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5 | II Série B - Número: 073 | 5 de Janeiro de 2013

palavras do próprio Paulo Rocha, eles são os gigantes do mar que o realizador admirava na sua infância: "Para mim, aquilo era um mundo maior que o mundo das cidades, com aqueles homens ruivos, roucos, gigantescos, que pegavam naqueles rolos de madeira e naqueles remos pesadíssimos como se nada fosse..., gritando juras, insultos, numa cantilena sem fim. A miséria era medonha, com as crianças raquíticas, comidas pelas moscas e pelas pulgas, os pais encharcados de aguardente, mas eu não a queria ver. Eles, os do mar, eram os gigantes, nós, a gente do interior, os anões".
Paulo Rocha é também um realizador de atrizes. A ele se deve a revelação da jovem Isabel Ruth que "parecia uma chama a arder", dizia, e uma das atuações mais marcantes no cinema de Maria de Jesus Barroso que convidara pela sua "coragem moral e física, uma certa integridade combativa, aliada à inteligência e à ausência de auto-piedade que projectava na vida".
Em 1971, participa na fundação da Escola Piloto para a Formação de Profissionais de Cinema que viria depois a ser a Escola de Cinema.
Em 1973 e 1974, Paulo Rocha dirige o Centro Português de Cinema e entre 1975 e 1983 é adido Cultural da Embaixada de Portugal em Tóquio.
Durante esses anos, para além de estudar em profundidade a língua e cultura japonesa, Paulo Rocha dedica-se ao estudo da vida e obra de Venceslau de Moraes. A Ilha dos Amores, presente no Festival de Cannes em 1982, é uma homenagem ao cinema japonês que tanto admirava sob forma de biografia do escritor e militar da Marinha Portuguesa.
Paulo Rocha nunca temeu procurar correspondências entre géneros e sempre procurou com a liberdade dos criadores, encontrar na história respostas para as interrogações do presente.
O filme O Desejado, em 1988, é simultaneamente inspirado em Dit du Genji, clássico da literatura japonesa e uma tomada de posição sobre a evolução politica de Portugal, desde a revolução de Abril, passando pela descolonização até à entrada no espaço europeu.
No filme que faz sobre Amadeu de Sousa Cardozo, Paulo Rocha pode, por fim, dar corpo ao que chama de "contaminação modernista", o seu gosto pela "colagem" entre materiais diferentes a priori impensável no cinema.
O mesmo acontecendo com Rio do Ouro em 1998. Regressa ao rio Douro e à cidade da sua infância, para nos contar um melodrama e, nas palavras do crítico Mário Jorge Torres, uma "surreal sinfonia de sons e cores com personagens que voam para, como na pintura de Marc Chagall, unir o real mais violento ao onirismo mais poético".
É esta capacidade de concretizar "o habitar poeticamente a Terra" defendida por Kenji Mizogushi que tanto admirava, que Paulo Rocha transmite a toda uma nova geração de cineasta portugueses como Pedro Costa, Joaquim Sapinho, João Pedro Rodrigues ou João Salaviza, entre outros.
Paulo Rocha era um espirito livre e rigoroso, tinha um humor mordaz, e como ambição amar a vida – que se confundia com o cinema – até na tragédia que sempre espreita no gesto mais quotidiano.
A Assembleia da República, reunida em Plenário, manifesta o seu pesar pelo falecimento de um cineasta maior e apresenta a toda a sua família e amigos as suas sinceras condolências.

Assembleia da República, 4 de janeiro de 2013.
Os Deputados: Inês de Medeiros (PS) — António Braga (PS) — Jorge Lacão (PS) — Maria de Belém Roseira (PS) — Miguel Laranjeiro (PS) — Ferro Rodrigues (PS) — Carlos Zorrinho (PS) — José Lello (PS) — Heloísa Apolónia (PEV) — Odete João (PS) — Maria Gabriela Canavilhas (PS) — Nuno Magalhães (CDS-PP) — Maria Conceição Pereira (PSD) — João Pinho de Almeida (CDS-PP) — Miguel Tiago (PCP) — João Oliveira (PCP) — Carlos Enes (PS) — Ana Drago (BE) — Catarina Martins (BE) — Alberto Martins (PS).
A DIVISÃO DE REDAÇÃO E APOIO AUDIOVISUAL.

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