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não são menos ponderosos. No tempo da Ditadura houveram certos despachos...

Vozes: - Mais alto, mais alto.

O Orador: - Mais alto? Eu comecei fallando baixo, para que não suppozesse alguem que havia azedume, no que vou expôr; e podesse assim dar motivo a algum incidente agradavel, mas diligenciarei fallar mais alto, e com toda a moderação que me seja possivel. No tempo da dictadura, dizia eu, houveram certos despachos ecclesiasticos não quero eu que elles sejam considerados como izemptos de qualquer reforma, que o poder legislativo tenha a fazer, mas quereria que fossem sustentados até que essa reforma se fizesse, não succedeu, assim todos sabem que se fiz uma reforma na Sé metropolitana de Lisboa, e que um grande numero de seis membros foi eliminado, entrando nelle um Deputado da Opposição, quando, ao mesmo tempo, foram admittidos alguns do outro lado, que ainda que muito os respeito por seus talentos e virtude, não posso por isso deixar de observar que ha um terrivel odioso em similhante procedimento.

Sr. Presidente, a primeira e mais principal divisa d'um Governo justo e o respeito a independencia da opinião d´um Deputado, não temos, e verdade, legislação sobre isto, mas temos a lei da decencia, que deve estar gravada no coração de todos os homens. Esta lei da decencia, esta lei do decoro foi violada, foi offendida, quando se arrancou a um Deputada o emprego que tinha, porque não votava com o ministerio, porque era da Opposição, quando são conservados os do lado direito, porque votavam com o Ministerio, porque votavam contra a Opposição! Reflectindo sobre tal acontecimento, nada encontro mais escandaloso! Eu queria antes que o irmão do Ministro da Justiça fosse Arcebispo de Lacedemonía, do que aquelle que actualmente o é, mas não quereria de modo algum que o irmão do Ministro da Justiça ficasse no logar que o Deputado da Opposição perdeu... Tenho dito o irmão do Ministerio da Justiça, enganei-me, fallo do irmão do Mililitro da Fazenda com bastante difficuldade fallei neste objecto, porém elle tem dado motivo a diversas considerações, que tornam o caso mais aggravante por ser com um Deputado da Oposição, todavia fallei a este respeito para ir mais longe.

Ha poucos dias, Sr. Presidente, que se espalhou um boato, que não sei como se deva tomar, diz-se que não será somente o Sr. Castilho, que tem a passar por estes inconvenientes, diz se que ha um outro membro desta Camara, e deste lado, que tem a soffrer o mesmo: diz-se que um coronel que fez muitos e muito bons serviços, na guerra contra a usurpação, e que tinha perdido um olho na guerra peninsular, diz-se, emfim, que e um official benemerito, considerado por todos os seus camaradas como um dos mais bravos e melhores officiaes do Exercito, e que o mesmo Ministerio assim o entendeu, e por isso veio pedir a esta Camara licença para o empregar em uma commissão importante não sei se é verdade, mas dá-se tambem que o ministerio pretende demittillo ou desligallo, e pela, mesma razão que tirou o emprego ao Sr. Castilho diz se mais, Sr. Presidente, que se pretende fazer o mesmo a toda a Opposição, visto que nem aquelle foi poupado, torno a repetir, não sei se isto é verdade, mas eu quero antes prevenir este acontecimento, e muito embora se diga que eu estou mal informado, do que ver realisado o que se diz! Sr. Presidente: se taes fossem as vistas do Governo não teria duvida em sustentar, que seria o expectaculo mus escandaloso que poderia apresentar a face da Nação, e do mundo inteiro!

