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31 DE JANEIRO DE 2023

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profunda. Não há, no entanto, uma proporcionalidade entre a intensidade da dor e a variante da doença. Até à

data, esta doença não tem cura, havendo tratamentos para controlar a dor que pode, em determinadas

situações ser incapacitante. (…)»

Já a adenomiose, segundo a Associação MulherEndo – promotora da Petição n.º 27/XV/1.ª –, «(…) pode

ser focal ou difusa. É considerada uma patologia independente que leva a hemorragias anormais uterinas. É

uma condição ainda muito associada a mulheres com mais de 40 anos de idade que apresentam dores e

hemorragias menstruais abundantes e que viram o seu diagnóstico confirmado após uma histerectomia. No

entanto, cada vez mais mulheres jovens surgem com este diagnóstico após investigação com ecografia

endovaginal e queixas de dor, infertilidade e abortos. O diagnóstico de adenomiose mantém-se ainda assim

dificultado por coexistir com outras patologias como a endometriose ou miomas uterinos.»

Estas são doenças que podem coexistir e que, se não forem devidamente e atempadamente

diagnosticadas, podem tornar-se altamente incapacitantes.

Estima-se que, em Portugal, mais de 230 000 mulheres sofram de endometriose e/ou adenomiose,

afetando cada vez mais mulheres em idade fértil.

Os sintomas podem ser variados, o que dificulta o seu diagnóstico e acresce que persiste um enorme

desconhecimento da sociedade, em geral, relativamente à endometriose e à adenomiose, mesmo junto dos

profissionais de saúde. Ora, este desconhecimento leva a que a maioria das mulheres não saiba identificar os

sintomas, nem os sinais de alerta, adiando, assim, a procura de ajuda especializada. E, mesmo quando o

fazem, o desconhecimento dos profissionais de saúde, nomeadamente nos cuidados de saúde primários, faz

com que, na maioria dos casos, os sintomas sejam desvalorizados e subavaliados, não sendo feito o devido

encaminhamento das doentes para consultas de especialidade. Mais, nos serviços de ginecologia hospitalar o

desconhecimento subsiste, os recursos humanos capacitados para o diagnóstico e tratamento de

endometriose e adenomiose são escassos e, muitas vezes, os equipamentos necessários são inexistentes no

Serviço Nacional de Saúde.

O atraso no diagnóstico da endometriose e/ou adenomiose tem a maior relevância e as suas

consequências verificam-se no (in)sucesso dos tratamentos. Muitas vezes, as mulheres aguardam anos em

sofrimento por um diagnóstico, que, quando finalmente chega, a única alternativa que resta é a cirurgia com

remoção do útero e ovários.

O sofrimento que os sintomas causam a estas mulheres é grande, real e pode ser altamente incapacitante.

Dores, hemorragias abundantes, infeções urinárias, vómitos, cansaço extremo, anemia, são apenas alguns

exemplos de sintomas que são, sistematicamente, desvalorizados pela sociedade em geral e pelos próprios

profissionais de saúde.

Importa recordar e realçar que a maioria das doentes com endometriose e/ou adenomiose está em idade

fértil e, portanto, em idade ativa. Logo, a incapacidade causada pelos sintomas e pelo seu agravamento, em

consequência da falta de diagnóstico e de tratamento, leva ao isolamento social e ao absentismo escolar e

laboral – absentismos estes que não são compreendidos nem, na maioria das vezes, aceites.

Estas doentes sentem-se, assim, isoladas, incompreendidas e sem acesso a qualquer tipo de ajuda. E com

o agravamento da doença, a sua situação clínica pode tornar-se irreversível, sendo que, não raras vezes, se

verificam, como consequências, o comprometimento da função renal, o comprometimento da função intestinal

ou a infertilidade.

As queixas destas mulheres não podem continuar a ser desvalorizadas, pois o impacto desta

desvalorização na vida familiar, social, escolar e laboral pode ser tremendo, assim como ao nível da saúde

mental.

A informação, a formação e a sensibilização da sociedade em geral, da comunidade escolar e dos

profissionais de saúde, para as causas, sintomas e consequências da endometriose e da adenomiose são

determinantes. A consciencialização da sociedade é urgente.

Torna-se, assim, evidente a necessidade de que o Governo promova uma abordagem estratégica e

integrada para a endometriose e adenomiose, com a implementação de medidas concretas que passam,

necessariamente, pela promoção da literacia; por ações de formação junto dos profissionais de saúde,

nomeadamente, dos cuidados de saúde primários; pela sensibilização relativamente aos sintomas e imediato

encaminhamento das doentes para consultas de especialidade para acesso a diagnósticos e tratamentos

precoces; pela constituição de equipas multidisciplinares nos serviços de ginecologia hospitalar; pela emissão

de normas de orientação clínica e de guidelines; pela revisão dos mecanismos e escalões de comparticipação

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