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II SÉRIE-B — NÚMERO 14

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foi consagrada com a concessão de uma bolsa de estudo atribuída pela Fundação Calouste Gulbenkian.

Deste modo, pôde realizar uma longa viagem por Itália que lhe proporcionou o contacto com uma nova cultura

arquitetónica e o conhecimento de algumas figuras importantes desse movimento. Visitou museus, reparou

com particular interesse na nova museologia e chegou a frequentar a Faculdade de Arquitetura de Roma.

Duas das suas primeiras obras, que suscitaram de imediato reconhecimento internacional, refletem a

inspiração suscitada por esta viagem seminal: a Pousada de D. Diniz, em Vila Nova de Cerveira, e o Museu

Amadeo de Sousa-Cardozo, em Amarante, ambas realizadas nos anos setenta. Na década de oitenta,

projetou os novos Paços do Concelho de Matosinhos, edifício imediatamente percebido como um lugar icónico

do novo poder local autónomo e antecipadamente pensado pelo seu autor como a representação ideal das

aspirações democráticas nascentes. Recordemos as palavras que, a esse propósito, proferiu alguns anos

depois: «O edifício pretende potenciar e determinar aquilo que é o poder autárquico, era coisa que não existia.

Pretendia ter uma imagem forte, que afirmasse esse governo enquanto poder. A sala da Assembleia Municipal

é completamente aberta. Há transparência nos gabinetes. É uma visão aberta. Essa era a minha intenção.

Estava cheia de peculiaridades que procuram desmistificar as ideias de poder recebidas da ditadura».

Autor de muitos projetos, desde escolas superiores a museus, passando por múltiplas casas familiares e

intervenções no espaço público, Alcino Soutinho gostava de salientar o trabalho que, durante anos, levou a

cabo na Federação das Caixas de Previdência na área da habitação económica e, ainda, a participação que

teve logo após o 25 de Abril no serviço ambulatório de apoio local, emblemático programa que, entre 1974 e

1976, desenvolveu por todo o País ações de renovação urbana destinadas a mitigar as graves carências

habitacionais de que as classes populares da sociedade portuguesa padeciam.

Homem de profundas convicções democráticas e lutador antifascista foi um criador livre, sem nunca deixar

de ser um cidadão comprometido. Ingressou no MUD juvenil no ano em que entrou para a Escola Superior de

Belas Artes do Porto e, como consequência da sua intervenção cívica, foi preso, tendo passado sete meses na

cadeia. Foi julgado no Tribunal Plenário do Porto, em 1957, conjuntamente com figuras como Agostinho Neto,

Ângelo Veloso, Óscar Lopes, José Augusto Seabra, Paulo Mendo, Pedro Ramos de Almeida, Luís Carvalho,

Fernando Fernandes, João Teixeira Lopes, Hernâni Silva, entre muitos outros, naquele que ficou conhecido

como o processo dos 52, e que adquiriu alcance internacional tendo suscitado a expressa solidariedade de

vários intelectuais europeus, como foi o caso de Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir. Homem de causas,

vinculado aos valores fundadores da modernidade europeia e às suas correlativas exigências políticas,

participou no debate público e democrático com a sua condição de espírito inquieto e livre. Com a sua morte a

sociedade portuguesa perde um dos seus grandes criadores, figura de referência da chamada Escola do Porto

de Arquitetura e um cidadão exemplar.

A Assembleia da República, reunida em Plenário, evoca a morte de Alcino Soutinho e apresenta à família

as suas mais sinceras condolências.

Assembleia da República, 28 de novembro de 2013.

Os Deputados, João Oliveira (PCP) — Jorge Machado (PCP) — Luísa Salgueiro (PS) — Paula Baptista

(PCP) — José Luís Ferreira (Os Verdes) — Pedro Filipe Soares (BE) — Mariana Aiveca (BE) — Inês de

Medeiros (PS) — Conceição Bessa Ruão (PSD) — Rosa Arezes (PSD) — Nuno Magalhães (CDS-PP) —

Michael Seufert (CDS-PP) — Heloísa Apolónia (Os Verdes) — António Braga (PS) — Francisco de Assis (PS)

— Ana Paula Vitorino (PS) — Eduardo Cabrita (PS) — Hortense Martins (PS) — Acácio Pinto (PS) — Teresa

Caeiro (CDS-PP) — Maria Manuela Tender (PSD).

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