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Terça-feira, 16 de janeiro de 2021 II Série-B — Número 23

XIV LEGISLATURA 2.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2020-2021)

S U M Á R I O

Votos (n.os 2 a 4/2021): N.º 2/2021 — De pesar pelo falecimento de Carlos do Carmo.

N.º 3/2021 — De pesar pelo falecimento de João Cutileiro.

N.º 4/2021 — De saudação pelo Dia Internacional das Migrações. Projetos de Voto (n.os 438 a 440/XIV/2.ª): N.º 438/XIV/2.ª (BE) — De condenação pelos ataques à democracia nos EUA.

N.º 439/XIV/2.ª (CDS-PP) — De condenação pela invasão do Capitólio durante a sessão de validação das eleições presidenciais.

N.º 440/XIV/2.ª (Comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas) — De condenação pela invasão do Capitólio e o ataque contra a democracia nos Estados Unidos da América. Petições (n.os 140 e 166/XIV/2.ª): N.º 140/XIV/2.ª (Preservar a serra de Carnaxide):

— Relatório final da Comissão de Ambiente, Energia e Ordenamento do Território.

N.º 166/XIV/2.ª (Maria José das Neves Fernandes Silva e outros) — Petição contra barragem Vale das Botas, no rio Alva.

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VOTO N.º 2/2021 DE PESAR PELO FALECIMENTO DE CARLOS DO CARMO

A Assembleia da República, reunida em Sessão Plenária, manifesta o seu profundo pesar pelo falecimento

de Carlos do Carmo, figura fundamental do fado e da canção portuguesa, prestando homenagem ao homem e

ao artista e transmitindo à sua família e amigos as mais sentidas condolências.

Aprovado em 8 de janeiro de 2021.

O Presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues.

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VOTO N.º 3/2021 DE PESAR PELO FALECIMENTO DE JOÃO CUTILEIRO

A Assembleia da República, reunida em Sessão Plenária, expressa o seu profundo pesar pelo falecimento

de João Cutileiro, transmitindo à sua Família e Amigos as mais sentidas condolências.

Aprovado em 8 de janeiro de 2021.

O Presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues.

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VOTO N.º 4/2021 DE SAUDAÇÃO PELO DIA INTERNACIONAL DAS MIGRAÇÕES

No Dia Internacional das Migrações, saudamos o contributo das pessoas migrantes e sublinhamos a urgência

de políticas migratórias que tenham no centro a defesa da dignidade e dos direitos das pessoas migrantes,

combatendo as suas vulnerabilidades.

Aprovado em 8 de janeiro de 2021.

O Presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues.

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PROJETO DE VOTO N.º 438/XIV/2.ª DE CONDENAÇÃO PELOS ATAQUES À DEMOCRACIA NOS EUA

As imagens da invasão dos apoiantes de Donald Trump ao Capitólio, onde o Congresso estava reunido para

ratificar o resultado do Colégio Eleitoral e certificar a vitória eleitoral a Joe Biden, farão perdurar no tempo aquele

que foi um dos momentos mais sombrios da história recente da democracia nos EUA.

Após o ainda presidente americano ter declarado num comício em Washington D.C., uma vez mais e contra

todas as evidências, que as eleições presidenciais teriam sido fraudulentas, centenas dos seus apoiantes

dirigiram-se ao Capitólio, agredindo com extrema violência quem atravessasse o seu caminho, conseguindo

passar as barreiras de segurança e entrar no edifício, e assumido brevemente o controlo da Câmara do Senado.

Este evento, que culminou na morte de 5 pessoas, não só é fruto do contínuo incentivo à sedição por parte

de Donald Trump, mas também uma consequência expectável daquela que tem sido uma profunda

normalização e legitimação da extrema-direita, de quem fomenta a divisão e o ódio, e de quem tem tentado

minar a democracia nos últimos anos.

Os democratas não podem ficar indiferentes a esta tentativa de calar a voz de um povo legitimamente

expressa nas urnas. De outro modo, normalizar-se-iam os atos absolutamente inaceitáveis promovidos pela

extrema-direita e que espreitam já noutros países.

