O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

21 DE MAIO DE 1998 2415

educar os meus filhos, não consigo calar a revolta perante a tremenda injustiça que se abate sobre todos os portugueses que não têm o privilégio de residir em Lisboa, e muito particularmente sobre os do Porto.
Não sou um regionalista. Não pauto os meus comportamentos por sentimentos de menor apreço por quaisquer outros cidadãos, muito menos por razões de origem geográfica. Mas, sabendo-se que Portugal é um País onde não abundam os recursos, com enormes assimetrias regionais, o que se esperaria é que os escassos recursos de que o Pais dispõe fossem distribuídos por todo o território nacional, por todos os portugueses, de acordo com critérios de equidade e de justiça, começando, evidentemente, pela satisfação de carências onde ela efectivamente é sentida.
Deveria ser assim, más não é, por isso, Portugal não é hoje, como não foi no passado, um país onde exista uma verdadeira e efectiva igualdade. de oportunidades.
Na verdade, sabemos, todos nós, que há portugueses que vivem em condições de vida infra-humanas e que esses portugueses estão espalhados por todo o País, de norte a sul, do interior ao litoral. E, nestas circunstâncias, será sempre demagógico pensar-se em verdadeira igualdade de oportunidades.
Mas quem pode entender que a violação deste nobre e, para muitos, utópico objectivo da igualdade de oportunidades exista mesmo quando pensamos em pessoas com rendimentos exactamente iguais?
Permitam-me, Sr. Presidente, Sr.ªs, e Srs. Deputados, que compartilhe convosco um drama que, sendo pessoal, é também igual ao dos meus vizinhos, que habitam no meu prédio, na minha rua, na minha cidade, no meu distrito, na mesma zona do País. É o drama de explicar aos meus filhos por que é que não têm as mesmas oportunidades que têm as crianças que, por exemplo, são filhos de qualquer um de vós, Srs. Deputados de Lisboa, que, em regime de exclusividade, têm um rendimento mensal exactamente igual ao meu.
Aos meus filhos, porque lhes quero falar sempre verdade, terei de lhes dizer que a vida cultural deste País está concentrada na cidade de Lisboa, e que aí, e quase só aí, acontecem os grandes eventos culturais, as grandes exposições, os grandes concertos, as grandes performances, a que eles apenas terão acesso via televisão ou, usufruindo da melhoria das vias de comunicação, percorrendo os 300 Km que os separam do centro de toda a actividade cultural.
Aos meus filhos, porque lhes quero falar sempre verdade, terei de lhes dizer que vivem num distrito onde a taxa de desemprego é o dobro da taxa de desemprego nacional e que ninguém parece preocupar-se com este facto, tão mais absurdo quanto acontece na região que é sempre referida como sendo a' capital do trabalho.
Aos meus filhos, porque lhes quero falar sempre verdade, terei de lhes dizer que quando, no passado, se verificaram situações de taxas de desemprego muito elevadas em zonas localizadas, como, por exemplo, em Setúbal, logo foram criados programas específicos para acudir a essas populações, enquanto hoje, quando é o distrito do Porto que sofre com o flagelo do desemprego, não só não podemos contar com programas especiais como o Governo lança um Plano Nacional de Emprego em doze regiões-piloto sem que nenhuma delas seja a zona mais afectada pelo flagelo do desemprego.
Até se vai mais longe e, no distrito do Porto, selecciona-se a parte do distrito - pequenina já se vê - que apresenta valores menos significativos em matéria de desemprego, talvez porque, como explicou o Sr. Ministro Ferro Rodrigues, "não nos podíamos arriscar a começar com um falhanço", parecendo com isso querer afirmar que a situação no Porto está condenada ao fracasso.
Aos meus filhos, porque lhes quero falar sempre verdade, terei de lhes dizer que, sendo certo que é sempre mau ficar doente, no Porto é bastante pior do que em Lisboa, já que, enquanto no chamado grande Porto, temos, por cada 1000 habitantes, 3,2 médicos e 5,9 camas hospitalares, na grande Lisboa há, para igual número de habitantes, 6 médicos e 7,3 camas hospitalares.
Aos meus filhos, porque lhes quero falar sempre verdade, terei de lhes dizer que se vive melhor em Lisboa do que no Porto. É o que dizem indicadores muito simples, mas significativos, como é, por exemplo, o caso do número de telefones instalados, pois os 12% dos portugueses que habitam no grande Porto têm 13,1 % do total de telefones instalados no Pais, enquanto os 18,5% de portugueses que habitam na grande Lisboa têm 25,5% do total dos telefones instalados em Portugal.
Aos meus filhos, porque lhes quero falar sempre verdade, terei de lhes dizer que, enquanto o índice de poder de compra no norte está 17% abaixo da média nacional, em Lisboa e Vale do Tejo está 43% acima daquela média e que o rendimento disponível no norte é de 31,4% enquanto em Lisboa e Vale do Tejo é de 39,7%.
Aos meus filhos, porque lhes quero falar sempre verdade, terei de lhes dizer que, sendo escassos os recursos de que o País dispõe, eles parecem ser menos escassos em Lisboa do que no restante Portugal.
Aos meus filhos, porque lhes quero falar sempre verdade, terei de lhes dizer que o último grande investimento deste século, em Portugal, foi a Expo 98 em Lisboa e que o primeiro grande investimento do século que está a chegar será o novo aeroporto de Lisboa.
Aos meus filhos, porque lhes quero falar sempre verdade, terei de lhes dizer que, enquanto em Lisboa já começam a faltar vogais para designar as vias circulares à cidade que, com menos ou mais atrasos se vão construindo, no Porto, essas vogais continuam a sobrar para as vias estruturantes que se desenham nos papéis.

O Sr. José Junqueiro (PS): - Deixe lá os miúdos em paz!...

O Orador: - Aos meus filhos, porque lhes quero falar sempre verdade, terei de lhes dizer que, enquanto em Lisboa o Governo se preocupa, e muito, com o que fazer com os edifícios da Expo quando esta acabar - e por isso, antes mesmo de esta ter início, já o Governo aprovou mais investimentos de muitos milhões de contos para adaptação desses edifícios -, no Porto não há dinheiro para edifícios que, embora muito necessários, ainda nem começaram a ser construídos quanto mais a serem adaptados ou recuperados.

O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): - Muito bem!

O Orador: - Aos meus filhos, porque lhes quero falar sempre verdade, terei de lhes dizer que enquanto em Lisboa

Páginas Relacionadas
Página 2447:
21 DE MAIO DE 1998 2447 mento, a perder, por amor da sinceridade, a generosa combatividade
Pág.Página 2447
Página 2448:
2448 I SÉRIE-NÚMERO 71 da sua responsabilidade política, de nos ter aqui apresentado um pro
Pág.Página 2448
Página 2455:
21 DE MAIO DE 1998 2455 Sr. Presidente, Sr. Ministro e Srs. Deputados: A terceira benfeitor
Pág.Página 2455
Página 2456:
2456 I SÉRIE -NÚMERO 71 agora o Sr. Deputado Calvão da Silva vem exigir essa medida de refo
Pág.Página 2456