrica como na idade adulta. E ainda há muito desconhecimento, muito estigma e muitos preconceitos

associados a esta doença que, como se pode observar nos dados acima citados, atinge uma demasiado

elevada camada da população portuguesa.

A acumulação anormal ou excessiva de gordura no corpo pode levar ao surgimento da obesidade, que se

mede em função do Índice de Massa Corporal. Uma pessoa não é «gorda» ou obesa porque quer. Uma

pessoa é obesa porque sofre de uma doença crónica, que é grave, que tem diversas causas e inúmeras

consequências.

Desde logo, importa salientar que a obesidade pode ter uma forte componente genética. Também não se

pode negligenciar o facto de que as pessoas que vivem em contextos socioecónomicos mais desfavorecidos

são as mais afetadas.

O impacto e consequências da obesidade são inúmeros: menor esperança de vida, menor qualidade de

vida, menor acesso a emprego, estigma e discriminação, impactos psicológicos devastadores e, não menos

relevante, mais de 200 doenças associadas (doenças mentais, insuficiência cardíaca, fígado gordo, doenças

respiratórias, artroses, lombalgias, diabetes e cerca de treze tipos de cancro decorrentes da obesidade, entre

tantas outras doenças).

A este propósito, importa salientar que a pandemia de COVID-19 está a ter consequências agravadas nos

doentes obesos. De acordo com o documento da ADEXO e da SPEO já acima citado, a pessoa obesa tem

risco acrescido de complicações em caso de infeção pelo SARS-CoV-2:

 «+ 48% de risco de morte prematura por COVID-19 em pessoas com obesidade (Estudo liderado pela

Universidade da Carolina do Norte Individuals with obesity and COVID-19)»;

 «38,4% dos doentes com COVID-19 nos cuidados intensivos são pessoas que vivem com obesidade

(ICNARC report on COVID-19 in critical care – UK)».

E, se tivermos em conta que, segundo o mesmo documento, «26,4% dos portugueses aumentaram de

peso no período de contenção social em contexto de COVID-19 (PNPAS 2020)», mais relevante se torna

adaptar de imediato a estratégia de combate à obesidade.

Ao nível dos cuidados de saúde primários, a abordagem à obesidade ainda está muito aquém do

necessário para ser eficaz. A maioria dos doentes não consegue ter acesso a um acompanhamento

multidisciplinar direcionado ao tratamento da obesidade, encontrando apenas resposta para problemas

decorrentes da obesidade. Isto é, com a abordagem que tem sido feita não se está a tratar a origem do

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