Assim, a Assembleia da República, reunida em sessão plenária, condena os ataques perpetrados por

apoiantes de Donald Trump contra as instituições democráticas dos Estados Unidos da América e transmite a

sua solidariedade para com o povo norte-americano e com todos os que exigem a salvaguarda da democracia

e da justiça social naquele país.

Assembleia da República, 11 de janeiro de 2021.

As Deputadas e os Deputados do BE: Pedro Filipe Soares — Alexandra Vieira — Mariana Mortágua — Jorge

Costa — Beatriz Gomes Dias — Fabíola Cardoso — Isabel Pires — Joana Mortágua — João Vasconcelos —

José Manuel Pureza — José Maria Cardoso — José Moura Soeiro — Luís Monteiro — Manuel Azenha — Maria

Manuel Rola — Moisés Ferreira — Nelson Peralta — Sandra Cunha — Catarina Martins.

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PROJETO DE VOTO N.º 439/XIV/2.ª DE CONDENAÇÃO PELA INVASÃO DO CAPITÓLIO DURANTE A SESSÃO DE VALIDAÇÃO DAS

ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS

No passado dia 6 de janeiro o Capitólio, sede do Congresso dos Estados Unidos da América, que engloba

as duas câmaras legislativas, Senado e Câmara dos Representantes, foi atacado e invadido por milhares de

manifestantes, durante a sessão para confirmar a vitória de Joe Biden na eleição presidencial.

Esta invasão ocorreu na sequência de um comício onde o presidente cessante proferiu frases como «Eu

estarei com vocês. Vamos andar até o Capitólio» ou «Nós vamos parar com o roubo».

Conforme foi amplamente divulgado em todo o mundo, inclusive pelas imagens partilhadas pelos assaltantes

que protagonizaram este ataque, estes entraram à força no Capitólio, ocuparam gabinetes de congressistas,

nomeadamente o da presidente da Câmara dos Representantes e a própria cadeira do presidente do Senado e

vandalizaram diversas estruturas, sabendo-se ainda que existiam engenhos explosivos.

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Esta invasão provocou também 5 mortes, do agente da Polícia do Capitólio Brian Sicknick, que morreu devido

a ferimentos sofridos durante o serviço, e de 4 manifestantes.

Este é um ato, que indigna todos os democratas, pois ataca a sede da democracia americana. Acresce o

facto de ter sido durante a validação das eleições presidenciais.

Este ataque mereceu rápida censura e condenação de todos os quadrantes políticos americanos, sendo de

destacar a de todos os ex-presidentes norte-americanos ainda vivos e diversos senadores e congressistas, entre

os quais muitos republicanos, realçando-se Mitt Romney, Tom Cotton, Richard Burr, ou Adam Kinzinger.

Perante acontecimentos como este, todos os democratas devem manifestar veementemente a sua

condenação.

Pelo exposto, a Assembleia da República condena a invasão do Capitólio durante a sessão de validação das

eleições presidenciais e solidariza-se com os representantes do povo americano.

Assembleia da República, 11 de janeiro de 2021.

Os Deputados do CDS-PP: Telmo Correia — Cecília Meireles — João Pinho de Almeida — Ana Rita Bessa

— João Gonçalves Pereira.

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PROJETO DE VOTO N.º 440/XIV/2.ª DE CONDENAÇÃO PELA INVASÃO DO CAPITÓLIO E O ATAQUE CONTRA A DEMOCRACIA NOS

ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

No passado dia 6 de janeiro, o Capitólio, a sede do Congresso dos Estados Unidos da América, englobando

o Senado e a Câmara dos Representantes, foi atacado e invadido por milhares de manifestantes, durante a

sessão de confirmação dos resultados eleitorais, que determinaram Joe Biden como presidente dos Estados

Unidos da América.

Esta invasão, amplamente difundida nos media, ocorreu na sequência de um comício onde o presidente

cessante, instigando os presentes, proferiu frases como «Eu estarei com vocês. Vamos andar até o Capitólio»

ou «Nós vamos parar com o roubo», e assinala um dos momentos mais sombrios da história recente da

democracia norte-americana.

Forçando a entrada no Capitólio, os insurretos ocuparam gabinetes de congressistas, nomeadamente o da

presidente da Câmara dos Representantes e a própria cadeira do presidente do Senado, tendo vandalizado

diversas estruturas. Da invasão resultaram 5 mortes, entre as quais a de um agente da Polícia do Capitólio,

ferido durante a ocorrência, sabendo-se, ainda, que se encontravam preparados no local engenhos explosivos.

