O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

II SÉRIE-A — NÚMERO 77

22

de saúde que estão na linha da frente.3

De facto, os profissionais de saúde encontram-se em elevado nível de exaustão, tendo de tomar decisões

que nunca se viram forçados a tomar antes. Não é de estanhar, por isso, que sintomas como cansaço extremo

e alterações de humor, bem como stress pós-traumático e burnout comecem a surgir nestes profissionais.

A este respeito, importa destacar o estudo «Saúde mental em tempos de pandemia COVID-19»4,

desenvolvido pelo Instituto Ricardo Jorge, com a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e a

Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, de outubro de 2020, no qual participaram pouco mais

de seis mil pessoas, das quais 2097 profissionais de saúde, com vista a averiguar o impacto da pandemia em

diversas dimensões de saúde mental (bem-estar psicológico, ansiedade, depressão, perturbação de stress

pós-traumático, burnout e resiliência).

Relativamente à população em geral, este estudo concluiu que 33,7% apresentavam sinais de sofrimento

psicológico, 27% dos inquiridos reportaram sintomas moderados a graves de ansiedade, 26,4% tinham

sintomas moderados a graves de depressão e 26% reportaram sintomas de perturbação de stress pós-

traumático. Demonstrou, ainda, que mulheres, jovens adultos entre os 18 e os 29 anos, desempregados e

indivíduos com mais baixo rendimento são quem mais apresenta sintomas de sofrimento psicológico. Por

último, revelou que a conciliação do trabalho e da vida familiar em tempo de pandemia é um dos maiores

fatores de pressão, uma vez que dos que apresentavam sinais de sofrimento psicológico, 71,2% não têm

conseguido conciliar trabalho e vida familiar, 55,6% não conseguem manter o nível de

desempenho/produtividade, para 51,4% o trabalho tem interferido mais com a vida familiar e pessoal e 53,7%

não têm a mesma capacidade financeira.

No caso dos profissionais de saúde, o estudo revelou que 44,8% apresentavam sinais de sofrimento

psicológico, 32,1% reportam sintomas de burnout, 30,8% tem sintomas de ansiedade moderada ou elevada,

28,4% tem sintomas de depressão e 28% revelou perturbação de stress pós-traumático. Isto significa que 1

em cada 3 profissionais de saúde apresentam níveis de exaustão física e emocional elevados. Ficou, ainda,

demonstrando que os que estão na linha da frente a tratar doentes com COVID-19 mostram um risco de

sofrimento psicológico 2,5 vezes superior àqueles que não tratam estes doentes.

Sendo estes dados muito preocupantes, em particular em relação aos profissionais de saúde, importa ter

em conta que o trabalho de campo para a realização deste estudo aconteceu entre maio e agosto de 2020,

sendo atualmente a situação bastante mais grave do que a que vivíamos naquele período. A pandemia dura

há quase um ano, pelo que agora o nível de cansaço e exaustão dos profissionais da linha da frente é ainda

maior.

Neste sentido, é fundamental reforçar o sistema de apoio psicológico destinado aos profissionais de saúde,

não esquecendo a implementação de estratégias de combate ao burnout.

É verdade que, no contexto atual, têm sido tomadas algumas medidas para reforçar o acesso da população

a apoio psicológico. Destacamos o serviço de aconselhamento psicológico integrado na linha telefónica do

SNS 24 que pretende dar apoio às preocupações e desafios psicológicos dos utentes e profissionais de saúde.

Em funcionamento desde 1 de abril de 2020, a Linha de Atendimento Psicológico atendeu, até ao dia 13 de

dezembro, 54 779 chamadas, das quais 4248 eram de profissionais de saúde. A média etária dos utentes

oscila entre os 45 e os 50 anos, sendo a maioria do sexo feminino. As chamadas estão relacionadas com

problemas associados a ansiedade, stress, sintomatologia depressiva, gestão de emoções e adaptação em

situações de crise.

Apesar da importância desta resposta, a verdade é que esta linha faz aconselhamento e não

acompanhamento psicológico, o que significa que aqueles que contactam a linha deviam depois ter o devido

acompanhamento, o que nem sempre acontece. Por este motivo, o Bastonário da Ordem dos Psicólogos, em

entrevista à comunicação social, alertou para o facto de existirem pessoas que estão a contactar diretamente a

Ordem dos Psicólogos a pedir ajuda, o que não eram comum, pois recorrem ao serviço de aconselhamento da

linha SNS24, mas depois necessitam de ter apoio continuado e não dispõem de recursos económicos para tal

nem existe resposta nos centros de saúde.5

Com o objetivo de alagar o acesso da população a cuidados de saúde mental, a Ordem dos Psicólogos

3 Cfr. https://sicnoticias.pt/especiais/coronavirus/2021-01-18-Psicologos-pedem-reforco-das-respostas-na-saude-mental-para-lidar-com-a-

pandemia 4 Cfr. http://repositorio.insa.pt/handle/10400.18/7245

5 Cfr. https://www.dnoticias.pt/2021/1/18/247086-psicologos-pedem-reforco-das-respostas-na-saude-mental/

Páginas Relacionadas
Página 0011:
15 DE FEVEREIRO DE 2021 11 de Investigação e Intervenção Social do ISCTE – Institut
Pág.Página 11
Página 0012:
II SÉRIE-A — NÚMERO 77 12 geral, desvalorizada pela historiografia, e
Pág.Página 12
Página 0013:
15 DE FEVEREIRO DE 2021 13 Bugalhão: «Não será aceitável nem admissível um projeto
Pág.Página 13