O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

11 DE ABRIL DE 2015

3

Pirandello e o crítico francês Émile Vuillermoz que, pelo contrário, admiram a mestria do jovem cineasta.

Pirandello chega mesmo a dizer, a ironizar à saída, que não sabia que em Portugal se aplaudia com os pés.

Esta estreia é de certo modo premonitória da duplicidade que, como bem escreve o crítico Sérgio Andrade,

acompanhará toda a carreira do realizador: «a desatenção e até algum desprezo por parte das plateias em

Portugal, o aplauso e a progressiva reverência no estrangeiro, principalmente em França e em Itália».

Com 20 anos, Manoel de Oliveira inscreve-se na Escola de Atores de Cinema, fundada por Rino Lupi, tendo,

em 1933, participado como ator em A Canção de Lisboa, de Cottinelli Telmo, um dos primeiros filmes sonoros

portugueses.

Se desde muito cedo o cinema se impõe quase como uma inevitabilidade ao jovem boémio Manoel Oliveira,

este distingue-se também como desportista, tendo sido campeão nacional de salto à vara, atleta do Sport Club

do Porto e corredor de automóveis.

Em 1942, Manoel de Oliveira filma a sua primeira longa-metragem Aniki Bobó, retrato da infância no ambiente

cru e pobre da Ribeira do Porto. O filme é um fracasso comercial em Portugal mas, mais uma vez, atrai as

atenções de comentadores internacionais, que consideram o realizador um percursor do neorrealismo no cinema

por relatar, com delicadeza e humor, o confronto das classes sociais presente até ao nível das crianças. Aniki

Bobó é hoje um dos filmes mais icónicos da sua carreira e do cinema português.

Nos inícios dos anos 60, o realizador consegue, finalmente, um apoio institucional para a produção de dois

filmes: o Acto da Primavera, em 1962, e A Caça, em 1963.

Após uma projeção do Acto da Primavera, registo pessoal e inesperado de uma representação popular da

Paixão de Cristo, Manoel de Oliveira é detido pela PIDE e passa 10 dias no Aljube.

São necessários quase 10 anos para que Manoel de Oliveira possa voltar a filmar, regressando à ficção com

o Passado e o Presente, uma sátira da sociedade burguesa portuguesa em 1971 e, a partir de 1975, o ritmo

com que filma acelera-se vertiginosamente, como que para recuperar as três décadas perdidas.

Manoel de Oliveira é o realizador da palavra, não só pela recorrente adaptação de romances de grandes

autores, com destaque para a colaboração com Agustina Bessa-Luís, mas também pela forma como a filma e

como lhe dá a primazia no grande palco da vida que é o cinema.

Ao todo realizou mais de 50 filmes, entre eles: Benilde ou a Virgem Mãe, Francisca, Non ou a Vã Glória de

Mandar, A Divina Comédia, Vale Abraão e, mais recentemente, O Estranho Caso de Angélica e O Gebo e a

Sombra.

Além do grupo de atores que lhe permaneceram fiéis e o acompanharam nos últimos 30 anos de carreira,

como Luís Miguel Cintra, Diogo Dória ou Leonor Silveira, entre muitos outros, Manoel de Oliveira trabalhou com

grandes figuras do cinema mundial, como Marcello Mastroianni, Catherine Deneuve, Michel Piccoli ou John

Malkovich.

Foi distinguido com os mais prestigiados prémios nacionais e internacionais, nomeadamente, com a Palma

de Ouro de Carreira no Festival Internacional de Cannes, na Bienal de Veneza com o Leão de Ouro, no Festival

de Cinema Ibero-Americano, nos Globos de Ouro da Associação da Imprensa Estrangeira em Hollywood, no

Festival de Montreal, no Festival Internacional do Cinema de Tóquio, no Festival de Cinema de Berlim, no

Fantasporto, no Festival Internacional da Figueira da Foz, entre muitos outros.

Ao longo da carreira recebeu várias condecorações, como seja, a de Comendador da Ordem Militar de

Sant’Iago da Espada, a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, a Grã-Cruz da Ordem do Infante D.

Henrique, tendo sido a última a da Legião de Honra francesa, atribuída no ano passado.

Considerava que ‘o cinema, aliás como todas as artes, só serve para reproduzir a vida’. Por isso, durante os

80 anos de carreira, Manoel de Oliveira procurou contar toda a complexidade da vida, onde se cruzam os

sentimentos e as paixões que ditam a nossa história individual e coletiva, nas conquistas e nas derrotas. Mas

queria fazê-lo de forma simples, pois considerava que ‘ser simples quer também dizer ser claro, e ser claro é

trazer à superfície o que é mais profundo’.

Contrariamente ao que muitas vezes se afirmou e apesar do reconhecimento internacional, Manoel de

Oliveira sempre sofreu com a pouca visibilidade da sua obra em Portugal. Nunca perdia uma oportunidade para

o afirmar. Aquando da celebração dos seus 100 anos, lamentava que se falasse mais da sua idade do que dos

Páginas Relacionadas
Página 0011:
11 DE ABRIL DE 2015 11 PETIÇÃO N.º 487/XII (4.ª) APRESENTADA POR DUAR
Pág.Página 11