Este ataque, prontamente condenado por todos os ex-presidentes norte-americanos ainda vivos e diversos

senadores e congressistas, incluindo do partido republicano, é um ato que, pela sua natureza e impacto sobre

a instituição parlamentar, deve indignar todos os democratas, obrigando a uma previdente reflexão sobre

fenómenos de intolerância e populismo que disruptivamente ameaçam estender-se a outras paragens,

contaminando o funcionamento das democracias.

Assim, a Assembleia da República, reunida em sessão plenária, condena a invasão do Capitólio durante a

sessão de validação das eleições presidenciais e solidariza-se com os seus parlamentares e funcionários,

sublinhando a permanente necessidade de defender e salvaguardar o pleno funcionamento da instituição

parlamentar democrática.

Os Deputados da Comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas.

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Outros subscritores: Susana Correia (PS) — Francisco Rocha (PS) — Sara Madruga da Costa (PSD) —

Cristina Jesus (PS).

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PETIÇÃO N.º 140/XIV/2.ª (PRESERVAR A SERRA DE CARNAXIDE)

Relatório final da Comissão de Ambiente, Energia e Ordenamento do Território

ÍNDICE

I – Nota prévia

II – Objeto da petição

III – Análise da petição

IV – Diligências efetuadas pela comissão

V – Opinião do relator

VI – Conclusões

I – NOTA PRÉVIA

A Petição n.º 140/XIV/2.ª, cujo 1.º peticionário é Daniel José Henriques Martins, é subscrita por 5031

peticionários.

Ao abrigo do artigo 9.º, da Lei n.º 43/90, de 10 de agosto, deu entrada na Assembleia da República a 15 de

setembro de 2020 e baixou à Comissão de Ambiente, Energia e Ordenamento do Território, para apreciação,

por despacho da Sr.ª Vice-Presidente da Assembleia da República, Deputada Edite Estrela, datado de 4 de

novembro de 2020.

Na reunião ordinária da Comissão, realizada no dia 2 de dezembro, após apreciação da respetiva Nota de

Admissibilidade, a presente petição foi admitida e posteriormente nomeado como Relator o Deputado ora

signatário para a elaboração do presente relatório.

A audição dos peticionários, obrigatória nos termos do n.º 1, do artigo 21.º, da Lei de Exercício do Direito de

Petição, realizou-se no dia 10 de dezembro, tendo sido detalhados os motivos da apresentação da Petição em

apreço.

II – OBJETO DA PETIÇÃO

Os 5031 subscritores da presente Petição manifestam-se no sentido de «Preservar a Serra de Carnaxide».

Para os peticionários, a Serra de Carnaxide é «uma zona verde ímpar» da Área Metropolitana de Lisboa cujo

património natural, nas componentes edáfica, hídrica e biodiversidade, deve ser preservado. Além dos valores

naturais, os signatários destacam o aqueduto de Carnaxide e o aqueduto das Francesas, bem como estruturas

associadas, enquanto património arquitetónico classificado que urge proteger.

As ameaças ao património da Serra de Carnaxide, segundo os peticionários, decorrem de projetos de

urbanização em curso ou em fase de planeamento. Consideram que «a sua implementação iria destruir a Serra,

causando impactos significativos a curto, médio, e longo prazo, tanto para as populações como para o ambiente,

o qual integra interessantes dimensões a nível de solos, água, flora e fauna, além de património arquitetónico

classificado».

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Lembrando os compromissos internacionais que vinculam Portugal em matéria de sustentabilidade, os

subscritores da petição reivindicam «uma nova gestão do território da Serra de Carnaxide», reclamando

«soluções inovadoras para uma gestão integrada e sustentável do património natural e arquitetónico da Serra

de Carnaxide, reconhecendo e tirando partido do seu imenso valor ambiental e socioeconómico, além de turístico

e lazer, para as populações e municípios.»

Como tal, solicitam «aos Deputados ações para um plano de preservação, gestão e usufruto por todos nós

do valioso património que é a Serra de Carnaxide.»

