O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

II SÉRIE-A — NÚMERO 134

6

um papel importante na resolução do problema, e a Iniciativa Liberal tem apoiado todas as propostas neste

sentido. No entanto, é necessário um salto qualitativo nas infraestruturas hídricas portuguesas, o que passa

por um aumento da oferta de água que assegure tanto o abastecimento das populações como a

competitividade económica.

Uma das principais vias através das quais é possível expandir consideravelmente a oferta de água em

Portugal é a do emprego de tecnologias de dessalinização. A dessalinização consiste no processo de retirar

sais e outros minerais da água salgada, comumente feita por uma de duas vias: ou a da osmose inversa, a

mais habitual, que consiste na passagem de água salgada por membranas que filtram por vários níveis o sal

da água, ou da dessalinização térmica, que ferve, evapora e torna a condensar a água sem o sal. Da água que

entra na central sensivelmente metade, consoante a eficiência tecnológica, transforma-se em água

dessalinizada. O processo serve para gerar água potável e pode também gerar água salobra – nível de

salinidade intermédio entre a da água doce e a da água salgada – que pode ser utilizada, por exemplo, na

rega.

A dessalinização representa uma oportunidade de expansão da oferta de água em Portugal enquanto se

evita o esgotamento dos recursos hídricos existentes. A tecnologia tem-se espalhado depressa, sobretudo no

Médio Oriente e na Ásia. Um estudo elaborado pelos investigadores do Instituto para a Água, Meio Ambiente e

Saúde da Universidade das Nações Unidas, em 2019, indicou que no mundo havia cerca de 16 mil unidades

de dessalinização em operação, distribuídas por 177 países.

Aqui ao lado, Espanha é um dos países no mundo que mais cedo começou a investir na dessalinização.

Hoje, é um dos líderes mundiais na exportação de know-how de dessalinização, concentrando em si mais de

metade das centrais da Europa, cujo número ascende às 765 no seu território, produzindo mais de 4,5 milhões

de metros cúbicos de água por dia. Portugal encontra-se na situação oposta: altamente dependente de rios

com a sua nascente em Espanha, sem capacidade própria de aumento da oferta que não pelo aumento da

circularidade, acabando por navegar ao sabor da situação hídrica espanhola e das suas consequências

económicas no país, que depressa pode repercutir-se negativamente sobre a portuguesa.

Um dos casos mais paradigmáticos e bem-documentados é o de Israel, cujos sucessos estão descritos no

Relatório de 2017 do Banco Mundial, «Water Management in Israel», onde uma combinação de fortes

investimentos na circularidade do abastecimento e de dessalinização de água do mediterrâneo permitiram

inverter a situação de um país que, sofrendo outrora com uma das mais graves situações de escassez hídrica

do mundo, não só beneficia agora de um setor agrícola pujante, como é um exportador de água – pelo que

entretanto toda a região do Médio Oriente emprega abundantemente a tecnologia.

A dessalinização não vem sem desvantagens, como é o caso de qualquer tecnologia. Trata-se de um

processo de alta intensidade energética que tradicionalmente beneficiou do uso de combustíveis fósseis,

produzindo também resíduos como a salmoura que podem trazer dificuldades à preservação da

biodiversidade. A salmoura é um resíduo que consiste numa solução de água saturada de sal, resultante do

processo de dessalinização, e pode conter químicos, alguns potencialmente tóxicos, utilizados no pré-

tratamento da água ou na preservação das membranas.

Do ponto de vista energético, a desvantagem dos combustíveis fósseis é facilmente ultrapassável com o

emprego de energias renováveis. Mais ainda num país como Portugal, onde as condições climatéricas são

muito favoráveis ao emprego destas energias, pelo que esta possibilidade deve ser encarada no estudo e

desenvolvimento das centrais portuguesas, admitindo que poderá mesmo ser um fator determinante na sua

viabilização. Pode-se admitir também uma fase intermédia em que o gás natural desempenha um papel

complementar em relação às fontes renováveis, que são, por si só, uma fonte altamente competitiva de

eletricidade cujo problema seria, por agora, a sua incapacidade de conferir estabilidade no abastecimento

elétrico das centrais, embora este fator possa vir a mudar num futuro próximo.

Quanto à salmoura, o resíduo é diluído e depois disperso pelo mar, de modo a minimizar o seu impacto

ambiental. O tratamento das salmouras precisará de uma avaliação ambiental cuidadosa que permita a

mitigação dos seus potenciais efeitos negativos e proteja, tanto quanto possível, o mar português. Para isso,

pode tomar-se em conta quatro fatores: primeiro, o oceano Atlântico, tendo uma temperatura e teor de sal

menores que o mar Mediterrâneo, levará a uma produção menor de salmouras em relação a muitas das outras

experiências conhecidas; segundo, o oceano Atlântico, com a sua profundidade e correntes fortes, facilita a

dispersão das salmouras na devolução ao mar, devendo ser assegurado que não se concentram de tal modo

Páginas Relacionadas
Página 0008:
II SÉRIE-A — NÚMERO 134 8 recomendar ao Governo que: 1
Pág.Página 8
Página 0009:
22 DE DEZEMBRO DE 2022 9 de estudantes (homens e mulheres) contra esta medida desig
Pág.Página 9
Página 0010:
II SÉRIE-A — NÚMERO 134 10 c) Que, em articulação com a União Europei
Pág.Página 10