I SÉRIE — NÚMERO 69
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qualquer alteração nos horários na Linha de Sintra tem impactos num conjunto grande de comboios de
passageiros e de mercadorias que circulam nas inúmeras linhas nacionais.
Por fim, não a rejeitamos mas não temos muitas expetativas na solução que passa por recorrer a autocarros
para complementar o comboio. É fácil perceber porquê: um comboio na Linha de Sintra, com a lotação máxima,
transporta 2000 pessoas e liga todas as estações em 40 minutos; um autocarro cheio levaria 50 pessoas e
demoraria o dobro ou o triplo do tempo a fazer o mesmo trajeto. Isto significa que, se quiséssemos acrescentar
à nossa oferta o equivalente a um comboio, teríamos de injetar 40 autocarros na hora de ponta, e, como não
poderia ser na linha férrea, teria de ser no IC19. Um comboio para 40 autocarros, dois para 80 e por aí fora. E
são 660 comboios que percorrem a Área Metropolitana de Lisboa diariamente.
Foi criado um grupo de trabalho, entre a Infraestruturas de Portugal e a CP, para estudar, nos próximos
meses, uma forma de podermos injetar, pelo menos, mais um comboio por hora na Linha de Sintra. Face aos
constrangimentos da capacidade da Linha, esta é a melhoria possível.
No longo prazo, para além do aumento do número de comboios, só a quadruplicação da ligação entre o
Areeiro e a Gare do Oriente — prevista no Programa Nacional de Investimentos (PNI) 2030 — permitirá
ultrapassar as limitações que hoje nos impedem de reforçar a oferta na Linha de Sintra. Sem este investimento
na infraestrutura ferroviária não conseguimos acrescentar comboios, e durante o debate poderemos perceber
melhor porquê.
Mas volto a sublinhar: hoje, no momento em que estamos a fazer este debate, ainda não falta, do ponto de
vista global, oferta de comboios nas linhas urbanas. A procura ainda é muito mais baixa do que no período
anterior à pandemia e a lotação de dois terços é cumprida na esmagadora maioria dos comboios, mesmo nas
horas de ponta. Também teremos oportunidade de debater um pouco sobre as possibilidades de distanciamento
nos comboios.
O Sr. Carlos Silva (PSD): — E de ver as fotografias?!
O Sr. Ministro das Infraestruturas e da Habitação: — Atenção, nós não ignoramos que a tendência da
procura, daqui para a frente, será para aumentar. O que temos de garantir, isso sim, é que as melhores práticas
de segurança e defesa da saúde pública continuam a ser seguidas, que os comboios são devidamente
higienizados, que as pessoas que neles viajam usam sempre máscara e que a distribuição das pessoas pelas
carruagens evita aglomerações desnecessárias.
Sabemos todos que vivemos divididos entre pressões contraditórias: o povo depende de transportes públicos
para se deslocar todos os dias para fazer a sua vida mas também necessita de se proteger e de se sentir seguro
quando neles viaja. E não é fácil encontrar a solução ótima.
Recordo que, enquanto em Portugal vigora a regra da lotação máxima de dois terços nos transportes
públicos, em muitos países europeus — aliás, na maioria, como em Espanha, França, Alemanha, Bélgica,
Suécia, Finlândia, e por aí fora — as autoridades decidiram que não era possível fixar limites explícitos à lotação
máxima de comboios e autocarros. Não o fazem, certamente, por insensibilidade à segurança mas porque
entendem que não é possível impor limites rígidos às necessidades diárias de mobilidade de milhões de
pessoas.
Seria positivo que o País pudesse caminhar para um desencontro nos horários de entrada no trabalho,
porque isso diminuiria a pressão concentrada da procura. Enquanto isso não é possível, teremos todos —
responsáveis políticos, empresas e população — de procurar a cada momento o melhor equilíbrio entre a
necessidade de usar os transportes públicos para viver e trabalhar e o direito a fazê-lo em segurança e
tranquilidade, isto é, usá-los nesta fase para as tarefas mais essenciais na vida de cada um, nomeadamente a
de trabalhar.
Sr.as e Srs. Deputados: No que toca à habitação, o momento difícil em que vivemos só veio agravar as
dificuldades que existiam no período anterior à pandemia. Durante décadas, as políticas de habitação de
sucessivos Governos nunca tiveram como objetivo a criação de um parque público capaz de se constituir como
uma alternativa ao mercado. O antigo Plano Especial de Realojamento foi um programa dirigido apenas à
erradicação das barracas e limitado às áreas metropolitanas, mas, ainda assim, um exemplo importante do que
se fez no passado.