III – ANÁLISE DA PETIÇÃO

De acordo com a nota de admissibilidade:

• A Petição está dirigida à Assembleia da República, em cumprimento do disposto no n.º 1, do artigo 17.º,

da Lei do Exercício do Direito de Petição (LDP), aprovado pela Lei n.º 43/90, de 10 de agosto (na redação da

Lei n.º 6/93, de 1 de março, da Lei n.º 15/2003, de 4 de junho, da Lei n.º 45/2007, de 24 de agosto, da Lei n.º

51/2017, de 13 de julho, e da Lei n.º 63/2020, de 29 de outubro);

• O objeto da Petição está especificado, o texto é inteligível e os peticionários encontram-se corretamente

identificados;

• Mostram-se genericamente presentes os demais requisitos formais e de tramitação constantes dos artigos

9.º e 17.º, da LDP;

• Considera-se não existirem quaisquer dos fundamentos previstos no artigo 12.º, da LDP, para o

indeferimento liminar da Petição, pelo que se propõe a sua admissão.

A nota de admissibilidadedatavaa entrada da Petição na Assembleia da República no dia seguinte à entrada em vigor da Lei n.º 63/2020 – que ocorreu a 30 de outubro, nos termos do disposto no artigo 5.º –, referindo, por

isso, que são aplicáveis as alterações introduzidas por aquele diploma.

A data de entrada da petição foi, entretanto, corrigida, a 3 de dezembro de 2020, em resultado do provimento

de uma reclamação dos peticionários, pelo que o regime aplicável será ainda o que resulta da versão anterior

da LDP.

Assim, ao abrigo da alínea a) do n.º 1 do artigo 24.º da LDP, será, ainda obrigatória a sua apreciação em

Plenário, em virtude de a mesma, ter sido subscrita por mais de 4000 cidadãos.

IV – DILIGÊNCIAS EFETUADAS PELA COMISSÃO

No dia 10 de dezembro realizou-se a audição de peticionários da Petição n.º 140/XIV/2.ª, representados pela

Senhora Ana Estela Barbosa e pelos Senhores Filipe Duarte Santos, Daniel Martins e Jorge Marques.

Para além do relator da presente petição, Sr. Deputado Nelson Peralta, estiveram presentes as Sr.as

Deputadas Alexandra Tavares de Moura (PS), Alma Rivera (PCP), Filipa Roseta (PSD), Mariana Silva (PEV) e

Raquel Ferreira (PS), e os Srs. Deputados João Gomes Marques (PSD), João Miguel Nicolau (PS) e João Moura

(PSD).

Na condução dos trabalhos, o relator explicou os procedimentos relativos à audição e seguidamente deu a

palavra aos peticionários.

A primeira intervenção coube ao Sr. Daniel Martins que destacou o apoio de investigadores da área do

ambiente, da saúde e das ciências sociais, bem como da população, à presente petição. Posteriormente, entre

outros aspetos, destacou:

• A relevância da serra de Carnaxide enquanto espaço verde raro na Área Metropolitana de lisboa, área na

qual, disse, vive cerca de um terço da população portuguesa;

• A necessidade de preservação da fauna, da flora, dos solos e dos recursos hídricos da serra de Carnaxide,

bem como do seu património arquitetónico e paisagístico;

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• A necessidade de colaboração entre os municípios para a elaboração de um plano integrado para toda a

área da serra de Carnaxide que tire partido de todas as valências ali existentes;

• A importância de ser criado um estatuto de proteção supramunicipal para a serra de Carnaxide.

De seguida interveio a Sr.ª Ana Estela Barbosa que começou por referir a visão estratégia para o Plano de

Recuperação Económica de Portugal 2020 – 2030 no que respeita à promoção da sustentabilidade, à proteção

da biodiversidade e à valorização do capital natural. Entre outras questões, fez notar que:

• A proteção da serra de Carnaxide deve ser uma prioridade;

• É necessário um enquadramento legal para proteger o território da serra e o seu património;

• Existe hoje um maior alinhamento com as políticas comunitárias que promovem novas abordagens

políticas e de decisão através da integração de conhecimento científico.

