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SESSÃO DE 27 DE MAIO DE 1890 413

relações com os interesses e projectos denunciados da politica colonial estrangeira.
Mas porque, infelizmente, não posso esperar, como já disse, que as informações do sr. ministro possam pôr em suspenso a, noticia que tenho da morte do Silva Porto, vou mandar para a mesa uma proposta para que peço urgencia por isso, e porque entendo que mais do que nunca importa que é paiz affirmo por todos os meios, por todas, as fórmas que tem os olhos postos nos que bem o servem e nos que o honram nos sertões de Africa, que mais do que nunca é necessario affirmar á face da historia e do mundo, que; Portugal não se esquece do seu logar primaz nas campanhas da civilisação de Africa, civilisação de que foi verdadeiro e genuino apostolo Silva Porto, caracter primoroso, espirito piedoso, profundamente christão e profundamente portuguez. (Apoiados.)
Não ó o desvanecimento nacional que lhe marca esse logar; é o reconhecimento da historia, é o grato e insuspeito testemunho de muitos estrangeiros illustres. (Apoiados.)
Silva Porto tem um logar indelevelmente marcado na historia da expansão colonial de hoje, e por isso repito, permita-me propor á camara, com licença de v. exa. a manifestação do sentimento que, julgo, será ámanhã o sentimento de todo o paiz. (Apoiados.).
Leio a minha moção.
(Leu.)
Eu fallei no caracter de Silva Porto, e quantas testemunhas podia aqui mesmo encontrar agora! Do seu caracter direi apenas que o melhor elogio que posso apresentar á camara são as palavras que me escrevia ha annos, no meio de uma crise bem angustiosa, um dignissimo governador da provincia de Angola, - que está presente, e meu collega e amigo. Dizia-me elle: - «de Silva Porto, só posso dizer-lhe que tem quarenta annos de Africa;» - e tinha-os então, - «e é pobre»..E do seu coração direi que na carta que elle me escreveu com respeito á ruína da historica povoação de Belmonte, unico bem que lhe restava, o que mais lamentava, o que mais o entristecia, era que ficava sem vestuario, sem alimento e sem tecto, uma pequena escola que tinha fundado ali para as creanças indigenas.
Do seu coração de oiro, da sua intelligencia, que não pôde adestrar-se nas escolas, mas que teve o mais largo tirocinio da experiencia guiado por um profundo amor do seu paiz, está aqui uma testemunha tão respeitavel e tão illustre, que não quero antepôr-me a ella.
É um homem que o proprio Silva Porto considerava o seu melhor amigo, quasi seu, filho: é o sr. Serpa Pinto. (Apoiados.)
Mando para a mesa a minha moção, e peço a urgencia.
Leu-se na mesa a seguinte:

Moção

A camara exprime-o seu sentimento pela morte do benemerito cidadão Antonio. Ferreira da Silva Porto e affirma o reconhecimento nacional á memoria dos seus relevantes serviços á civilisação e á patria nos sertões africanos.
Consultada a camara, foi admitida a urgencia da moção ficando logo em discussão.
O sr. Ministro da Marinha (Julio de Vilhena): - Vae dizer á camara quaes são as informações officiaes que o governo recebeu ácerca dos acontecimentos a que se referiu o sr. Luciano Cordeiro. Constam ellas de dois telegrammas do governador geral de Angola, que tem presentes.
Estava proximo a concluir-se a organisação da expedição, commandada pelo capitão de artilheria Couceiro, e que devia partir do Bihé em direcção ao Cubango e d'ahi ao Cunene. O capitão Teixeira, da Silva, do exercito de Africa, tinha chegado primeiro ao Bihé para ahi de accordo com o benemerito Silva Porto e com o soba d'aquella região, arranjar os carregadores e fazer todos os outros preparativos necessarios.
Foi n'essa occasião que o soba, por motivos que até hoje ainda não são bem conhecidos, rompendo as antigas e nunca até então desmentidas relações de. amisade e de vassalagem, intimou Teixeira da Silva a sair do Bihé.
Silva Porto, julgando continuar a ter sobre o soba o prestigio de outros tempos, tentou dissuadil-o das suas exigencias, mas não foi attendido. Ao mesmo tempo alguns soldados pretos da expedição desertaram.
Comprehende-se bem qual seria a dor d'aquelle honrado patriota, que no fim de uma vida de trabalho e de gloria para si e para a nação, já acabrunhado pela perda quasi total dos seus haveres que soffrêra o anno passado em resultado de um incendio via agora tambem perdido o prestigio que pela sua coragem e conhecimento do sertão tinha conseguido obter. O honrado sertanejo, talvez porque não pôde resistir ao desgosto, suicidou-se.
Este triste acontecimento, já noticiado pelo primeiro telegramma, mas de que elle, orador, ainda duvidou, está infelizmente confirmado pelo segundo.
Podia-se ter ido em seu auxilio; mas eram precisos duzentos soldados, e a guarnição de Angola não tinha duzentos soldados disponiveis n'aquelle momento. Estava a guarnição empregada toda em serviço imprescindivel.
São estas as informações que pôde dar.
Acrescenta que o paiz tem obrigação de lamentar estes acontecimentos, mas o governo tem mais do que isto, porque tem tambem obrigação de providenciar para que elles não se repitam, o que se conseguirá tornando effectiva a occupação do Bihé que é, como disse o sr. Luciano Cordeiro, a porta do sertão.
N´esse sentido o governo já procedeu com a maxima energia e tudo está preparado para se abrir essa porta.
Depois de mais algumas considerações, termina, associando-se em nome do governo, ao voto de sentimento proposto pelo sr. Luciano Cordeiro.
(O discurso será publicado na integra quando s. exa. o restituir.)
O sr. Elvino de Brito: - Ao entrar na camara, pedira ao sr. presidente que o inscrevesse para dirigir uma pergunta ao sr. ministro da marinha. Era a mesma que já fez o sr. Luciano Cordeiro.
Entende que os acontecimentos do Bihé podem ter sido devidos a influencias estranhas. Pede ao governo que proceda a minuciosas averiguações.
Não o admirou que não houvesse na guarnição de Angola duzentos soldados, disponiveis; do que sé admira é que, tendo feito o governo uma dictadura a que chamam de defeza nacional, se tivesse auctorisado, a reformar o exercito da metropole e não cuidasse na reorganisação das forças ultramarinas; tanto mais que uma commissão que tinha sido nomeada para estudar, este assumpto já tinha concluido os seus trabalhos e o sr. ministro tinha elementos seguros para poder proceder.
Concluo, associando-se,, em seu nome, e crê que no da opposição parlamentar, ao voto de sentimento proposto pelo sr. Luciano Cordeiro.
(O discurso será publicado na integra e em appendice a esta sessão quando s. exa. o restituir.}
O sr. Ministro da Marinha (Julio de Vilhena): - Declara que quasi não tinha necessidade de responder ao orador precedente, porque s. exa. se occupou mais da dictadura do que da proposta.
Entretanto, relativamente á reforma do exercito do ultramar, deve informar a camara de que a commissão encarregada de elaborar esse plano ainda não apresentou os seus trabalhos.
(O discurso será publicado na integra e em appendice a esta sessão quando s: exa. o restituir.)
O sr. Serpa Pinto: - Creia v. exa. que é muito pe-