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II SÉRIE-A — NÚMERO 79

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país garantirá uma efetiva descarbonização, visto ser o setor dos transportes o que mais contribui para as

nossas emissões de CO2, só assim conseguiremos promover uma verdadeira coesão territorial.

Mas para que isso aconteça será necessário garantir e direcionar o investimento por forma a que a malha

ferroviária alastre para o interior, construindo novas linhas ou simplesmente reabilitando as que foram

abandonadas ou desmanteladas. Desta forma será assegurada uma resposta efetiva às necessidades de

mobilidade das populações, e criadas condições para atrair investimento reprodutivo e, com ele, emprego e a

fixação de população nestas zonas, onde o despovoamento e o envelhecimento populacional se fazem cada

vez mais sentir. Só assim, o comboio voltará a reassumir o importantíssimo papel que teve no fim do século

XIX como povoador do território, e como pilar estruturante para o desenvolvimento económico das regiões

onde chegou.

A Linha do Douro e os seus quatro ramais de via métrica (Sabor, Tua, Corgo,Tâmega) são um exemplo,

por exelência, do que acabamos de referir. Estas linhas férreas permitiram facilitar o acesso e encurtar o

tempo de distância, dos grandes centros urbanos, nomeadamente do Porto, com zonas do país com uma

orografia muito complexa, quando não impenetrável, como era o caso do Vale do Tua.

O comboio permitiu quebrar o isolamento de quem vivia nestas zonas mais agrestes do território e ali fixar

novas pessoas, nomeadamente as familias dos ferroviários e assumiu um papel inegável no desenvolvimento

económico das regiões de Trás-os-Montes e do Alto Douro. O comboio veio permitir escoar a menor custos e

tempo reduzido os recursos naturais pesados (madeiras, minérios) e produtos endógenos até ali difíceis de

comercializar para fora da região. Essa foi uma das razões que levou a que a construção da Linha do Tua

tivesse sido financiada pela Associação Empresarial do Porto.

A chegada do comboio a estas regiões(o primeiro troço foi inaugurado em 1875 e o segundo chegou até

Barca D‘Alva em 1887e abriu a ligação internacional com Salamanca por via La Fregeneda), foi sem dúvida

um evento histórico da maior importância, que mudou a vida das populações, assumindo-se como o meio

priviligeado de deslocação, para o interior do Vale do Douro, da burguesia portuense, mas também dos

trabalhadores jornaleiros no momento das vindimas, como tão bem o retrata Miguel Torga no seu romance

«Vindimas».

O comboio foi, em geral, muito bem acolhido pelas populações de todas as camadas sociais, como o

retratou Bordalo Pinheiro numa ilustração a propósito da inauguração da Linha do Tua. Mas nem tudo foi

pacífico, também se abriram brechas de conflito, nomeadamente na concorrência que o comboio veio fazer

aos barcos rabelos, no tansporte do Vinho do Douro/Porto. Um drama social, que Alves Redol retrata com

grande realismo e sensibilidade em «Porto Manso».

Passado mais de um século, a Linha do Douro vêm a reassumir nova relevância, na região, tanto numa

perspetiva histórica, como económica, com a classificação, em 2001, do Alto Douro Vinhateiro como

Património da Humanidade, pela UNESCO. Não só, porque a Linha do Douro é um elemento integrante desta

paisagem vinhateira classificada, mas também, porque é um dos meios de transporte preferênciais, a par com

os barcos, para a visitação da mesma. Os turistas passaram, a partir daí, a representar uma percentagem

importante dos utilizadores da linha do Douro, tal como do que restava em funcionamento dos ramais do Tua,

Corgo e Tâmega. Situação que só não se verificou no Sabor pelo facto da linha ter sido encerrada na sua

totalidade, em 1988, no «tsunami Cavaquista» que levou durante os dois mandatos dos Governos PSD, de

1985 a 1991 ao encerramento de centenas de quilómetros de via férrea, em Portugal.

Para Os Verdes, a reativação do troço da Linha do Douro, do Pocinho a Barca d‘Alva e do seu serviço para

além fronteiras e a reabilitação, modernização e eletrificação da Linha do Douro em todo o seu percurso, e a

sua articulação com os seus ramais, ocupam um lugar de destaque na agenda politica, no mínimo desde

2006, data em que o Ministro Mário Lino, do Governo PS, assumiu a sentença de morte dos ramais do Douro,

nesta Assembleia, em resposta a uma pergunta do PEV.

Desde então a Linha do Douro e os seus ramais marcaram uma presença constante, na Assembleia da

Républica, por via do PEV. Foram dezenas e dezenas de intervenções, perguntas ao Governo, iniciativas em

sede de comissões e propostas parlamentares, sobre este assunto, nomeadamente com propostas em sede

de PIDDAC/Orçamento do Estado, para a «reativaçção do troço da linha do Douro entre o Pocinho e Barca

d‘Alva», que iniciaram em 2006 e foram repetidas anos a fio.

Por isso, é com muito apreço que o PEV saúda os signatários da petição pública, que deu entrada na

Assembleia da República «pela completa requalificação e reabertura da Linha do Douro (Ermesinde Barca D’

Alva e subsequente ligação a Salamanca)», nomeadamente os seus dois primeiros subscritores, a Liga dos

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