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10 DE JULHO DE 2010

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Palácio de São Bento, 8 de Julho de 2010.

Os Deputados do PCP: João Oliveira — António Filipe — Miguel Tiago — Francisco Lopes — Paula Santos

— José Soeiro — Bernardino Soares — Bruno Dias — Agostinho Lopes — Honório Novo — Rita Rato.

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VOTO N.O 58/XI (1.ª)

DE PESAR PELO FALECIMENTO DA ESCRITORA MATILDE ROSA ARAÚJO

Matilde Rosa Araújo dedicou-se, ao longo da sua vida, aos problemas da criança e à defesa dos seus

direitos.

Foi autora de alguns volumes sobre a importância da infância na criação literária para adultos, sobre a

importância da literatura infanto-juvenil na formação da criança e sobre a educação do sentimento poético

como mais-valia pedagógica.

Nasceu em Lisboa, em 1921. Licenciou-se em Filologia Românica, pela Faculdade de Letras da

Universidade Clássica de Lisboa. Foi professora do Ensino Técnico Profissional, em Lisboa e noutras cidades

do País, assim como professora do primeiro Curso de Literatura para a Infância, que teve lugar na Escola do

Magistério Primário de Lisboa.

Exerceu a sua actividade profissional, como professora, na cidade do Porto.

Autora de livros de contos e poesia para o mundo adulto e de mais de duas dezenas de livros de contos e

poesia para crianças, a sua obra reflecte uma cidadania activa, empenhada na defesa dos direitos das

crianças, cuja temática centra-se em torno de três grandes eixos de orientação: a infância dourada, a infância

agredida e a infância como projecto.

Recebeu os seguintes prémios no domínio de Literatura para a Infância:

Grande Prémio de Literatura para Criança da Fundação Calouste Gulbenkian, em 1980;

Prémio atribuído pela primeira vez, para o melhor livro estrangeiro (novela O Palhaço Verde), pela

associação Paulista de Críticos de Arte de São Paulo, Brasil, em 1991;

Prémio para o melhor livro para a infância publicado no biénio 1994-1995, pelo livro de poemas As Fadas

Verdes, atribuído pela Fundação Calouste Gulbenkian, em 1996.

Sobre a sua obra, o escritor e crítico literário José António Gomes escreveu: «O Livro da Tila…» — um dos

seus livros mais emblemáticos — «(…) desvela o universo de uma infância, em parte eufórico, feito de

pequenos deslumbramentos perante o mundo e a natureza, expresso ora por um sujeito da enunciação

infantil/juvenil, ora por uma voz adulta que observa o real e as relações que a criança com ele estabelece. Este

universo está presente na restante obra poética de Matilde, atingindo um encanto muito especial em A

Guitarra da Boneca. Este livro revela uma sensibilidade particular relativamente ao mundo infantil, visível no

modo como se apoia em múltiplas referências ao brinquedo e ao jogo simbólico, às histórias tradicionais e às

canções infantis, a lengalengas e outras rimas popularizadas entre as crianças, e a um fascinante mundo de

animais humanizados.

Atento a este imaginário e ao seu potencial poético, às facetas ignoradas mas comoventes da condição

animal, ao pulsar da vida nos mais obscuros recantos naturais, o sujeito poético constrói um universo onírico e

sedutor.

Este parece, por vezes, transportar-nos às origens da vida, reconduzindo-nos à percepção da nossa

condição biológica e humana, num mundo feito à medida dos seres que o habitam, como acontece no poema

A Sombra e em vários momentos de As Fadas Verdes.

Este olhar descobridor, que pesquisa ‗debaixo das sombras, simultaneamente virgem, como o da criança, e

sábio como o de um adulto experimentado e sensível, é o olhar capaz de dar vida às coisas mais banais.

Revela o mistério das coisas e das criaturas, desdobrando-se num conhecimento inteligente sobre a vida, cujo

único segredo é uma atenção apurada ao que os ritmos da desumanização tendem a fazer esquecer».

O País assinala com mágoa a perda da escritora, da cidadã empenhada, a quem a pátria portuguesa e as

crianças em particular muito devem.

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