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10 DE JANEIRO DE 1968 2171

como espécie de lema pedagógico, uma admiração de fascínio e gratidão pelo Sr. Presidente do Conselho, o que servia de incutir mais fé e confiança nos destinos da Nação sob o comando supremo daquele insigne estadista.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A segunda figura, o Dr. José Manuel Videira Pires ...

O Sr. António Santos da Cunha: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Com todo o gosto.

O Sr. António Santos da Cunha: - Peço licença a V. Ex.ª para acrescentar algumas palavras às que acaba de proferir sobre a figura verdadeiramente nacional do antigo Deputado Sr. Dr. Bui de Andrade, que, após uma vida operosa, acaba de desaparecer do número dos vivos. O velho lavrador e insigne político que, como V. Ex.ª acaba de brilhantemente referir, esteve presente em todas as iniciativas que foram necessárias para que Portugal retomasse os trilhos sãos que tinha abandonado, exerceu as altas funções de lugar-tenente da Ordem do Santo Sepulcro em Portugal, lugar onde prestou ao País também altos serviços.
Como humilde, o mais humilde membro desta notabilíssima Ordem, tão Intimamente ligada a Santa Sé, entendi dever fazer ressaltar esta nota.
Sobre a morte do antigo Deputado Videira Pires, a que V. Ex.ª começou a referir-se, quero apenas que aqui fique a minha bem sentida lágrima de saudade.

O Orador: - A segunda figura, dizia eu, o Dr. Videira Pires, que foi Deputado na precedente legislatura, é um exemplo raro de dedicação à doutrina e às estruturas da Revolução Nacional. No liceu, na Universidade e na profissão nunca se recusou a servir quando e onde fosse preciso, e pela conversa, pela pena e pela oratória marcou, com fulgor, uma presença convincente de apologeta da restauração integral do País.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Fundador e director de jornais, conferencista e filósofo, publicista, e professor, afadigou-se em exercer o mais puro magistério de combatente de uma causa que temos por certa e imprescindível ao bom governo do nosso povo. Da sua actuação parlamentar não sei dizer o suficiente, porque não estava na Câmara; lembro apenas o desvanecimento com que ele falava de alguns vultos desta Assembleia, de V. Ex.ª, Sr. Presidente, e de outros Srs. Deputados.
A sorte (a sorte, chamemos-lhe assim) não foi mãe, mas madrasta, pura este denodado nacionalista. Apesar disso, nunca se lhe ouviu uma só palavra de recriminação ou revolta contra ela. Aceitou, resignado, os golpes da fortuna, certamente convicto de que quem vive segundo a consciência não é nunca totalmente infeliz.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Como disse, não quis fazer o panegírico destas duas figuras, díspares na idade e nas condições sociais, mas convergentes no mesmo ideal de ver a Nação restituída à sua plena verdade política. Quis apenas obedecer ao imperativo do coração e à sentença, que uma vez li, de que a lembrança dos homens bons não é, em certa medida, menos útil do que a sua presença.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Sebastião Alves: - Sr. Presidente: Hão-de passar anos, bastantes anos, para sarar todas as feridas morais e materiais deixadas por essa onda de desolação e morte que perpassou pela periferia de Lisboa de 25 para 26 de Novembro último.
Há ainda lágrimas em muitos olhos, que não se cansarão de chorar os seus mortos, e uma pesada vaga de tristeza se apoderou das populações atingidas pela dantesca avalancha de água e lama que, ao mesmo tempo que consumiu vidas e destruiu casas, pontes e estradas, deixou um fundo rasto de estragos: comerciantes sem fazenda, fábricas destruídas ou paralisadas por longos períodos, agricultores com as leiras devastadas, os gados mortos e os arvoredos perdidos!
Aias, se a catástrofe veio em dimensões bíblicas, a resposta que se lhe deu teve medidas proporcionais à sua grandeza.
Nos anais que costumam registar os vaivéns da vida hão-de figurar, lado a lado, a página negra da tragédia, com as suas mortes, destruições e privações, e a página luminosa dessa onda de caridade cristã e de verdadeiro amor ao próximo de que deram testemunho populações e governantes.
Penso ser de salientar antes de mais a acção abnegada e em muitos casos, arriscada de quantos, na densidade da trágica noite e nos dias seguintes, socorreram, ajudaram, salvaram e agasalharam parentes, vizinhos, simples conhecidos e até desconhecidos!
Admirável, espantosa demonstração de solidariedade do nosso povo!
Essa vaga de generosidade, que partiu dos centros afectados pela catástrofe, atingiu rapidamente o País inteiro e estendeu-se ao Mundo todo, dando azo a manifestações de pesar sem conta e ofertas oriundas de muitos recantos da Terra! Houve vários chefes de Estado que quiseram acompanhar-nos com o seu óbulo, merecendo um apontamento especial o de Sua Santidade o Papa Paulo VT. Merece também uma referência singular o generoso donativo da Fundação de Kalouste Gulbenkian, de 50000 contos, para construção e reparação de habitações. O gesto tem a altura do titular da Fundação e é digno dos seus actuais dirigentes!
Ainda agora, decorrido que vai mês e meio, prosseguem pelo País os peditórios, promovidos voluntariamente por gentes de todas as categorias e situações e o ritmo de entrada das dádivas do estrangeiro parece não querer abrandar.
Não sei de ocasião em que se possa ter observado tanta grandeza de alma, tanto amor ao próximo! Não sei mesmo se alguma vez foi possível em Portugal ver praticada por instituições ou pessoas tanta caridade!
Agiu-se por amor, agiu-se por devoção, agiu-se com verdadeiro espírito evangélico! E isto por toda a parte, onde quer que faltaram alimentos ou agasalhos, onde quer que se pedia um tecto.
Até a nobre e digna figura do Chefe do Estado apareceu por toda a parte com o conforto da sua palavra, a esperança da sua presença.
O Governo, em si, agiu depressa e bem. É certo caber-lhe a obrigação maior no acudir à trágica emergência. Mas onde não chegava a obrigação, entrou-se com a devoção.