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DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO 39

alguns dos ministerios, quando o illustre prelado fazia parte do gabinete que para diminuir a despeza reduziu o numero dos empregados, e creou a classe dos empregados chamados addidos.

Houve um ministerio, onde, para fazer diminuir a despeza, foi diminuir-se o que pertence ao material, ficando o mesmo pessoal, com o que escasseou a obra, e ficaram os jornaes. É facil reformar assim, mas isso equivale a um verdadeiro desperdicio. N'essa administração as contas fizeram-se de tal modo, que os ministros seus successores não tiveram remedio senão passar uma esponja por cima das despezas, porque a contabilidade era impossivel. (O sr. Rebello da Silva: -Apoiado.) Saiba v. exa. e saiba a camara isto, que não é do dominio de todos. São reformas tão habeis, tão calculadas, tão prudentes e tão boas, que foi preciso apagar a conta das despezas e abrir conta nova, porque a contabilidade era impossivel! Aqui está o que se fez n'aquelle ministerio.

Sr. presidente, eu refiro-me aqui aos differentes ministerios, porque a responsabilidade é solidaria; aqui não estão presentes os ministros das diversas repartições que serviram n'essa administração, mas está presente o sr. bispo de Vizeu, que era n'ella ministro do reino, chefe de um partido e solidario com os seus collegas nos actos que praticaram como ministros; tenho pais direito de apreciar os seus actos, aliás não o faria.

Mas, sr. presidente, ha um ponto importante (e por agora limitar-me-hei a elle), em que eu devo tocar; diz respeito á conciliação dos partidos.

O digno prelado quer a conciliação e não quer a fusão. Não comprehendo a distincção que s. exa. faz entre conciliação e fusão; mas quando eu aqui ouvi dizer ao digno par que estava prompto a aceitar homens de todos os partidos, uma vez que fossem para s. exa. arriando as suas bandeiras...

(Interrupção que se não ouviu.)

Creio que foi isto que disse. Mas quando ouvi dizer isto ao nobre prelado, deprehendi que s. exa. queria a fusão e não a conciliação.

Quando um partido abdica do seu credo, das suas crenças e da sua doutrina, aceitando a bandeira de outro partido, funde-se n'elle. É o que quer dizer arriar bandeira. O digno par queria pois a fusão e não a conciliação, é isto o que se deduz da apreciação rigorosa das suas expressões. Não faço um trocadilho de palavras, estou fallando serio, porque a questão é seria.

Mas, sr. prresidente, esta conciliação que era solicitada por alguem, não o era pela parte dos partidos militantes; pelo contrario, da parte do governo (apoiados) é que era offerecida a esses partidos.

Esta é que é a verdade, e quem conta os factos de outro modo inverte a. A mim importa-me muito particularmente restabelecer a verdadeira situação das cousas. Fallo de mim e dos meus amigos, não posso referir-me aos outros partidos, mas creio que fizeram o mesmo. Todavia nada tenho com isso.

Porventura eu ou algum dos meus amigos politicos, ou alguem que podesse ter caracter de representar o meu partido, procurou o digno prelado, ou o sr. presidente do conselho, ou algum dos ministros para solicitar uma conciliação politica com elles?

Se alguma cousa se tentou n'este sentido, não foi da nossa parte, asseguro-o pela minha honra; não desminto aqui ninguem, mas é certo que não foi nenhum de nós que solicitou essa conciliação. Sendo isto assim, o que acontece é que o ministerio do sr. bispo de Vizeu, não quero saber se foi elle, mas o digno prelado não podia rasoavelmente pertencer a um gabineie de que a idéa capital era opposta ás suas, e s. exa. não pediu a sua demissão quando esse ministerio intentou a conciliação, o que acontece, digo, é que não tendo sido o partido regenerador que se dirigiu ao governo para pedir a conciliação, nem tendo sido tambem o partido historico que deu esse passo, o que acontece é que foi o governo quem se dirigiu a estes dois partidos, e dirigiu-se-lhes solicitando uma conferencia em casa de um digno par, que é membro de um d'estes partidos, para se tratar da conciliação.

E eu já aqui narrei o que se passou então. O sr. bispo de Vizeu declarou-me por essa occasião que não podia entrar no ministerio de conciliação; entendia que a conciliação era uma necessidade, era um parenthesis aberto na vida dos partidos muito necessario nas circumstancias em que estavamos, mas que se elle não era homem para entrar n'essa conciliação, nem por isso deixava de reconhecer que ella era da maior conveniencia.

Depois d'isto, sr. presidente, não comprehendo como se póde apresentar essa conciliação com o caracter commercial, e por consequencia com um caracter odioso, porque se o commercio é nobre, digno e justo nas suas diversas manifestacções legitimas e naturaes, não é nas questões politicas.

Como é que o digno par, depois de ter reputado a conciliação dos partidos uma necessidade politica, vem hoje dizer que é um acto de mercancia que lhe repugna! Que de contradicções.

O sr. bispo de Vizeu, diga-se a verdade, é um homem importante pelo seu grande tirocinio parlamentar, e pela sua muita pratica da tribuna, e é por isso mesmo que estas contradicções se tornam mais estranhaveis.

Eu pela minha parte declaro que não tenho que fazer mudanças, nunca me vi forçado a faze-las; e é essa a vantagem dos que, tendo um certo numero de principies assentados, nunca se afastam d'elles em circumstancia alguma. É o que me tem succedido.

O que era a regeneração? Um ministerio em que entrou o sr. Rodrigo da Fonseca Magalhães, antigo cartista; o sr. visconde de Seabra, que tinha sido membro da junta do Porto; o sr. Jervis de Athouguia, que pertencia aos setembristas? O que era isto senão um ministerio de conciliação?

E sabe v. exa. qual foi uma das rasões por que elle póde realisar alguns melhoramentos importantes, com que tanto aproveitou o paiz? Foi porque um certo numero de partidos ou de fracções d'elles se uniram para apoiar o governo. Os membros do partido setembrista acompanharam-nos até 1856, quasi que constantemente, e os diversos membros dos outros partidos fizeram o mesmo.

Depois, em 1859, tive a honra de ser chamado aos conselhos da corôa, em virtude tambem de uma conciliação de partidos. Entrou n'esse ministerio o sr. Sá Vargas, que está presente, e um dos homens mais honrados e a quem mais deveu a liberdade, o sr. duque da Terceira. Não foi tambem este ministerio um ministerio de conciliação? De certo que o foi.

Depois em 1865, fui novamente chamado aos conselhos da corôa em virtude de uma conciliação com o partido historico. Entraram n'esse ministerio, como representantes do partido historico, o sr. Barjona de Freitas, e v. exa. sr. presidente; e as reuniões para se chegar a esse accordo fizeram-se em casa do sr. duque de Loulé, que tambem não era meu amigo politico, e que assim deu a esse ministerio o sêllo de ministerio de conciliação.

Todos estes ministerios foram, como o digno par vê, ministerios de pura conciliação. Portanto tenho procedido sempre de accordo com os meus principios, seguindo as doutrinas da conciliação.

A conciliação é uma necessidade, e sobretudo quando as circumstancias do paiz a aconselham.

Quando se tratou d'este assumpto, eu disse, e repito-o agora, que o sr. marquez d'Avila era ainda, mais que o sr. marquez de Sá, o homem apropriado para formar um ministerio de conciliação. E por uma rasão muito simples: porque o sr. marquez d'Avilla e de Bolama nunca tinha pertencido a nenhum partido exclusivo, o que lhe é hon-