Muitas outras observações fez, no mesmo sentido, e fallou d'uma circumstancia que teve logar na Sessão Extraordinaria, por ocasião de se apresentar á Camara um projecto de lei, para se declararem provisorios todos os empregos, pois que pretendendo votar por elle todos os membros da esquerda, convencidos de que a sua delicadeza os obrigava a isso, muito trabalhára paia os persuadir do contrario, porquanto considerou aquella medida como um meio efficaz de tirar os logares aos bons, e darem-se sabe Deos a quem, que, não sendo empregado publico, e nem desejando sello, era inteiramente desinteressado, julgando que não lhe ficava mal fazer aquella diligencia, que muito trabalho lhe custou mas que emfim venceu, não passando o projecto: fez applicação do que acabava de dizer, ao caso de que fallára, a respeito do coronel Vasconcellos; e accrescentou, que não obstante; um seu collega, que se assenta ao seu lado lhe dizer que não é verdade, elle pode dizer que a noticia corre, e que e melhor prevenir do que depois combater, e que terminava esta parte das suas reflexões pedindo muito ao Ministerio que não lhe dê ocasião a continuallas.

Agora, Sr. Presidente, direi a V. Exca. que recebi uma carta d'Elvas, com a copia d'uma representação que os officiaes do Regimento d'Infanteria N.° 4, dirigiram ao General das armas do Alemtejo, e em que se queixam que o Governador daquella praça não consentiu que, em certa noute, se cantasse no theatro o hymno da Senhora D. Maria II, mandando, por esse motivo, sair um soldado que pedira se cantasse, e ameaçando-o de o mandar varar, se por ventura insistisse. O facto, Sr, Presidente, parece verdadeiro, não fui eu só que recebi carta, e a representação; muitos outros Deputados receberam o mesmo, e porque conheço o Governador da praça d'Elvas, confesso que estou perplexo, quando medito sobre isto. Este homem, que em 1828, quando se levantou o Porto, não hesitou um momento em marchar com o seu Batalhão, que estava em Thomar, procurando dirigir-se com elle ao Porto, e que proximo a Coimbra, sem saber o que alli se passava, mandou alli, segundo minha lembrança, um José Silvestre Ribeiro, que hoje está Secretario em uma das Prefeituras, examinar o estado da Cidade para se decidir por onde devia continuar a sua marcha, e que pelo mesmo José Silvestre soube que e havia feito o levantamento na Cidade no da que alli entrara, partindo a communicar-lhe (na companhia d'um irmão meu) em consequencia do que entrou em Coimbra, sendo por sinal a primeira tropa que la se: viu este homem, que sempre seguiu o caminho da honra, pelejando como um bravo, e conduzindo-se constantemente com a maior honra, este homem que tantas acções heroicas praticou, que tantas provas deu da sua adhesão e amor á Carta da liberdade, é aquelle que se oppõe em um theatro a que se cante o hymno da Rainha! Teria elle pira isso ordem do Ministro da Guerra? Não, porque o Ministro da Guerra e o nobre Duque da Terceira, e não he possivel que tal mandasse. Teria instrucções do General da Provincia tambem não, a maior parte dos membros desta Camara o conhecem, e sabem com certeza que não podiam dimanar delle. De quem seriam então? Não sei, mas e isso que se deve averiguar, e para se conseguir, mando para a meza a representação que recebi, e peço aos Srs. Ministros, que presentes então, tomem isto em sua consideração, para darem as medidas que julgarem convenientes. Agora, Sr. Presidente, tratarei d'outro objecto.

Na noute em que Sua Magestade foi ultimamente ao theatro de S. Carlos, fez-se, não sei porque autoridade, grande distribuição de bilhetes, e se é certo o que m'informam, a maior parte delles foi offerecida a officiaes militares, tambem me consta que o maior numero delles, não os quiz acceitar, honra lhes seja dada. por um tão nobre procedimento! Diz-se que não foi só uma autoridade que fez esta distribuição, e a este respeito muitissimas cousas tenho ouvido, mas o que eu tenho para mim, é que elles não luram dados de graça: nessa não cahia o empresario, que alguem os pagou não tem duvida, e que eu supponho