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0270 | II Série B - Número 040 | 26 de Abril de 2003

 

VOTO N.º 58/IX
DE PESAR PELA MORTE DE PEDRO DA SILVEIRA

Calou-se uma das vozes mais críticas do meio cultural português.
Calou-se a voz de Pedro da Silveira.
A morte levou do nosso mundo o seu humor mordaz e o seu sorriso de menino.
Um sorriso de menino que quase nos fazia esquecer os seus 80 anos.
A 5 de Setembro de 1922, Pedro da Silveira nascia no ponto mais ocidental da Europa: a Fajã Grande, na ilha das Flores, nos Açores.
Ali nasceu e cresceu, partindo depois para a Terceira e S. Miguel, e mais tarde para Lisboa, terra que faria sua, onde vivia há 50 anos e onde faleceu no passado dia 13 deste mês.
Pedro da Silveira dedicou à cultura toda a sua vida. Foi poeta, grande divulgador da cultura açoriana, investigador da Biblioteca Nacional e tradutor. A ele se deve a primeira tradução em Portugal de Pablo Neruda. Era senhor de uma memória prodigiosa que fazia dele uma autêntica enciclopédia viva.
Militante anti-fascista, Pedro da Silveira foi um homem rebelde, um espírito indomável. Foi considerado pela imprensa como o último anarquista. Era conhecido como a língua mais viperina de Portugal. Mas talvez esse seu jeito, que a muitos, metia medo, servisse apenas para esconder a ternura do menino que nunca deixou de viver dentro dele.
Menino nos Açores nascido e, por isso, síntese de raízes várias, como a si mesmo tão bem se retratou no seu "Soneto de identidade":

Chamo-me Pedro, sou Silveira e sou
também Mendonça: um tanto duro, como
Pedro é pedra; picante agudo assomo
de silva dos silvedos - não me dou!
Raiz flamenga, já se sabe; e um gomo,
no fruto, castelhano. E assim bem pouco,
pois, que doce me passara à outra
pátria (ou língua?) que me coube e tomo.
Ainda Henriques (alemão? polaco?)
e outros cognomes mais: espelho opaco
de errâncias várias, que mal sei. (Desfaço,
talvez por isso, no que faço.) Ilhéu
da casca até ao cerne - e lá vou eu,
sem ambição maior que o livre Espaço.

Os Deputados eleitos pelo círculo eleitoral dos Açores, abaixo assinados, propõem à Assembleia da República a aprovação deste voto de pesar.

Palácio de São Bento, 24 de Abril de 2003. Os Deputados: Judite Jorge (PSD) - Medeiros Ferreira (PS) - Luiz Fagundes Duarte (PS) - Joaquim Ponte (PSD).

A Divisão de Redacção e Apoio Audiovisual.

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