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4 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

500:000 homens em tempo de paz e custa 160 milhões de marcos o que corresponde em nosso dinheiro a 36:000 contos de réis.

N'estas condições, sr. presidente, o nosso exercito deveria custar a decima parte, mas não succede assim. Eu terei occasião de o demonstrar.

Ora, como n'isto, ha um crescendo de esbanjamentos, de grandes desperdicios, que eu agora escuso de enumerar á camara, é indispensavel e urgente cuidar seriamente d'este assumpto.

Um d'elles, que é bem recente, foi a ultima reforma que se fez na escola do exercito, que se dizia não importar augmento de despeza, mas que trouxe a bagatella de 31 contos de réis a mais!

Eu tenho uma nota d'esta despeza, que em tempo opportuno hei de apresentar á camara; não o faço agora por que não desejo cansar a sua attenção.

Já que fallo em questões do exercito, direi tambem que folgo sinceramente de ver a pasta da guerra confiada a um meu antigo amigo e camarada, o sr. Candido Furtado, que é ainda um dos poucos bravos do Mindello e um dos generaes mais antigos e prestimosos do nosso exercito.

A vida de s. exa., sr. presidente, é immaculada, Como commandante de corpo foi modelo de disciplina e de administração, o que, para mim, é garantia suficiente do que ha a esperar da gerencia do illustre general.

O que eu peço ao nobre ministro, é que não transija e não faça politica com o exercito.

Não lhe peço que me responda já, faça o quando quizer, mas pondero a s. exa. que na camara está pendente uma questão que diz respeito á disciplina do exercito.

Estou certo que s. exa. não approvará que os officiaes do exercito façam parte de uma associação politica em que se censuram os altos poderes do estado. Lembre-se s. exa. dos principios manifestados na assembléa da republica franceza pelos generaes Lewal e Yung. O programma da liga liberal, como pura associação politica agrada-me. Digo d'ella como o grande poeta do seculo:

"N'insultez jamais la jarretière qui tombe."

Essa questão foi iniciada pelo meu illustre amigo, o sr. conselheiro Barros e Sá; é uma questão gravissima e refere-se a um grave conflicto que se deu entre o ministerio da guerra e o tribunal superior de guerra e de marinha. É preciso que o sr. ministro tenha a complacencia de comparecer n'esta camara, para se tratar d'este negocio; eu já pedi para tomar parte n'essa interpellação e está tambem inscripto o sr. conde do Bomfim, mas não trato agora d'essa questão e peço ao digno par que tambem não trate d'ella, é melhor que nos reservemos para outra occasião.

Eu desejava referir-me de passagem á lei do recrutamento que o governo transacto alterou sensivelmente.

Pela antiga lei do sr. José Luciano de Castro, estava implantado o serviço obrigatorio e eliminado o remisso a dinheiro, unicos principios porque a mesma lei se recomendava. A remissão por dinheiro equivale a compra de um documento de cobardia. Disse-o um general illustre em 1848 na camara alta em França.

Parece impossivel que em 1892 haja um ministro que consinta a remissão dos recrutas por dinheiro; isto não é mais que uma arma politica.

É preciso que se convençam que sem uma boa lei de recrutamento não ha exercito possivel. É preciso imprimir no exercito o caracter nacional e que o tributo de sangue seja pago com a maior justiça e com a maxima igualdade.

Não é agora occasião de tratar d'este assumpto; vou terminar, porque não desejo cansar a attenção da camara; é preciso que não estejamos aqui a representar constante-mente na comedia que vae fazendo carreira pelos conhecidos processos dos elogios mutuos, porque tarde ou cedo, a comedia do genero de Camaredie Sint degenera em tragedia tetrica do genero de Victor Hugo, Schiller ou Halm.

A victima é o paiz, que está prostado com o golpe profundo que lhe vibraram sobre o coração.

Faço votos para que os srs. ministros consigam salval-o, e se o conseguirem, creiam que têem prestado um alta serviço.

O novo governo é uma esperança lisonjeira. Oxalá que não se transforme em mais uma triste decepção.

Tenho concluido.

Vozes: - Muito bem.

(O digno par não reviu as notas do seu discurso.)

O sr. Presidente: - Como a hora está muito adiantada e ha diversos oradores instriptos, não sei se a camara quererá que a sessão continue ámanhã.

Vozes: - Hoje, hoje.

O sr. Presidente: -Em vista da manifestação da camara tem a palavra o sr. conde do Bomfim.

O sr. Conde do Bomfim: -Sr. presidente, a minha posição, pelas relações pessoaes de consideração que tenho por muitos dos membros do gabinete, e pela deferencia que pela larga carreira dos serviços publicos de todos, impõe á minha consciencia de homem e de cidadão de não deixar de definir a minha attitude perante esta camara, resumindo quanto possa as considerações que tenho que fazer. Na conjunctura presente, em que tão grave é a situação financeira, e que ameaçada tem sido a integridade da patria, a questão de fazenda, a colonial e a questão militar, ligam-se tão intimamente, que a sua solução impõe-se conjunctamente sem abstrahir de nenhuma, a todos os homens publicos.

O sr. presidente do conselho de ministros ha mais tempo que pela sua proeminente posição teria occupado o logar de chefe de uma situação politica, se outras causas não tivessem obstado a isso. Se os seus principios politicos não tivessem sido rejeitados por esta nação.

Sr. presidente, a questão, porém, que pela sua importancia sobreleva a todas, a questão palpitante da ordem do dia é a questão de fazenda, e ainda que a questão colonial e da defeza nacional não podem ser postas de parte, todas as outras seria um contrasenso, que não se podia suspeitar da actual situação alevantal-as.

Hoje, que o estado financeiro do paiz attráhe as atten-ções publicas de todas as classes, de todos os homens politicos certamente que os governos carecem, ou de partidos fortes que os apoiem, ou de força que derive do interesse geral para se apoiar.

E se os partidos actuaes, ou porque estavam mal emancipados, ou por circumstancias especiaes de momento, declinam a responsabilidade de arcar com os graves encargos da governação publica, se as indicações constitucionaes no sentido restricto, não podem guiar-nos, é forçoso admittir que a eleição do chefe da situação tinha que ser feita ou recair fóra dos partidos politicos militantes.

E assim azado foi o momento para o advento do sr. José Dias Ferreira ao poder.

Portanto, se a occasião é opportuna, e todos a reconhecem, se o governo não tem o apoio partidario, mas o apoio e a força nos representantes da nação para seguir o caminho, que ella lhe impõe, é da propria nação que póde tirar a força para governar e fazer boa a sua administração.

É preciso que o governo não siga a corrente dos interesses mais ou menos importantes, mais ou menos affectados, mas a corrente sensata da opinião publica, que deseja a questão financeira e economica em terreno seguro, o credito robustecido, a nossa autonomia garantida, e a par, e ssm hesitações, a moralidade publica alevantada honradamente, porque, sem prestigio moral, baldados serão os esforços e todo o empenho para salvar a honra moral do paiz, o seu credito e as suas finanças.

E é só correspondendo o governo pelos seus actos a este grande partido nacional que poderá adquirir a sua confiança e governar.