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SESSÃO N.° 3 DE 4 DE MARÇO DE 1909 5

O Sr. Conde de Paçô-Vieira: - As suas primeiras palavras serão para felicitar o Sr. Presidente pela merecida honra que recebeu, sendo eleito para tão alto cargo, e felicitar a Camara por ter escolhido para dirigir os seus trabalhos um homem que pelas suas altas qualidades de talento e de caracter é garantia segura de bem desempenhar o seu espinhoso logar.

Ser Presidente da Camara é sempre uma missão difficil, sobretudo hoje, que S. Exa. vem substituir o Sr. Fialho Gomes, que, pela correcção que manteve na sessão passada, deixou em cada Deputado um amigo e tornou inolvidavel a forma como exerceu a sua magistratura.

Prometteu o Sr. Presidente que cumpriria sempre a lei. E isso e só isso o que se lhe pede. E ninguém melhor do que S. Exa. para o poder fazer, visto que reune em si as duas qualidades de jurisconsulto distincto e brioso official.

Dá lhe uma a facilidade de estudo e a comprehensão da lei, dá-lhe a outra, pelo habito da disciplina militar, a obediencia a ella e só a ella, sem que na sua interpretação ou applicação tenha nunca de ver se é de um adversario, se de um. correligionario que se trata.

Se S. Exa. assim proceder, e ha de proceder, porque acaba de o prometter e jurar, sairá S. Exa. desse logar como saiu o seu antecessor, querido e respeitado.

Posto isto, associa-se, em nome dos Deputados regeneradores que acompanham o Governo, ao voto de sentimento que acaba de ser proposto.

Não se abre infelizmente uma nova sessão parlamentar sem que haja commemorações funebres.

E a de hoje é das de maior tristeza, não só pelo grande numero de mortos illustres que abrange, mas tambem e sobretudo porque entre elles ha nomes, de amigos intimos, nossos leaes companheiros de muitos annos.

Sem distincção de partido todos elles bem serviram o seu país e por isso sinceramente lamentardes a sua morte. O Sr. D. Gaudencio, Bispo de Portalegre, foi um prelado bondosissimo que pelas suas preclaras virtudes mereceu e teve durante a vida o respeito de todos, como tem agora, morto, a nossa saudade e a nossa veneração. E por igual sentimos tambem o desapparecimento do nobre Visconde de Reguengo que foi um collega querido e estimado; do Dr. Alvares da Silva, um dos mais notaveis advogados de Lisboa; de Licinio Pinto Leite, antigo Deputado pelo Porto e caracter primoroso; de Correia de Barros politico de alto valor e espirito dos mais cultos; de Francisco Maria da Cunha, que ao país prestou os mais relevantes serviços, perdendo n'elle o exercito uma das suas glorias e o partido progressista um dos seus membros mais respeitados.

Mas não só estes nomes contém a lista dos mortos. Ha n'ella ainda mais dois, que propositadamente o orador deixou para o fim por desejar fazer-lhes menção muito especial: são os de Jayme Arthur da Costa Pinte e de Augusto Montenegro.

Com viva saudade e com enternecido respeito evoca estes dois nomes. O primeiro de um devotado correligionario; o segundo de um leal adversario. E com igual sentimento os envolve e fala D'elles. Jayme Pinto foi um grande amigo.

Crê que o foi de todos os que o conheceram, porque conhece-lo era querer-lhe pela sua grande bondade, pela lisura do seu caracter, pela inestinguivel generosidade do seu coração.

O partido regenerador deveu-lhe muito. Nunca d'elle precisou que o não encontrasse.

E muito lhe deveu tambem o país, porque não houve emprehendimento de utilidade publica ou obra de caridade em que elle entrasse a que não desse todo o seu esforço e toda a sua energia e vontade.

Por isso, com profunda magua, todos choram a sua morte.

Augusto Montenegro foi desde a Universidade, onde se formou em mathematica, um calino e um reflectido.

De uma grande illustração e de uma educação primorosa, era encantador no trato intimo. E apesar de ser um notavel escritor e de nos ter deixado grande numero de obras de real valor sobre os mais variados assuntos, desde o livro Aguas de, Lisboa que publicou em 1893, até o da Hygiene Pullica em Portugal, de 1906, nenhuma vaidade ou pretensão de sábio ou literato empanava o brilho do seu talento.

Era extremamente modesto.

Como funccionario era modelar. E quer no ultramar, onde foi director das obras publicas de Cabo Verde, quer no continente, onde exerceu muitissimas e importantes commissões, o general Montenegro desempenhou sempre com o maior zelo, assiduidade e comprovada competencia os seus logares.

Foi tambem um homem verdadeiramente feliz. Porque póde em vida ver o filho, que adorava, ascender aos mais altos logares, conquistados unicamente pelo estudo e pelo saber, e reconhecer nelle o representante legitimo do seu honrado nome, digno herdeiro das suas primorosas qualidades e virtudes.

Ao partido progressista, que elle lealmente serviu, o ao nosso collega Arthur Montenegro, ali apresenta os protestos do seu sentimento.

(O discurso será publicado na integra quando o orador restituir as notas tachygraphicas).

O Sr. Moreira Junior: - Sr. Presidente: em nome do partido progressista representado nesta casa do Parlamento, apresento a V. Exa. os nossos cumprimentos e as nossas felicitações.

É convicção absoluta nossa que V. Exa. ha de honrar a alta magistratura em que se acha envergado, de maneira inequivoca e exhuberante. (Apoiados).

Os primores de caracter que esmaltam a personalidade de V. Exa., as qualidades sãs de que V. Exa. dispõe, a intelligencia iucida que V. Exa. possue, são virtudes de natureza a dar segurança absoluta de que V. Exa. ha de muito bem desempenhar-se d'esse cargo sempre espinhoso e muito mais espinhoso agora em que é complexa a composição da Camara.

Pela parte do partido progressista eu direi a V. Exa. que procuraremos tanto quanto possivel alliviar a ardua tarefa de que V. Exa. está incumbido, e, certamente, ha de V. Exa. demonstrar que é um illustre successor do Sr. Libanio Fialho Gomes, a quem V. Exa. dirigiu e justissimamente (Apoiados) as palavras mais sentidas e verdadeiras de admiração e deferencia, palavras que, em nome do partido progressista, a V. Exa. agradeço.

Foi Libanio Fialho Gomes presidente integerrimo na sessão passada, e com raro brilho, isenção e elevação soube admiravelmente desempenhar-se das difficeis funcções de presidente.

Tambem V. Exa. ha de honrar essa cadeira, e, ao sair d'ella, de parte de todos nós ouvirá referencias iguaes ás que está ouvindo Libanio Fialho Gomes. (Apoiados).

Finalmente, cumpre-me também, em nome do partido progressista, associar-me ás palavras justas e sentidas que V. Exa. proferiu sobre aquelles que a morte sempre traiçoeira e impiedosa arrebatou do nosso convivio.

O partido progressista foi alanceado por esta crueza inexoravel, mas embora na lista negra figurem individualidades de outras parcialidades politicas, entre ellas o partido regenerador, não ha duvida que foi o partido progressista que mais soffreu, desapparecendo d'elle figuras do maior destaque e nobreza, correligionarios leaes e dedicados, cujas qualidades ha pouco foram postas em relevo por todos os lados da Camara.

É grande, é profundo o nosso sentimento e por isso é justo que nós prestemos a nossa homenagem.