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Sessão.de 17 de Abril de 1917

Vai vivendo como pode e adaptando-se .às mudanças de hábitos, a que as autoridades a obrigam, pacientemente, mas queixando-se com justíssimos motivos.

Proibiu-se o Carnaval.

A cidade esperava os três dias de folguedos carnavalescos e o Governo proíbe, sem preocupação alguma, que esses folguedos se realizem.

Vozes:—Fez muito bem.

O Orador : — Também é essa a minha opinião. Todavia, não posso deixar de reconhecer que o não devia ter feito, pela forma como o fez. A proibição devia ter sido anunciada com certa antecipação para evitar transtornos às pessoas e comerciantes, que já se haviam preparado para naqueles dias -realizarem o seu negocio.

 resolução inesperada do Governo causou graves transtornos e sérios prejuízos a muita gente.

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Todos estes casos inexplicáveis trazem descontente a maior parte da população de Lisboa, e se é certo que ninguém se queixa em voz alta, não é menos certo que a meia voz as imprecações contra uma tal situação são constantes e da parte de quási todos os lados, e não são já contra o Governo, mas sim contra a República.

Há ainda o caso da broa. Ainda há pouco foi toda a população.de Lisboa forçada a comer broa de milho, mas de milho confessadamente avariado.

Eu, fui um dos que tiveram de comê-la.

Tam mal, porém, se dava o meu estômago com tal espécie de alimento, que fui forçado a comprar na Manutenção Militar pequenos pães em forma de bolinhos que •custavam $40 cada.

Comia-se broa em Lisboa, mas dizia-se mal da República. E, Sr. Presidente, o •coro 'desse mal dizer ia avolumando-se, à proporção que o povo de Lisboa ia compreendendo que só ele era obrigado 'a

esse sacrifício, pois que fora das barreiras da cidade continuava a venda do alvo pão de trigo, chegando a afirmar-se que ali o iam buscar automóveis de Ministros.

O Sr. Ministro do Interior (Mousinho de Albuquerque): — Lastimo que V. Ex.a, por quem tenho uma alta consideração e estima, .que vem desde criança, venha aqui reproduzir boatos, que sabe serem absolutamente infundados.

0 Orador: — Mas isso podia dar-se mesmo, sem ser do conhecimento dos Srs. Ministros.

As senhoras, na sua simplicidade, podiam muito bem pedir .aos chauffeurs que trouxessem o pão branco de trigo. -

Eu também pedia a uma pessoa amiga que me trouxesse pão de Algés. Não me custa fazer esta declaração, não está mal a ninguém fazer isto, tanto méis que não compreendo como os estômagos dos indivíduos de íora 'de Lisboa tenham mais direitos do quê o meu.

1 Esta foi outra prova! Agora vamos à terceira prova.

j V. Ex.as tem mudado tudo, até tem mudado as horas!

Mas esta mudança das horas, feita a capricho, sem o devido estudo, causa transtornos importantes, como, por exemplo, no rápido para Espanha, que não pode ligar com o de lá, pois em Espanha não mudaram as horas, como nós, ou antes como o Governo.

Temes agora outra melhor!

j Os teatros fecham às 12 horas e as carreiras dos carros eléctricos terminam às 11 horas!

A população de Lisboa, que more ncs extremos da cidade, não tem transportes para ir para casa depois das 11 ho:as. Eu e muitas outras pessoas, por esta fornia, estamos privados de ir ao teatro, pois só os ricos podem gastar quantias relativamente avultadas para se transportarem de automóvel.

Por todo este jogo de disparates em que vivemos, desgosta-se toda a gente e o país é que não se volta contra o Governo, mas diz mal da República.

Eu queria que V. Ex.a, Sr. Ministro do Interior, ouvisse -o que por aí se diz.