Seguidamente usou da palavra o Sr. Filipe Duarte Santos que, entre outros aspetos, salientou que:

• A impermeabilização do terreno da serra de Carnaxide, causada pela crescente urbanização, aumenta o

risco de ocorrência de cheias, risco já de si elevado devido aos efeitos das alterações climáticas;

• Existem estudos que confirmam o contributo positivo das zonas verdes, inseridas em meio urbano e onde

se pode praticar desporto e usufruir da natureza, para a saúde pública e qualidade de vida;

• As zonas verdes ajudam a mitigar os efeitos da poluição atmosférica;

• O Governo deveria criar um estatuto especial para a serra de Carnaxide, com o acordo dos municípios

que têm fronteira comum naquele espaço;

• Alguns dos municípios começam a estar mobilizados para a necessidade de não se aumentar a área de

construção na serra de Carnaxide.

Por último, em representação dos peticionários, estava prevista a intervenção do Sr. Jorge Marques que,

pela impossibilidade de aceder à audição por videoconferência, fez chegar à Comissão um documento escrito

no qual, de entre outras afirmações, se salienta:

• «Na última avaliação do estado da natureza, a União Europeia destaca que as espécies e os habitats

protegidos continuam em declínio devido à agricultura intensiva e urbanização, entre outros fatores.»

• «No relatório técnico da Agência Europeia do Ambiente é evidenciado a insuficiência das proteções dos

habitats e para além do Programa Life e a Rede Natura 2000 considera a necessidade imperiosa de ser

consideravelmente alargadas essas proteções.»

• «Portugal está atrasado no trabalho a fazer e por isso pedimos o empenho dos Srs. Deputados.»

• «Há instrumentos ao dispor, entre outros, como o PNPOT – Programa Nacional da Política de

Ordenamento do Território, para auxiliar o muito trabalho a fazer.»

De seguida, usaram da palavra:

A Sr.ª Deputada Alexandra Tavares de Moura (PS) que cumprimentou e agradeceu aos subscritores da

presente petição por colocarem à apreciação da Assembleia da República as questões que entendem ser

pertinentes sobre a preservação da serra de Carnaxide.

Destacou a importância do poder local democrático no desenvolvimento dos territórios, afirmando que as

câmaras municipais e as juntas de freguesia caminham lado-a-lado com o poder central com o objetivo de

construírem um território coeso e que respeita a sua história. Entende que é neste contexto que deve ser

abordada a questão da serra de Carnaxide.

Salientou que a Constituição da República Portuguesa dá às autarquias a autonomia necessária para

executarem o planeamento do território e que, por isso, é expectável que as autarquias procurem harmonizar

as suas opções urbanísticas com o desenvolvimento do território.

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Entende que cabe aos órgãos autárquicos garantir a proteção, reabilitação, valorização e fruição da serra de

Carnaxide, discutindo, analisando e decidindo sobre os seus territórios, corrigindo os caminhos traçados se

assim considerarem necessário.

Terminou referindo que o Grupo Parlamentar do Partido Socialista acompanhará este assunto, respeitando

os posicionamentos das autarquias envolvidas e articulando-o com os objetivos da Agenda 2030.

A Sr.ª Deputada Filipa Roseta (PSD) começou por agradecer esta iniciativa dos peticionários e concordou

com a necessidade de se proteger a serra de Carnaxide.

Disse que este assunto deve ser discutido pelos municípios e que já existem instrumentos de proteção

previstos nos planos diretores municipais.

Defendeu a necessidade de existir uma articulação intramunicipal promovida pela Área Metropolitana de

Lisboa, bem como uma articulação supramunicipal a desenvolver pela Comissão de Coordenação e

Desenvolvimento Regional territorialmente competente, e perguntou aos peticionários se já haviam contactado

aquelas entidades.

Questionou ainda os peticionários no sentido de saber se os projetos urbanísticos na Serra de Carnaxide

estão a ser aprovados fora dos instrumentos de planeamento ou se, pelo contrário, estão dentro do âmbito das

decisões de planeamento tomadas pelos poderes eleitos.

Concluiu reiterando o apoio à causa trazida pelos peticionários e afirmando que existem órgãos e entidades

que devem dar resposta às suas solicitações.

De seguida interveio a Sr.ª Deputada Mariana Silva (PEV) que agradeceu a exposição realizada pelos

peticionários e o seu esforço em criar uma iniciativa para a defesa, proteção e preservação da Serra de

Carnaxide cujo intuito, afirmou, é acompanhado pelo PEV.

