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21 DE NOVEMBRO DE 2020

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PROJETO DE VOTO N.º 401/XIV/2.ª

DE PESAR PELO FALECIMENTO DE GONÇALO RIBEIRO TELLES

Faleceu, no passado dia 11 de novembro, Gonçalo Ribeiro Telles, aos 98 anos.

Nascido a 25 de maio de 1922, viria a formar-se em Agronomia e em Arquitetura Paisagista em 1950, no

Instituto Superior de Agronomia, cedo marcando com o seu traço a cidade de Lisboa que o viu nascer.

Discípulo de Francisco Caldeira Cabral, foi um eminente professor universitário, consolidando em Portugal a

escola de arquitetura paisagista, cuja primeira licenciatura viria a fundar em 1976, na Universidade de Évora.

Cidadão inquieto e interventivo, manteve a sua ação centrada na harmonia da Natureza e na defesa da

dignidade da pessoa humana, inaugurando, em Portugal, o discurso ecológico, pioneiro e tolerante.

Monárquico e democrata, foi candidato à Assembleia Nacional pelos Monárquicos Independentes em 1950

e em 1957, e pela Comissão Eleitoral de Unidade Democrática em 1961. Fundador do Partido Popular

Monárquico em 1974, em representação do qual integra os I, II e III Governos Provisórios, como Subsecretário

de Estado do Ambiente, e o I Governo Constitucional, liderado por Mário Soares, como Secretário de Estado

da mesma pasta.

Depois de, em novembro de 1967, no rescaldo das grandes cheias de Lisboa, Gonçalo Ribeiro Telles ter

aparecido nos ecrãs televisivos, insurgindo-se contra a tragédia que tantas vidas ceifou – e que o regime quis

esconder – e apontando o desordenamento como causa direta do sucedido, leva o seu ativismo e as suas

causas à ação política. São marcas da sua passagem pelo Governo as bases de uma política nacional de

ambiente e ordenamento do território e a criação do Serviço Nacional de Parques, Reservas e Património

Paisagístico, que permitiu a existência em Portugal de uma rede de espaços especialmente vocacionados

para a conservação da natureza.

É intensa a atividade que inicia. Integrando a Aliança Democrática em 1979 ao lado de Francisco Sá

Carneiro e Diogo Freitas do Amaral, é por esta eleito para a Assembleia da República nesse mesmo ano, e,

novamente, em 1980 e em 1983. No Parlamento, participa na preparação de leis estruturantes, como a Lei de

Bases do Ambiente, as Leis da Regionalização, do Impacte Ambiental, Condicionante da Plantação de

Eucaliptos, dos Baldios ou a Lei da Caça.

Entre 1981 e 1983, integra o VIII Governo Constitucional, liderado por Francisco Pinto Balsemão, como

Ministro de Estado e da Qualidade de Vida.

Afastado do Partido Popular Monárquico, regressa à Assembleia da República em 1985, como Deputado

Independente eleito nas listas do Partido Socialista. Ainda em 1985, é eleito Vereador da Câmara Municipal de

Lisboa pelo Movimento Alfacinha, por ele fundado. Anos mais tarde, em 1993, funda o Movimento Partido da

Terra.

É imenso o legado de 98 anos de uma vida intensa, na sua cidade de Lisboa e no País que tanto o

admirava. A assinatura do Mester da Paisagem está um pouco por todo o lado, do jardim ao território,

assumindo diversas escalas: do Jardim-Promontório da Capela de São Jerónimo (o seu favorito) à

remodelação da Avenida da Liberdade e do Alto do Parque Eduardo VII, passando pela Mata de Alvalade,

pelos Jardins da Fundação Calouste Gulbenkian (com António Viana Barreto) ou pelo Plano Verde de Lisboa e

os corredores ecológicos que lhe estão subjacentes. Uma boa cidade, como defendia Ribeiro Telles, é a

cidade que é trespassada pelo campo.

Foi graças ao Arquiteto Gonçalo Ribeiro Telles que, em Portugal, se começou a ouvir falar de paisagismo,

de estrutura verde, de corredores ecológicos – ainda nos anos 50 e 60, muito antes destes temas se tornarem

correntes, visionário que era e sempre foi. É graças à sua influência que Portugal dispõe hoje de uma rede de

áreas dedicadas à salvaguarda da estrutura ecológica e à proteção de solos – a Reserva Ecológica Nacional e

a Reserva Agrícola Nacional.

Em 2013 foi reconhecido com o Prémio Sir Geoffrey Jellicoe, o mais prestigiado galardão da arquitetura

paisagista, atribuído pela Federação Internacional dos Arquitetos Paisagistas. Em Portugal, foram inúmeras as

homenagens que recebeu, destacando-se a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo (1988) — a Grã-Cruz da

Ordem da Liberdade (1990) e, mais recentemente, a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique (2017).

Ausente da vida pública há alguns anos, o seu desaparecimento constitui uma grande perda para Portugal,

que tinha em Gonçalo Ribeiro Telles uma das suas grandes e unânimes referências – eternizada que ficará na

nossa memória coletiva como um acérrimo defensor da relação entre o campo e a cidade, da natureza e da

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