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23 DE MAIO DE 1992

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principais aliados a inércia, preconceitos de índole cultural e ignorância da própria problemática da comunicação linguística universal. A terceira, materializada ao longo dos últimos séculos através de centenas de projectos de ensaios de autores como Descartes, Comonius, Delganio e l.eibuiz, teve o seu expoente mais alto no aparecimento de uma publicação sobre a língua esperanto em 1887.

O projecto desta língua internacional deve-se ao Dr. Lázaro Ludovico Zamenhof, polaco de ascendência alemã, oftalmologista, humanista e poliglota, que, para o efeito, arrancou do conhecimento profundo que tinha das principais línguas europeias e ainda do latim, grego e sânscrito.

O Dr. Zamenhof elegeu os radicais das várias línguas segundo critérios de notoriedade e simplicidade, adoptou as soluções gramaticais mais lógicas e planeou sistematicamente uma língua com identidade própria. Apesar de não ter surgido como fenómeno social natural, mas sim por via erudita, o esperanto é, nas suas fontes, uma língua natural e é hoje, para muita gente, em todo o mundo, uma língua viva falada pelo seu usador tão naturalmente como a própria língua pátria.

O léxico esperantista é constituído aproximadamente por 60 % de radicais de origem românica, 30 % de origem germânica, 8 % de origem eslava e 2 % de outras origens. Oralmente, a língua assemelha-se ao italiano, com algumas africadas que lembram o polaco. A gramática consiste em 16 regras fundamentais, que cabem numa súnples página A4. O sistema é inspirado na facilidade gramatical da língua inglesa, mas muito mais simplificado, mais exacto e mais rico de expressão, com uma flexibilidade sintáctica comparável à do latim e grego clássico. O sistema de aglutinação, sufíxação e prefixação do esperanto proveio da língua alemã, mas tomou-se mais livre e mais lidável, deixando ao usador a liberdade de construir não só a frase mas também a própria palavra.

3 — Os valores humanistas e pacifistas de âmbito internacional promovidos através do esperanto, a grande facilidade de aprendizagem desta língua, o lacto de se cifrar em cerca de 10 milhões o número de esperaniólonos espalhados pelo mundo, a existência de um acervo cultural materializado em mais de 30 000 obras escritas originalmente ou traduzidas para esperanto, levaram a UNESCO, na sua Conferência Geral de 1 'J54, em Montevideu, a aprovar a Resolução IV.1.4 422, onde reconhece que os resultados obtidos pelo esperanto, no intercâmbio internacional e para a aproximação dos povos, correspondem aos fins e ideais da UNESCO, ou seja, contribuem para a cooperação internacional nos campos da educação, cultura e ciência. Desde essa data, a UEA (Associação Universal de Esperanto) mantém relações consultivas com a UNESCO, como organização não governamental de classe B. Este reconhecimento foi confirmado na Conferência Geral de 1985, em Sófia, pela Resolução LX.4.4 218, «tendo em conta que o esperanto fez entretanto consideráveis progressos». Ttunbém a 1LEI (Liga Internacional dos Professores de Esperanto) mantém relações consultivas com a UNESCO.

4 — Desde 1905 até hoje, os esperantistas realizam anualmente congressos universais de esperanto, interrompidos apenas pelos intervalos das duas Grandes Guerras, nos quais milhares de pessoas de vários continentes, das mais variadas etnias e culturas, sem mediação de uadutores nem intérpretes, comunicam em pé de igualdade na mesma língua —o esperanto. Também se

realizam outros congressos, conferências, colóquios, etc, à escala internacional, onde jovens, associações políticas e religiosas, grupos profissionais e empresas usam o esperanto.

A Associação Universal de Esperanto, com sede em Roterdão, filia muitas dezenas de associações nacionais de esperanto e tem milhares de sócios individuais. A sua rede de delegados especiais é variadíssima, podendo qualquer sócio obter informações técnicas ou outras, gratuitamente, sobre assuntos que vão da matemática à culinária, da religião à política da literatura à numismática.

Em Portugal, a Associação Portuguesa de Esperanto, filiada na Associação Universal de Esperanto, promove cursos e conferências, divulga o esperanto nos grandes meios de comunicação e promove a literatura portuguesa através do esperanto. Os Lusíadas, por exemplo, entre muitas obras literárias originalmente versadas em português, são hoje parte do acervo literário de traduções em esperanto, tal como a Bíblia, o Corão, a obra de Shakespeare, os grandes clássicos e muitas das obras-primas da literatura mundial.

5 — Os dialectos estão para as regiões como as línguas nacionais para os países, assim como o esperanto esuí para as relações internacionais. Não sendo de nenhuma nação especial, o esperanto é património de toda a humanidade. Assim, os valores culturais criados nesta língua desenvolveram-na até ao estado em que ela hoje se encontra: não mais um projecto linguístico, o esperanto tornou-se uma língua viva, apta a exprimir qualquer cambiante do pensamento, utilizada em todo o mundo, desde os lares, onde centenas dc crianças têm o esperanto como língua materna, até às universidades, onde este idioma é ensinado e usado.

6 — A Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, na sua Resolução n." 41/187, adoptada em 8 de Dezembro de 1986, proclamou o período de 1988 - 1997 Década Mundial de Desenvolvimento Cultural, celebrada sob os auspícios das Nações Unidas e da UNESCO.

Um dos quatro grandes objectivos em que se cenlra o programa de acção consequentemente traçado pela UNESCO no quadro da Década é o da «afirmação e enriquecimento das identidades culturais», face ao preocupante problema da colonização cultural, agravado por vezes até à própria aniquilação de culturas.

A preservação da identidade cultural nacional, no contexto mundial ou no contexto intracomunitário europeu, seria idealmente conseguida mediante a adopção de uma língua veicular neutra, planeada como língua internacional.

Tal como a ecologia é a resposta conseguida para o problema da preservação do ambiente, bem se poderá dizer que o esperanto é a resposta apropriada para o problema da preservação das identidades culturais das nações. O esperanto é a «ecologia» das culturas nacionais.

Por esta razão, entre outras, as 12 associações nacionais dos 12 países membros da CEE, coordenadas pela União Europeia de Esperanto (ponla-de-lança da Associação Universal de Esperanto para a CEE), têm estado ultimamente empenhadas num diálogo, tanto quanto possível aprofundado, com os Ministérios da Educação, das Relações Extclores e dos Assuntos Europeus de cada um dos 12 países, a fim de ser oficializado, ao menos experunentalrr.ente, e ao menos como disciplina opcional, o ensino do esperanto ao nível do ensino secundário.

Entre as demais razõe.s, que são outros tantos vectores valoracionais do esperanto, contam-se consabidamente o

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