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II SÉRIE — NÚMERO 93

tismo em Portugal. Fizeram-se campanhas revolucionárias de eficiência e direcção muito duvidosas. Digo «muito duvidosas» porque nunca aderi a elas.

O Sr. Carlos Miguel Coelho (PSD): — Muito bem!

A Oradora: — De qualquer maneira, nessa altura havia pelo menos uma coisa que se poderia ter aproveitado: a consciência das situações, e em Portugal' essa consciência das situações é sempre remetida para longe.

Pergunto: a culpa é do País? Não é, a culpa é de cada um de nós na medida em que, depois do 25 de Abril, temos mais responsabilidade física. A culpa está duplicada ou triplicada indefinidamente.

Não quero alongar-me, havia uma outra coisa que gostava de abordar mas, como não quero estar a tirar tempo aos jovens para reflectirem, agradeço a oportunidade que me foi dada.

Porém, gostaria ainda de fazer um apelo no sentido de que não haja irresponsabilização individual. As pessoas que em Portugal se metem em grupos ou em partidos políticos, de uma maneira geral, têm tendência a irresponsabilizar-se humanamente. Dizem: «É o meu grupo, é o meu partido» ... e a responsabilidade humana vai falar.

Sem intervenção cívica, sem o poder transformador que cada homem tem, não é possível nem transformar o País nem encontrar-se um clima cultural diferente.

Devo dizer-vos que na maior parte das intervenções que ouvi pesou-me a ideia de que estava a ouvir coisas repetidas por muita-gente. Nota isso sobretudo quem vive aqui na Assembleia da República, onde os partidos marcam as suas posições, como, aliás, têm que o fazer.

As organizações de jovens, mesmo as partidárias — e aí é que há umas diferenças —, terão de encontrar, e algumas encontrarão, uma forma criativa de ver os problemas. A forma criativa está ligada às seguranças individual e colectiva e essas seguranças têm que ser construídas.

A liberdade não é outra coisa senão aquilo que diz Paulo Freire: a praxis da sua procura. É essa procura que os jovens e as pessoas de idade como eu —que até já estou na chamada terceira idade— em nenhum momento da vida podem rejeitar.

Aplausos.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra a Sr." Deputada Helena Valente Rosa.

A Sr." Helena Valente Rosa (PS):—Não vou levar-lhes muito tempo porque entendo que numa conferência da juventude e para a juventude o tempo é pouco para debaterem os vossos problemas e deixarem aqui expressos os vossos anseios.

Contudo, perguntei-me a mim mesma se devia vir aqui falar convosco, eu, que não quero dizer que seja velha, mas sou menos jovem do que vocês. Mas acho que isso é importante. Aliás, tal já aqui foi focado pela Sr." Deputada Helena Cidade Moura, e nesse aspecto podemos estar «no mesmo barco», porque viemos falar aos jovens, apesar de já não o sermos. No entanto, a nossa experiência como educadores e como pessoas que estiveram toda a vida ligadas aos jovens e à educação poderá trazer algum contributo para reflexão nesta Assembleia em que vocês são os principais protagonistas.

Em todo o caso, reservo o tempo para intervenções de fundo aos membros do Partido Socialista que aqui ainda vão intervir, não só da Comissão de Juventude como da Juventude Socialista. A vocês, com certeza, caberá aprofundar os temas que vos interessam, até porque, neste momento, os sentem mais agudamente do que nós.

De qualquer forma, sempre que vejo jovens reunidos e sempre que há movimentos juvenis, sinto uma enorme satisfação em dirigir-lhes algumas palavras, e é isso que vou fazer. Não vou fazer nenhuma intervenção de fundo, de maneira nenhuma, mas quero expressar-vos a minha satisfação por ver que os jovens tendem a agrupar-se, a associar-se, para debater e lutar pelos problemas que os afligem.

Por outro lado, também sinto grande satisfação quando se trata da discussão de problemas relativos à educação. Isso justifica-se porque toda a minha vida tem sido «educação» e toda a vida tenho lidado com jovens.

Quando se trata de uma conferência para jovens, que é feita e organizada por jovens, o assunto da educação tem de ser uma das grandes linhas de força.

Simplesmente, gostava de vos dizer que há outra coisa que me apraz ressaltar: é que vejo e sinto que vós, jovens, preocupados com os problemas específicos das vossas idades, preocupados com as vossas situações, que são diversas, estão a encabeçar uma luta colectiva não só pelos vossos problemas específicos mas também pelos problemas daqueles que são mais jovens do que vocês e daqueles que são menos jovens do que vocês.

Isso tem um valor extraordinário porque não se trata de uma luta pessoal, não se trata de uma luta caso a caso, mas trata-se de uma luta colectiva, que abarca vários pontos de vista, vários partidos políticos, várias ideologias. Estão, efectivamente, a pensar na juventude, globalmente.

Ora, há uma coisa que vocês também devem pensar: é que houve gerações anteriores à vossa. Houve a minha geração, houve outras anteriores à minha e houve outras posteriores, que também encabeçaram várias lutas, e todos nós também lutámos pelos nossos ideais. Com a sua maneira de estar na vida, com a sua vivência pessoal e com aquilo que faz na vida, cada um lutou e felizmente que o fez.

Hoje, felizmente, vivemos em democracia e isso é extraordinariamente importante.

Simplesmente, viver em democracia é muito difícil. Não se aprende a viver em democracia rapidamente, é preciso educar as pessoas para elas saberem viver em democracia. Isso não leva 10 anos nem 15 anos nem 20 anos. Ê aí que vocês têm um papel extraordinariamente relevante.

Digo «vocês» porque nós vamos avançando na idade, mas cá estamos para vos ajudar. Efectivamente, temos que pensar que são vocês os cidadãos de amanhã, são vocês aqueles que hão-de governar este país, são vocês os deputados que se hão-de sentar nas bancadas desta magnífica Assembleia da República. Portanto, serão vocês que terão a tarefa de desenvolver o País económica, cultural e sociologicamente.

Tenho a certeza de que a luta que se desenha é para que os vindouros não passem pelos mesmos problemas por que nós passámos, nem passem pelos problemas por que vocês estão a passar.