21 DE MAIO DE 2016
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A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados, Sr. Deputado Paulo
Neves, através de si, o PSD optou por falar de quatro anos de sucesso económico do turismo.
Sr. Deputado, eu queria falar-lhe do outro lado da moeda dos quatro anos de sucesso económico, que,
certamente não por acaso, não foram abordados na sua intervenção. Foram quatro anos a celebrar sucessos à
custa do agravamento das condições de trabalho e da retirada de direitos a milhares de trabalhadores do sector
do turismo.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — O Sr. Deputado conhece bem o sector e, portanto, sabe que a precariedade no
sector do turismo não é a exceção, é a regra. Por exemplo, é o recurso a estágios não remunerados e a trabalho
não remunerado que, no verão, aguentam serviços fundamentais e permanentes de hotéis, é o recurso a
estágios profissionais que, apesar de remunerados, respondem a necessidades permanentes, é o recurso por
parte das entidades patronais à caducidade da contratação coletiva para, depois, contratarem empresas de
trabalho temporário que pagam misérias aos trabalhadores em hotéis de luxo que recebem os turistas neste
País.
O Sr. Deputado sabe certamente desta realidade, mas falou aqui de um exemplo acerca do qual gostaríamos
de ouvir a sua opinião, falou da Ryanair.
Sr. Deputado, vou mostrar-lhe um contrato de trabalho da Ryanair, que diz que o que vai pagar a este
trabalhador são 299 € e que o horário de trabalho pode ser aumentado até 50 horas semanais. Esta é a prática
de sucesso do turismo neste País e das multinacionais, que usam e abusam da necessidade de trabalho das
pessoas para acumular lucros à custa da sua exploração.
O Sr. João Oliveira (PCP): — É uma vergonha!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Mas diz mais este contrato. Sabe o que é que diz? Diz o seguinte: «o período
normal de trabalho é de 19 horas e 62 minutos…» — repito, 19 horas e 62 minutos! — «… e é de 3,92 horas
diárias.». Sr. Deputado, isto é inaceitável! A valorização do turismo não pode ser feita à custa da degradação,
da exploração e da retirada de direitos. A valorização do turismo exige, em primeiro lugar, a valorização dos
seus profissionais.
E, Sr. Deputado, gostava também de o ouvir aqui sobre uma outra matéria que é inaceitável. Há um hotel de
luxo na capital do País, que é o Hotel Sheraton, que procedeu ao despedimento de duas trabalhadoras grávidas,
uma delas dirigente sindical, exatamente para que aquela que é dirigente sindical não possa defender os seus
colegas. O que é que o Sr. Deputado tem a dizer sobre cadeias de hotéis internacionais que despedem
trabalhadoras grávidas e depois recorrem a empresas de trabalho temporário para pagar muito menos aos
trabalhadores que suprem necessidades permanentes destes hotéis?
O Sr. João Oliveira (PCP): — Bem lembrado!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — O que é que o PSD tem a dizer sobre o outro lado da moeda do sucesso
económico feito à custa da precariedade e da retirada de direitos?
Da nossa parte, Sr. Deputado, quero que fique bem claro que o caminho da necessidade da defesa do
turismo e da importância do turismo no modelo económico do País não pode ser baseado em baixos salários,
em trabalho precário e em violação de direitos fundamentais. O PSD nunca abriu a boca para denunciar estas
coisas que aconteceram ao longo de quatro anos.
Da parte do PCP, no passado, no presente e no futuro continuaremos a estar ao lado dos trabalhadores e
ao lado do País.
Aplausos do PCP e do BE.
O Sr. Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira de Os
Verdes.