Revelou ter participado em iniciativas no terreno que lhe permitiram conhecer a realidade do local, identificar

o avanço dos projetos de urbanização e reiterar a urgência de preservação da Serra.

Concordou com a intervenção do Sr. Filipe Duarte Santos no que respeita aos impactes da urbanização nos

solos, que os impermeabiliza, aumentando os riscos de ocorrência de cheias. Considerou que os projetos

urbanísticos não se coadunam com a preservação da serra.

Finalizou informando que o PEV acompanhará a presente petição com um projeto de resolução que

recomendará a classificação da serra de Carnaxide.

Por último interveio o Sr. Deputado Nelson Peralta (BE) que agradeceu aos peticionários e esclareceu que

usava do seu direito à palavra enquanto Deputado do BE e não como relator da petição.

Referiu ter visitado a serra de Carnaxide no dia 1 de julho, juntamente com o Deputado José Maria Cardoso

e a Deputada Isabel Pires do BE e na companhia de alguns dos peticionários, tendo ali constatado os impactes

dos projetos urbanísticos na qualidade de vida da população.

Considerou estar-se perante um modelo de urbanismo ultrapassado, tendo afirmado que a

impermeabilização dos solos decorrente do avanço urbanístico na serra afeta a biodiversidade, provoca erosão

e aumenta o risco de ocorrência de cheias.

Terminou a sua intervenção informando que o BE acompanhará as pretensões dos peticionários através de

um projeto de resolução para que a serra de Carnaxide possa ser classificada como «Paisagem Protegida», a

ser agendado conjuntamente com a petição para Plenário.

De seguida, enquanto relator, devolveu a palavra aos peticionários.

Os peticionários responderam no final da audição às questões colocadas pelas Sr.as e Srs. Deputados.

O registo áudio da audição está acessível em:

http://media.parlamento.pt/site/XIVLEG/SL2/COM/11_CAEOT/CAEOT_AP/CAEOT_AP_20201210_VC.mp3

V – OPINIÃO DO RELATOR

O Deputado relator, exime-se, nesta fase, de emitir a sua opinião.

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VI – CONCLUSÕES

Face ao exposto, a Comissão de Ambiente, Energia e Ordenamento do Território emite o seguinte parecer:

1. O objeto da petição é claro e está bem especificado, encontrando-se devidamente identificados os

peticionários. Estão preenchidos os demais requisitos formais e de tramitação definidos no artigo 9.º da Lei do

Exercício do Direito de Petição (LDP);

2. Atendendo ao número de subscritores e à data de entrada das assinaturas, a petição será apreciada em

Plenário [alínea a), n.º 1, artigo 24.º, da LDP];

3. Deve ser dado conhecimento da Petição n.º 140/XIV/2.ª e do presente relatório aos grupos parlamentares

e ao Governo para ponderação de eventual apresentação de iniciativa legislativa, conforme o disposto na alínea

c) do n.º 1 do artigo 19.º da LDP, ou para tomada das medidas que entenderem pertinentes;

4. Deve ser dado conhecimento aos peticionários do teor do presente relatório, nos termos da alínea m) do

n.º 1 do artigo 19.º da LDP.

Assembleia da República, 29 de dezembro de 2020.

O Deputado relator, Nelson Peralta — O Presidente da Comissão, José Maria Cardoso.

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PETIÇÃO N.º 166/XIV/2.ª PETIÇÃO CONTRA BARRAGEM VALE DAS BOTAS, NO RIO ALVA

Nós, abaixo assinados, somos contra a construção da barragem e central elétrica no rio Alva, a desmatação

e desarborização de 196,66 hectares de vegetação ripícola. Este projeto, datado de 2010-2012, compreende a

construção de um açude de betão com 13,5 metros de altura, um estaleiro (área de construção com um mínimo

de 2500 m2) e uma central elétrica. Ao ser concretizado, a obra iria alterar o rio Alva para sempre.

Por isso gostaríamos de nos insurgir, enquanto cidadãos desta região da Beira Litoral, contra este atentado

ambiental e solicitar a intervenção de V. Ex.as para se anular definitivamente o projeto mencionado em prol da

proteção tão necessária de uma natureza cada vez mais devastada.

