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2 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

como suas as dôres da Nação Inglesa, nossa antiga e fiel alhada. (Apoiados geraes).

Julgo, portanto, interpretar os sentimentos de toda a Camara, como legitima representante da Nação Portuguesa, propondo que na acta da sessão de hoje se lance um voto de profundissimo sentimento por tão infausto successo; (Apoiados) e que, approvado este voto, se façam as devidas communicações. (Apoiados).

O Sr. Ministro dos Negocios Estrangeiros (João Arroyo): - Sr. Presidente: pedi a palavra para me associar, em nome do Governo, á proposta que V. Exa. fez para que a Camara dos Senhores Deputados da Nação Portuguesa, em demonstração do seu vivo sentimento pelo fallecimento de Sua Majestade a Rainha de Inglaterra e Imperatriz das Indias, lance na acta da sua sessão de hoje um voto de profundissimo pesame por este acontecimento, e para que se façam as devidas e costumadas communicações.

Não occulto a V. Exa. e não occulto á Camara que, ao tomar a palavra neste momento, me encontro dominado pela mais viva commoção; commoção que me vem da pouquidade dou meus recursos oratorios e da exagerada modestia da minha figura, para, em nome do Governo Português, poder esboçar, em rapidos, mas valiosos traços, o vulto d aquella que, em vida, foi a Soberana bem amada e benemerita do povo inglês.

Se o faço, em cumprimento do dever que me assiste, é porque conto, por demais, com a benevolencia de V. Exa. e com a benevolencia de toda a Camara.

Figura demasiado alta é essa, a da illustre Soberana que acaba de se extinguir, para que estas palavras, que, na normalidade das circumstancias, podiam porventura ser consideradas tambem normaes, constituam uma precaução oratoria que neste momento se justifica em absoluto.

A figura da Rainha Victoria é tão grande que até se pode dizer que encheu o século que passou, (Apoiados) alevanta-se entre as dos Soberanos europeus seus contemporaneos, engrinaldada pelos mais extraordinarios predicados pessoaes de intelligencia e de caracter; (Apoiados) dourada pela existencia, dentro d'aquelle coração extraordinario, dos mais altos sentimentos de bondade. Essa figura representa, desde o primeiro dia em que Victoria I foi Rainha até ao dia do hontem, em que desceu ao tumulo, o cumprimento incessante, indefectivel, de todos os devores como Mãe, como Rainha e como Soberana do povo inglês. (Apoiados geraes).

Dentro da orbita interna dos acontecimentos da patria inglesa a sua acção foi mais do que extraordinaria. Desde 1837 até hontem todas as exigencias a que um Soberano tinha de satisfazer para que as qualidades ethnicas da raça inglesa se affirmassem e attingissem o apogeu do successo a que chegaram, tudo isso se realizou, tudo isso se verificou. (Apoiados).

O cumprimento incessante das suas qualidades como soberana constitucional, o presidir com um espirito liberrimo ao desenvolvimento da iniciativa dos seus concidadãos, a imparcialidade no mando, a não existencia de pequenos sentimentos naquella alma admiravel, tudo isso contribuiu para que a Inglaterra de hoje possa significar um progresso na realidade enorme, fecundo, de todos os dias, marcado em todas as manifestações de espirito nas industrias, na economia geral da nação, na illustração de todos os concidadãos, emfim, em todas as manifestações do espirito humano. Pelo que respeita á orbita interna dos seus interesses, quer materiaes, quer especulativos, mais uma vez se cumpriu a lei historica que determina que todo o povo colonizador, que tenha o culto austero dos manes familiares, em que o laço familiar constituo a primitiva fibra, tem a energia maxima necessaria para a vida. E o mane familiar do inglês foi a Rainha Victoria. Em cada culto domestico ella existia com o mesmo calor, com a mesma energia, com a mesma devota admiração. Em toda a parte onde se fatiasse inglês, onde se cultivasse aquelle esplendido idioma, a noção do lar era referida aquelle symbolo augusto de pureza e grandeza nacional.

Quanto ao desenvolvimento exterior a Inglaterra é uma admiravel lição do que pode um povo de força collossal dirigido por uma grande mãe. O desenvolvimento da sua economia, o desenvolvimento do seu commercio, o desenvolvimento de todas as suas industrias é levado até aos ultimos confins do mundo nas mãos de 400 milhões de homens, que engrandecem de dia para dia o progresso incessante do nome inglês.

Desde os sertões da Africa até ás florestas da India, desde as colonias da Australia até á terra americana, do Pacifico ao Atlantico, em todos os mares, desde as terras arcticas até ás terras antarcticas, em todos os pontos do Globo, emfim, existia um culto commum para todo o inglês: era o culto da sua Rainha e Imperatriz das Indias (Muitos apoiados); aquecia-o até ao rubro de uma adoração ardente o sol dos tropicos; elevava-o até á brancura immaculada da pureza, a pureza dos gelos e das neves polares. (Vozes: - Muito bem).

O imperio que nasce do genio individual de um homem, fallece quando fallece o genio d'esse homem. Falleceu o imperio de Alexandre, imperio que provinha do enorme-cerebro de um individuo. Falleceu o imperio d'esse grande capitão dos tempos modernos, o maior cabo de guerra que jamais existiu. Assim como na antiguidade, por ser producto do um povo, perdurou a conquista do imperio romano, assim na actualidade perdura, tambem, a conquista do imperio inglês, devido á acção collectiva de um povo que adora a sua liberdade e trabalha incessantemente pelo desenvolvimento do seu país. (Vozes: - Muito bem).

Ha um ponto, um aspecto do assumpto que eu não posso deixar no olvido. A Rainha augusta, que acaba de extinguir-se, no ultimo despacho telegraphico de alcance internacional, sellou com o seu nome abençoado uma declaração de amizade, de intima solidariedade politica, ao mesmo tempo firme e affectiva, á Nação Portuguesa, e, por assim dizer, juntou nuns periodos verdadeiramente admiraveis, de expressão intima e de alcance internacional, á sua maneira de ser ao mesmo tempo intelligente e bondosa, a sua maneira paternal de tratar aquelles que a tinham visto chegar ao ultimo grau de velhice, sempre na pratica de todas as virtudes. (Vozes: - Muito bem).

Eu deixaria de cumprir o primeiro dos deveres se, em nome do Governo Português, neste momento, não saudasse, na augusta Extincta, não direi já o Governo Inglês, não direi já a Familia Real Inglesa, mas a Nação Inglesa toda, que neste momento deplora a morte da sua Soberana, e deante da qual Portugal, a nação amiga, a nação alliada, vae reverentemente apresentar os protestos maximos da sua veneração e da sua dôr. (Vozes: - Muito bem).

Succede á augusta Rainha Victoria um Principe ornado de todos os predicados que podem enaltecer um Soberano, e é grato, bem grato ao meu coração, consignar neste momento os particularissimos primores de affecto e consideração especial que, durante o tempo em que esse Soberano era presumptivo herdeiro da Coroa, se dignou conceder a Portugal. E não posso neste momento deixar de constatar com particular satisfação a muito especial amizade que une o actual Soberano da Inglaterra a Sua Majestade El-Rei de Portugal o Senhor D. Carlos; penhor é esse de que as duas Coroas comprehenderão de futuro, como tem comprehendido até agora, qual deve ser a linha clara, positiva e firme da sua politica internacional.

E dito isto, antes de me sentar, como que vendo numa aliás facil ante-adivinhação de factos, perpassar por deante de nós o feretro d'Aquella que em vida se chamou a Rainha Victoria, quero unicamente dizer, que isso que passa não é um despojo mortal, em que a recordação de