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746 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 37

O Orador: - Discípulo de Marcelo Caetano na Universidade, identificado com o seu magistério político através de uma fidelidade que alguns poderão criticar, mas que ninguém terá o direito de pôr em dúvida, não se estranhará que, em momento particularmente delicado como p que atravessamos - precisamente quando mais se impõe a coesão de todos em torno de quem governa -, não se estranhará, dizia, que reafirme a minha inalterável dedicação e o apoio que o Presidente do Conselho e a política nacional que representa me merecem.
Mas também por isso mesmo hei-de sentir alguma autoridade para dizer que o discurso de terça-feira, que aplaudi com emoção e entusiasmo, não chega. Que a aprovação unânime - como é de esperar da moção que a Assembleia Nacional se propõe votar - não será suficiente.
O País aguarda, com indesmentível impaciência, a indispensável «chicotada psicológica» que proporcione a nova arrancada política que permita concretizar os princípios enunciados e os propósitos de acção que as declarações encerram.

O Sr. Barreto de Lara: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Com certeza.

O Sr. Barreto de Lara: - Queria felicitar V. Exa. vivamente por ter preferido optar por uma atitude dará e firme, sem se ter deixado aliciar pela tentação de posições demagógicas, decerto mais laceis e mais cómodas.
Por outro lado, gostaria de significar a V. Exa. - em nome das populações de Angola -, das quais acabo de receber o telegrama que, se V. Exa. me permitisse, eu leria já: «Temos a certeza de que a Assembleia Nacional confirmará a política ultramarina do Governo Central, que por ser a política da Nação é a única genuína. Cordiais cumprimentos» -, o seu acrisolado e fiel portuguesismo e que a sua única exigência é apenas a da definição de uma política firme e sem ambiguidades...

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Barreto de Lara: - Desde que Marcelo Caetano está no Poder, e até desde que Portugal chegou ao ultramar, creio firmemente ...

O Sr. Casal-Ribeiro: - Portugal ocupou-se sempre do ultramar! Isso já vem de há muito tempo.

O Sr. Barreto de Lara: - Eu sei, Sr. Deputado... Muito obrigado pela lembrança.

O Sr Casal-Ribeiro: - De nada... Que não haja confusão! Eu tenho boa memória...

O Sr. Barreto de Lara: - Eu às vezes não tenho ... é pena!

O Sr. Barreto de Lara: - Confirmando, pois, direi que reafirmo, firmemente, e repetindo-me, que as populações de Angola o que exigem é uma posição política sem ambiguidades, que, de resto, as afirmações do Presidente do Conselho não consentem.
São, efectivamente, de uma limpidez cristalina os propósitos do Governo em relação ao todo nacional.
Felicito, pois, V. Exa. pelo desassombro das suas afirmações e com elas comungo vivamente.

O Orador: - Sr. Deputado Barreto de Lara: Se a sua intervenção pode representar o eco das palavras que acabei de proferir, permita-me que por elas me felicite.
O voto que é pedido à Assembleia Nacional - e que não há-de ser regateado - só poderá ter significado pleno e válido se o País sentir que valerá a pena continuar.
Por mim, continuarei, convicto, como estou, de que, Marcelo Caetano quererá e saberá - uma vez mais - galvanizar a vontade e as energias do povo português.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Mota Amaral: - Sr. Presidente: Esteve anteontem nesta Casa o Chefe do Governo para expor à mais alta assembleia representativa da Nação a sua política relativamente ao ultramar.
Não nos limitamos, porém, a assistir à clara enunciação dessa política. Foi pedida à Assembleia Nacional uma nova reflexão sobre ela e a afirmação do rumo a seguir para futuro.
Temos, portanto, perante nós, em debate, o mais grave de todos os problemas que Portugal enfrenta, um momento que alguns não hesitam em qualificar como a crise máxima da nossa história de oito séculos.
Não vão fáceis os tempos para o nosso país. Há já mais de dez anos que tem sido preciso lutar, de armas na mão, em diversos territórios portugueses. A emigração levou-nos, entretanto, da metrópole cerca de 1 milhão de pessoas, na sua maioria gente jovem, arrastando pata a crise alguns sectores da economia. A inflação tornou-se nos últimos anos uma realidade inegável que todos sentimos, muitos de forma duríssima.

O Sr. Henrique Tenreiro: - Não tem nada uma coisa a haver com outra.

O Orador: - Isso é o que V. Exa. julga...
E tudo isto - e o mais que se poderia dizer - se desenrola num duma internacional de incompreensão e mesmo de hostilidade, que não pode deixar de causar apreensões até nos mais timoratos.
Seria, porém, falso afirmar que Portugal está à beira da catástrofe, que as suas energias morais correm perigo, que o pânico grassa entre a população por virtude de qualquer das mais e uma manobras, desde a campanha de imprensa ao terrorismo urbano, esgrimidas pelos que praticam agressão.
Há, pelos vistos, quem pareça assim pensar... são os que a todo o momento clamam por repressão, os que em toda a parte vislumbram cabalas e traições, os que sistematicamente confundem divergência de pareceres com subversão grandes inquisidores de impossíveis dogmas políticos, por si mesmo arvorados em monopolizadores do nobilíssimo culto da Pátria.
Mas a Nação vive!

O Sr. Henrique Tenreiro: - E viverá...