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DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO 629

governo adoptou o systema de não responder ás cousas mais serias. Ainda ha pouco o sr. marquez de Vallada se referiu a um facto, que era nada mais, nem nada menos do que um camarista de El-Rei accusar o governo de consentir que se aggredisse a pessoa de Sua Magestade, e o ministerio não se defendeu, não se dignou responder, e tem guardado o mais obstinado silencio, ouvindo mudo e quedo as mais acres arguições.

O sr. marquez de Vallada fallou de uma maneira tão forte e tão acre, que o governo tinha obrigação de se levantar immediatamente para repellir com dignidade a censura.

Não o fez, porém; a dignidade do governo não se resentiu, e a unica resposta que obteve o digno par foi o silencio do sr. Fontes!

É verdade que depois vi o digno par n'um colloquio tão amoravel e intimo com o sr. Fontes, que me pareceu que o sr. marquez de Vallada se contentava com as explicações que o governo lhe dava em voz baixa; se s. exa. póde contentar-se com essas explicações em particular, a camara, porém, é que não póde ficar satisfeita quando o governo se recusa a declarar a sua opinião, e como pensa n'uma questão d'esta ordem; tanto mais sréia e grave, quando se refere ao chefe do estado.

Quando se trata de um assumpto tão importante, e os membros do poder executivo não dizem o que tencionam fazer com relação á defeza do chefe do estado, devemos ficar sabendo que as palavras proferidas no parlamento são palavras soltas ao vento, e que o governo tem um profundo desprezo pelo systema parlamentar, o que eu lamento. Feito o meu protesto, tratarei de fazer as reflexões convenientes para tirar de sobre mim a responsabilidade que deve provir da approvação d'este projecto.

Sr. presidente, a organisação de uma escola de cavallaria parece-me inutil, ou pelo menos dispensavel, porque, até hoje, nos corpos d'esta arma têem-se feito a maior parte dos serviços que se destinam á escola que se pretende estabelecer. Os nossos regimentos de cavallaria têem mostrado sempre que são compostos de bons officiaes e soldados, e que podem rivalisar com os das outras nações.

Parece-me, pois, que nas circumstancias difficeis em que se acha o thesouro, e ameaçados, como estamos, de uma nova crise commercial, não devemos votar despezas de que se póde prescindir.

Póde ser que eu esteja enganado, mas este projecto, segundo os meus calculos, não comprehendeiido as despezas da installação da escola, deve trazer uma despeza excedente a 100:000$000 réis. E para que se vae fazer esta despeza tão avultada?

Segundo se diz no mesmo projecto, é para tres cousas: - para ensinar as recrutas, para dar ensino aos cavallos e para habilitar theorica e praticamente os alferes graduados, para depois subirem á effectividade d'este posto.

Emquanto ao ensino das recrutas e cavallos, tem-se feito até hoje nos corpos, e com vantagem, porque os regimentos de cavallaria, quando têem bons officiaes, apresentam-se perfeitamente bem disciplinados.

E é para estranhar, sr. presidente, que o governo, que está acostumado a ir copiar tudo o que se faz no estrangeiro, pozesse de parte, n'este assumpto, o que se segue nos paizes mais adiantados, como por exemplo, na Allemanha, França, Austria e Russia, pois em nenhuma d'essas nações existem escolas de cavallaria com o intuito d'esta que se pretende estabelecer em Portugal.

Em Hespanha é que ha uma escola de cavallaria, em Alcalá de Henares, com uma missão que se approxima á que o sr. presidente do conselho pretende organisar; mas essa escola é muito moderna, e não se sabem ainda os resultados que produzirá.

Portanto, parece-me que o governo teria andado mais avisadamente se deixasse estabelecer esta nova instituição nos paizes mais adiantados e que têem exercitos mais numerosos, e aos quaes procuram dar toda a instrucção e aperfeiçoamento, de fórma que appareçam bem organisados e satisfaçam ao fim da sua instituição, e não a implantasse entre nós sem serem conhecidos os seus resultados.

O governo vae onerar o paiz com uma despeza bastante grande, que á primeira vista se afigura importar apenas na verba designada no projecto, e da que provem da tabella A; mas que ha de duplicar ou triplicar, segundo costuma acontecer e como tem succedido com outras instituições que, depois de creadas, assumem largo desenvolvimento.

Esta escola, sr. presidente, não é só de instrucção pratica, ensina tambem pontos de sciencia, é uma escola theorica.

Se o governo entende que é acertado este systema mixto, parecia-me conveniente que, prescindindo da auctorisação que discutimos, mandasse estabelecer na escola do exercito, onde já existe a gymnastica e a equitação para exercicio dos alumnos, uma escola onde elles se adestrassem a manejar as armas e a andar bem a cavallo.

O governo póde reformar a escola do exercito, estabelecendo ali um curso publico, junto do theorico. Isto comprehende-se e isto daria resultados proficuos.

Outro inconveniente que resulta da creação da escola de cavallaria é a falta que os recrutas fazem nos corpos, pelo serviço que vão logo fazendo, com limpeza de cavallos, etc.

Nos corpos de cavallaria gasta-se muito tempo no ensino de recrutas, mas tudo isto serve e é util, porque os vão aclimatando áquelle modo de vida, e vão-se habituando a viver debaixo de disciplina; ao mesmo tempo os officiaes estão n'uma certa actividade pelo trabalho e serviço que têem.

D'aqui para o futuro não ha de acontecer assim, alem de ser mais difficil para os officiaes conterem na disciplina os soldados que tiverem concluido o ensino pratico fóra do regimento.

Sr. presidente, o movimento e a actividade é indispensavel para o official.

O ensino e o serviço com os recrutas desenvolve uns e aperfeiçoa outros, e os recrutas vão-se habituando ao commando dos seus chefes novos pouco a pouco, e dos superiores ao serviço dos seus soldados, o que traz certa amisade e confiança, o que é muito util no exercito.

Alem d'isso o recruta vae fazendo sempre serviço no corpo, e á proporção que vão adiantando assim o seu serviço se torna mais aproveitavel.

Por consequencia, não me parece que a escola de cavallaria, nas condições que se vae organisar, seja necessaria e de vantagens, muito principalmente porque já tivemos um deposito de recrutas em Torres Novas, e a experiencia demonstrou-nos a sua inutilidade. Pois esse deposito era uma escola como esta, com a differença de custar muito menos.

O sr. Fontes não sabe gastar senão á larga.

Esse deposito de recrutas ficou sem resultado, porque os recrutas íam para os corpos com um ensino defeituoso, de fórma que ali tinham de ser de novo adestrados e ensinados para poderem entrar no serviço.

N'um paiz como o nosso devemos fazer com que os serviços, quer militares, quer civis, se estabeleçam com a maior economia.

Não digo que não empreguemos as diligencias possiveis para acompanhar, guardadas as devidas proporções, as nações mais adiantadas no desenvolvimento da sua administração; mas desejo que ao mesmo tempo procuremos fazer as cousas em harmonia com as posses do nosso thesouro, sem desperdicios, nem exagerações de despezas incompativeis com as nossas forças financeiras.

Como já disse, não me consta que haja nos paizes estrangeiros escolas da natureza d'esta que o governo deseja crear; e, decerto, as haveria se n'elles se entendesse que eram necessarias.

Em França, onde se procura dar toda a instrucção á ca-