O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

29 DE JULHO DE 2021

79

De acordo com este Regulamento, trata-se de «um jogo social do Estado, explorado através da emissão de

jogos autónomos, com denominação própria, aos quais podem corresponder uma ou várias emissões, nos

termos do plano previamente definido de emissão e prémios», sendo esta lotaria «vendida em bilhetes, na frente

dos quais figuram, em zona reservada e vedada por película de segurança a remover pelo jogador, um conjunto

de símbolos ou números que determinarão, de forma imediata, a atribuição de um ou mais prémios, conforme

as regras de atribuição indicadas no próprio bilhete».

Em termos de vendas totais, a raspadinha é a principal fonte de receita da SCML, tendo chegado aos 1718

milhões de euros em 2019 (+7,8% face a 2018), o que equivale a 51,1% do total (51,5% em 2018), segundo um

estudo publicado na The Lancet Psychiatry1, da autoria de Daniela Vilaverde e Pedro Morgado, investigadores da Escola de Medicina da Universidade

do Minho e do ICVS, bem como psiquiatras no Hospital de Braga. Em comparação com as restantes lotarias, a

lotaria instantânea representa 50% das receitas totais e a sua venda tem vindo a crescer desde 2010.

O estudo revela ainda que Portugal é o país da Europa onde se gasta, em média, por pessoa, mais dinheiro

em raspadinhas. São mais de quatro milhões de euros gastos por dia, o que corresponde a um gasto médio por

pessoa de 160 € por ano, em comparação com apenas 14 € médios em Espanha.

Segundo o investigador Pedro Morgado, «os números em Portugal são brutais quando comparados com

Espanha – e com o resto da Europa. Gastamos demasiado dinheiro em raspadinhas e isso significa que o

número de pessoas com problemas de jogo patológico, adição ou vício do jogo, associado a raspadinhas

também é potencialmente maior».

Em declarações ao jornal Observador, vários especialistas dão conta que o vício em raspadinhas tem levado

cada vez mais pessoas a pedirem ajuda às equipas de tratamento dos Centros de Respostas Integradas (em

Comportamentos Aditivos e Dependências) e a clínicas privadas. Os dados sobre o jogo abusivo e patológico

são efetivamente preocupantes. Entre 2012 e 2017, a prevalência do jogo abusivo quadruplicou (de 0,3% para

1,2%) e a do jogo patológico duplicou (de 0,3% para 0,6%), o que representa 60 mil e 24 mil pessoas,

respetivamente2.

Segundo Pedro Morgado e Daniela Vilaverde, a raspadinha tem um conjunto de «características que

favorecem o estabelecimento de comportamento de jogo problemático ou patológico». Comprar uma raspadinha

é fácil, é barato, e confere uma sensação de gratificação instantânea que leva rapidamente ao estabelecimento

de uma adição.

Na caracterização dos jogadores de raspadinha, o Inquérito Nacional ao Consumo de substâncias

Psicoativas na População Geral 2016/173, publicado pelo Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos

e nas Dependências (SICAD), revela que mais de metade dos jogadores de raspadinha são mulheres, entre os

35 e os 54 anos, com habilitações relativamente baixas e rendimentos entre 500 e 1000 euros mensais. Em

contraste, o grupo que menos joga as raspadinhas são os estudantes (dos 15 aos 24 anos) e pessoas com

habilitações ao nível do ensino superior.

No entanto, o aumento do jogo online impulsionado pela pandemia poderá provocar uma maior incidência de

jogo de raspadinhas nas camadas mais jovens. De acordo com os dados divulgados pelo Serviço de Regulação

e Inspeção de Jogos (SRIJ), a receita bruta gerada pela atividade de todos os jogos e apostas online ascendeu,

no primeiro trimestre de 2021, a 128,3 milhões de euros, superior em mais de 58,1 milhões de euros ao registado

no período homólogo (+82,6%), o que representa o maior aumento anual desde que há estatísticas sobre o jogo

online4.

Nos últimos anos, com o crescimento do jogo online, deu-se a diversificação da oferta de jogos online, entre

os quais as raspadinhas. Em 2013, a SCML lançou a sua primeira raspadinha online por apenas 10 cêntimos.

Em pouco tempo, a adesão a este jogo superou a de alternativas como o Euromilhões, a Lotaria Clássica ou o

Totoloto. Hoje, no site oficial da SCML, intitulado Jogos Santa Casa, encontramos aproximadamente 40 modelos

de raspadinhas, para além dos restantes jogos de sorte e azar e apostas desportivas. Em entrevista ao Público,

Pedro Hubert, atualmente psicólogo e técnico do Instituto de Apoio ao Jogador, diz que o vício do Jogo online

«é mais rápido e mais forte».

Durante o mesmo período (1T 2021), no conjunto das 15 entidades exploradoras em Portugal, apuraram-se

1 (Vilaverde e Morgado, 2020) https://www.thelancet.com/journals/lanpsy/article/PIIS2215-0366(20)30039-0/fulltext 2 http://www.sicad.pt/PT/Documents/2017/INPG%202016_2017_I%20relatorio%20final_dados_provisorios.pdf 3 http://www.sicad.pt/PT/Documents/2017/INPG%202016_2017_I%20relatorio%20final_dados_provisorios.pdf 4 https://www.srij.turismodeportugal.pt/fotos/editor2/estatisticas/Estat%C3%ADstica_online_1T_2021.pdf

Páginas Relacionadas
Página 0076:
II SÉRIE-A — NÚMERO 177 76 PROJETO DE LEI N.º 919/XIV/2.ª ESTA
Pág.Página 76
Página 0077:
29 DE JULHO DE 2021 77 e mais forte». No entanto, o problema da raspadinha t
Pág.Página 77
Página 0078:
II SÉRIE-A — NÚMERO 177 78 pelo Decreto-Lei n.º 275/98, de 9 de setem
Pág.Página 78