I SÉRIE — NÚMERO 22
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da maioria falam do Estado de direito e da necessidade de o Estado dar resposta aos compromissos ou aos
contratos que celebra, mas quando o tema é cortar nas reformas o Governo já não fala em Estado de direito,
já nem fala da necessidade de cumprir contratos.
A Sr.ª Presidente: — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Vou terminar, Sr.ª Presidente.
Estamos perante uma dualidade de critérios e não compreendemos porquê. Então, o Estado de direito só
pressupõe o cumprimento de certos contratos? Esse cumprimento depende de quem estiver do outro lado?
Isto é, se quem estiver do outro lado for a troica ou os grandes grupos económicos fala-se do Estado de direito
e da necessidade de cumprir contratos; se forem os reformados já não há Estado de direito e já não há
necessidade de cumprir contratos. É assim, Sr. Ministro?
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Aiveca, do Bloco de Esquerda.
A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, Sr. Ministro, trouxe-nos o estudo
hoje. Estava a ver que não!… É que esta proposta de lei entrou no Parlamento em outubro e era sua
obrigação fazer acompanhá-la de um estudo que motivasse estas alterações. Mas verdadeiramente, nestes
últimos dois anos, Sr. Ministro, ainda não nos trouxe nada que provasse como vai a sustentabilidade da
segurança social e das suas contas. E eu bem me lembro que, quando o Sr. Ministro era Deputado nesta
Câmara, uma das exigências que fazia, e muito bem, era esta: sustentem-se as propostas com estudos. É
preciso saber tudo sobre a sustentabilidade da segurança social, é preciso saber como decorre a aplicação
das leis existentes para saber o sentido das alterações.
Ora, não é nada disso que o Sr. Ministro tem estado a fazer enquanto membro do Governo. Esqueçam
tudo o que Pedro Mota Soares disse, quando era oposição, sobre pensionistas e segurança social!
Sr. Ministro, esta sua proposta, apenas com dois artigos, altera significativamente a matriz da segurança
social e das pensões.
O senhor coloca no centro da alteração da idade da reforma o fator «sustentabilidade» e diz-nos aqui que
em cada momento, a seu bel-prazer, pode definir esse fator de acordo com os anos que bem quiser. Aliás, já o
fez agora, por via do Orçamento do Estado. Portanto, o Sr. Ministro escolhe o ano que permite aumentar mais
a idade da reforma, como agora bem fez.
Sabíamos que o fator de sustentabilidade decorria da esperança média de vida relativa ao ano de 2006,
mas agora, para ajustar e referindo que aumenta mais um ano — e não é mais um ano, Sr. Ministro, porque é
significativamente mais —, diz-nos que o ano de referência é o de 2000. Para quê? Para impor aqui um
aumento de 12%.
A Sr.ª Presidente: — Queira terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Vou terminar, Sr.ª Presidente.
Ou seja, a idade de acesso à pensão são os 66 anos, mas aplicado o fator de sustentabilidade passa para
os 67 anos.
Ó Sr. Ministro, não enganou a troica, está é a enganar os portugueses!
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado David Costa, do PCP.
O Sr. David Costa (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados e Sr.as
Deputadas, Sr. Ministro, a política de
destruição das condições económico-sociais da vida dos portugueses, a política de submissão aos grandes
interesses económicos, a política de ataque aos trabalhadores que descontam, e descontaram, décadas para
terem acesso a uma pensão de velhice mínima está lacrada neste diploma.