Reiteramos aqui os motivos factuais que fundamentam a nossa posição desfavorável em relação a este

projeto:

1 – Desmatação e desarborização total de um corredor arbóreo de 196,66 hectares, para que sejam

inundados com o intuito de criar uma albufeira com um comprimento de 3,5 km, entre Côja e Meda de Mouros.

A destruição da natureza existente seria total também nas outras áreas afetas à construção da barragem.

Durante a construção, veículos pesados iriam atravessar as povoações durante, pelo menos, 16 meses.

2 – A barragem em causa iria apresentar uma eficiência em termos de produção energética bastante

reduzida. Em termos comparativos, uma eólica produz 2 a 5 vezes mais energia e existem na região parques

eólicos instalados com capacidade de ampliação. Produção de energia elétrica a partir de recursos hídricos

constitui uma técnica obsoleta cuja eficácia já há muito contestada pela ciência.

3 – A qualidade da água e a vida no rio vão alterar-se. De momento, a qualidade da água na zona de Vale

das Botas é notavelmente melhor do que nas proximidades de Côja, e com esta barragem iria piorar

substancialmente. Os peixes, lontras e outros animais iriam perder o seu habitat natural.

4 – Nadar no rio Alva ao longo destes 3,5 km de albufeira não seria possível e as praias fluviais, (ex-libris de

uma região seriamente afetada pelo grande incêndio de outubro de 2017), iriam ser duramente afetadas. No

parecer emitido para o projeto, coordenado pela Associação Portuguesa do Ambiente, está referido que se

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espera uma quebra de conectividade fluvial.

5 – A eletricidade produzida na barragem seria caríssima. O Estado propor-se-á a pagar 0,90 euros por

megawatt/hora ao invés de custear 0,45 euros, uma tarifa garantida com um regime de licenciamento agilizado

como o que existe para os parques eólicos. Tal medida apenas beneficia o investidor e não os contribuintes.

6 – Foi uma empresa privada que ganhou o direito de fazer o investimento, apesar de existirem fortes

oposições de poderes municipais envolvidos. Portugal só perde com isto!

7 – Esta barragem constitui mais uma ameaça para o Interior, uma região de Portugal já extremamente

afetada e fragilizada por uma desertificação acentuada, incêndios florestais devastadores como os de 2017, e

mais recentemente a ameaça da exploração de lítio. Chega de uma mentalidade de extração para a nossa

região.

Exigimos uma estratégia de valorização e não de delapidação dos recursos!

8 – Preocupamo-nos com a herança que vamos poder deixar aos nossos filhos e netos. As gerações

vindouras têm o direito ao mesmo mundo de biodiversidade tal e qual nós o conhecemos.

9 – O nosso microclima ir-se-ia modificar drasticamente. A barragem iria aumentar enormemente a superfície

da água e os níveis de humidade iriam sofrer um acréscimo, com nevoeiros matinais diários, o que iria ter um

impacto nefasto sobre a produção de azeite e outras culturas. Temos muitas oliveiras em Meda de Mouros e

arredores, fatores de extrema importância para a subsistência dos pequenos agricultores da zona.

10 – Meda de Mouros é agora uma mancha verde no meio de uma área que ardeu por completo em 2017.

Urge manter a pouca natureza intacta que temos e nós propomo-nos a protegê-la com todos os meios ao nosso

alcance.

O projeto desta barragem em específico, pretendia em 2010, reforçar a conformidade do Estado português

no que dizia respeito ao Protocolo de Quioto. Ora, o objetivo de Portugal de atingir 31% de energias renováveis

consumidas em 2020 já foi alcançado. De acordo com a REN, em janeiro deste ano, as fontes de energia

renovável contribuíram com 68,17% do total da geração de eletricidade. Neste contexto, a construção de uma

hídrica no rio Alva está desprovida de qualquer sentido.

Juntos podemos: salvar o nosso rio com os seus habitantes, toda uma vegetação ribeirinha e 11 edifícios

antigos/ocorrências patrimoniais, dos quais 10 iriam ficar submersos!

Data de entrada na Assembleia da República: 2 de dezembro de 2020.

Primeiro peticionário: Maria José das Neves Fernandes Silva.

Nota: Desta petição foram subscritores 4793 cidadãos.

A DIVISÃO DE REDAÇÃO.

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