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10 DE FEVEREIRO DE 1968 2417

O Orador: - Â cidade do Porto ama a sua Misericórdia e o seu Hospital de Santo António. São as suas mais antigas e mais queridas instituições. Julgam-nas protegidas na sua independência e autonomia pelos princípios fundamentais do Regime vigente, e nem o próprio liberalismo anticlerical, quer coroado, quer republicano, se atreveu a consumar violências contra elas.
O Porto, por mal conhecido, não é, muitas vezes, bem compreendido. Alexandre Herculano, em síntese lapidar, fez o retrato honrosíssimo do seu carácter colectivo e das suas virtudes.
O Sr. Almirante Américo Tomás tem-no visitado com frequência e sempre declara que estima o Porto, que sente satisfação quando lá pode. permanecer e que se honra com a qualidade de «Cidadão Portuense», que a Câmara jubilosamente lhe outorgou.
Em nome dos princípios, em nome da memória de D. Lopo e dos milhares de benfeitores da Misericórdia, em nome da unidade e da coesão interna, faço aqui solenemente um apelo para que o Hospital de Santo António não seja socializado, directa ou indirectamente, total ou parcialmente.
Não desgostemos o Porto, que só merece carinho e compreensão e que tem a maior honra e o maior orgulho em albergar no seu seio a sua Misericórdia, que é a maior instituição de caridade e assistência particular de todo o Mundo.
Como irmão e antigo mesário e estudioso dos problemas e da história dessa portentosa instituição, e como Deputado pelo Porto, senti o dever de consciência de fazer este apelo e de o fundamentar com a suficiência que o tempo disponível me permitiu.

Vozes: - Muito bem, muito bem !

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Pinto Bull: - Sr. Presidente, Srs. Deputados. Acabo de chegar da Guiné, dessa martirizada Guiné que sofre as provações desta guerra sem quartel que do exterior desencadearam vai para seis anos, mas cuja população conseguiu durante estes últimos cinco dias colocar em segundo plano as preocupações impostas por esse clima de guerra, confiante em que a defesa da província estava bem entregue nas mãos dos valorosos elementos das forças armadas, para apenas dedicar, de alma e coração, todo o seu entusiasmo e patriotismo na recepção que preparara ao venerando Chefe do Estado, quem, sem se furtar a canseiras, nem aos perigos que poderiam advir de uma visita às terras da Guiné neste momento difícil da vida da Nação, decidira concretizar a sua promessa feita há dois anos para se deslocar àquela província.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: A visita de S. Ex.ª o Presidente da República às terras da Guiné constituiu mais uma epopeia a incluir nas páginas da nossa já volumosa história pátria. Ela constituiu, como já aqui eu afirmara, mais um grande serviço que o Sr. Almirante Américo Tomás prestou ao País e é mais um cometimento a realçar o génio português, sempre pronto a defrontrar todos os perigos, sempre que as circunstâncias de momento exijam a demonstração da nossa vitalidade.
Prometeu S. Ex.ª que, em sequência das visitas a outras parcelas do mundo português, visitaria oportunamente as províncias de Cabo Verde e Guiné, e, como bom português, não deixou de cumprir a sua palavra. Sulcando os mesmos mares que os nossos antepassados percorreram, levou às gentes da minha terra os sentimentos amigos dos portugueses de todo o mundo luso e a certeza de que, neste momento difícil da vida da província todos eles se solidarizavam e tinham fé em que a Guiné haveria de resistir aos duros golpes por que está passando e cedo voltará a trilhar o caminho seguro de desenvolvimento económico e cultural que estava seguindo.
Nunca duvidei do êxito desta histórica viagem e combati sempre as tibiezas e as dúvidas de alguns velhos do Restelo que a todo o transe procuravam por palavras surdas dificultar tão objectiva quão significativa viagem.
Sinto-me hoje recompensado com a alegria que ainda conservo do feliz desfecho de tão importante visita, e, embora já estejam passadas cerca de 48 horas desde que o venerando Chefe do Estado deixou o porto de Bissau, todo eu vibro ao recordar a exaltação patriótica que o povo da minha terra entusiasticamente evidenciou durante os cinco inesquecíveis dias de contacto com a «nobre figura de português que é o Sr. Almirante Américo Tomás, um homem que, em toda a sua simplicidade e em toda a sua natural bondado, é o perfeito espelho das virtudes da nossa gente».

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Para ver e saudar tão augusta figura acorreram a Bissau gentes de todos os pontos da província e de todas as etnias e condições sociais. Todos envergaram as suas vestes de gala para vir receber e testemunhar a sua simpatia, o seu respeito e a sua gratidão ao primeiro magistrado da Nação.
Fulas e saracules de Bafatá e do Gabu, com o seu séquito de músicos e bailarinos, emprestavam certa alegria ao ambiente da cidade em festa; papéis do Biombo e prabis e balantas de Nhacra e Mansoa, com as suas danças características e coros maravilhosos, atraíam a atenção da população enquanto se aguardava a chegada do majestoso Funchal; as bijagós com os seus saiotes de ráfia e colares de búzios, acompanhadas por rapazes ornamentados de chifres, dançavam alegremente; os alegres mandingas de Farim tocavam entusiasticamente os seus instrumentos típicos e os manjacos de Teixeira Pinto e Cachou, com os seus panos característicos, exibiam-se em danças típicas, e tantos outros que se comprimiam em todo o percurso que S. Ex.ª devia utilizar até à Catedral e depois até ao Palácio do Governo.
Forças armadas de todos os ramos e os rapazes e raparigas da Mocidade Portuguesa, entremeados pela população civil, abrangendo elementos de todas as etnias, completavam o cenário deslumbrante que nessa magnífica tarde do dia 2 do corrente emoldurava as ruas de Bissau.
O Funchal acabava de atracar e S. Ex.ª o Governador, acompanhado da comissão de honra, entrou a bordo para saudar o venerando Chefe do Estado.
S. Ex.ª, sorridente e afável, recebeu no limiar do cais as chaves da cidade que o presidente da Câmara, acompanhado da respectiva vereação, lhe entregara, e iniciou-se em seguida o cortejo em direcção a Sé, onde o venerando Chefe do Estado foi recebido por S. Ex.ª Ex.ª o Prefeito Apostólico, rodeado do clero e muito povo. O Sr. Almirante Américo Tomás deu entrada na Sé sob o pálio a cujas varas pegaram os comandantes das três armas, o presidente da Câmara Municipal, o juiz de direito e o Deputado da Assembleia Nacional.
Terminado o Te Deum, o cortejo dirigiu-se para a Praça do Império regurgitando de gente e onde o Sr. Presidente da República foi de novo bastante aclamado antes de entrar no Palácio do Governo, onde teria lugar a sessão de boas-vindas, porque a sala da Câmara Municipal era pequena para comportar as autoridades civis e militares, o funcionalismo, o comércio e a população da cidade au-