O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

SESSÃO DE 17 DE JANEIRO DE 1890 73

Tenho sido sempre cauteloso sobre este ponto.
Ha dez annos, quasi successivamente, tenho assento n'esta camara. Jamais fiz perguntas intempestivas sobre questões internacionaes. Pelo contrario, mais de uma vez disse que os assumptos internacionaes não podem ser tratados ligeiramente. Não se podem entregar ao arbitrio de qualquer joven e fogoso deputado, que se lembre de pedir a palavra, as questões mais arduas e difficeis da politica internacional de uma nação pequena.
Desejo, pois, que o governo siga o caminho, que lhe tracei, porque me parece o unico que poderá evitar ao paiz futuras difficuldades; quem sabe se mais graves do que a que atravessâmos!
Estou, portanto, ao lado do governo, sem paixão, sem animosidade para lhe dar a força unica de que posso dispor: a minha palavra, se alguma cousa vale.
Entendo ser este o verdadeiro patriotismo. Fui e vou na esteira do sr. Julio de Vilhena.
Quando s. exa. se levantou aqui, antes de hontem, e magoado se queixou de que o seu previdente plano das estações civilisadoras fora recebido com indifferença pelo paiz, foi-lhe, em resposta, vibrada uma phrase de effeito. Todavia, a prudencia e a justiça estavam d'ali, e d'aqui havia apenas rhetorica.
O parlamento não é uma sala de conferencias, em que as discussões e resoluções têem pequena influencia nos destinos da nação.
O patriotismo no parlamento deve revestir as formas mais positivas e serenas, embora deva attingir a mais elevada essencia.
Felizmente, sr. presidente, os sentimentos elevados da alma humana, entre os quaes avulta o amor patrio, não são peculiares a uma classe, a um partido, a um grupo de cidadãos.
O coração humano é igual. Em qualquer parte onde pulse um coração portuguez, é justa a indignação pela affronta recebida, mais ainda, é ligitimo o proposito de vingança.
Acho generosas todas as manifestações ordeiras da grande alma popular, justa reacção contra o inaudito acto da força de uma potencia, que se dizia aluada e amiga.
Apraz-me sinceramente ver a mocidade portugueza elevar bem alto o enthusiasmo publico, embora n'um ou n'outro rasgo patriotico a paixão toque as raias da phantasia.
São nobres todas as paixões que têem por origem um sentimento verdadeiro; são legitimos os que derivam dos direitos offendidos e da justiça menoscabada.
O parlamento, porém, a reunião dos legisladores deve ser gravo e sereno; as paixões violentas não cabem, certamente, aonde devem apenas imperar o grave raciocinio e a fria resolução dos negocios publicos.
Quando a nação olha para nos e nos pede a nossa opinião decisiva, o nosso dever é pensar maduramente, discutir serenamente e, grupando-nos em volta do governo nacional, dar ao mundo uma prova de energia moral e da prudencia das nossas decisões.
A paixão, se por um lado é má conselheira, por outro esgota rapidamente a força de vontade, que é a origem de todas as resistencias serias.
Sr. presidente, esta serenidade não exclue o proposito do desforra. Como os individuos, os povos devem vingar-se dos actos injustos, de que foram victimas. A vingança, porém, deve ser serena e pertinazmente preparada.
Sr. presidente, se um esculptor de genio quizesse dar fórma á vingança, represental-a-ia com physionomia energica, serena, quasi sorridente...
É necessario que as forças vivas das paixões justas se concentrem bem no fundo da alma portugueza, para que um dia, mais cedo ou mais tarde, possamos castigar a violencia do governo inglez.
Com juizo, com prudencia, alliando-nos solidamente com os melhores elementos da nossa raça, conservaremos a nossa autonomia e a integridade nacional.
Sr. presidente, o paiz que attenda a isto e, com a enorme força da sua opinião sensata e bem dirigida, que impilla os governos timidos para medidas energicas e producentes.
A Inglaterra precisa de severa lição.
E ha de tel-a. Creia o paiz, no dia em que possamos contribuir para lhe arrancar Gibraltar, a Inglaterra terá perdido uma parte da sua grandeza.
Tenho dito.
O sr. Ministro da Marinha (João Arrojo): - Tomando a palavra n'este momento, faço-o mais por consideração pessoal para com o illustre deputado que acaba de fallar, do que propriamente por obrigação do responder a s. exa.
O sr. Fuschini no seu discurso, apaixonado e erudito, como são sempre as orações de s. exa. apenas fez, quasi na sua totalidade, considerações que tivemos o maior prazer em ouvir, mas que não exigem uma resposta.
Fez o illustre deputado referencia a uma pergunta realisada hontem na camara dos dignos pares pelo sr. Barjona Freitas. Se essa pergunta não pôde, por motivos obvios, ter ali resposta por parte do meu collega dos estrangeiros, o sr. Fuschini podia prever desde logo que succederia aqui o mesmo, se porventura ella fosse repetida n'esta casa.
S. exa. tambem se alargou em varias considerações sobre um plano de allianças, que julga conveniente para o paiz de que todos nos honrâmos de ser filhos (Muitos apoiados.), e a esse proposito explanou qual a sua opinião sobre o caminho a seguir pelo governo, bordando, sobretudo, a critica completa e acabada, como todas as que s. exa. faz, do conflicto que deu origem á demissão do governo progressista.
Comprehende-se que não me pertence n'este momento analysar, nem a origem, nem a causa, nem a conclusão d'esse conflicto. Vão a quem toca, as considerações de s. exa. e por certo, nas sessões posteriores, esses que tomaram a si proprios a responsabilidade, virão á barra responder pelo seu procedimento.
Ao partido regenerador, que está no poder, competem as responsabilidades só desde o instante em que os respectivos ministros tomaram conta das suas pastas; e póde o illustre deputado ter a certeza e póde tel-a toda a camara, de que esses ministros hão de timbra em conservar sempre bem alto o nome portuguez, (Apoiados) e que nunca hão de preferir, nem por um instante, sequer, a sua conservação n'estas cadeiras, a ver, por um erro qualquer, maculada a nossa bandeira. (Apoiados.)
S. exa. conhece bem de perto os homens da regeneração; conhece não só aquelles que foram chamados aos conselhos da corôa, mas todos os que apoiam o partido representado hoje por uma minoria parlamentar, mas que porventura póde ser amanhã uma maioria.
S. exa. sabe que aquelles, a cujo lado combateu, nunca pozeram nem os seus habitos de escola, nem os seus interesses pessoaes, nem mesmo os interesses partidarios ao serviço de uma causa que, ainda no mais pequeno ponto, podesse offender os interesses vitaes do paiz. (Apoiados.)
Dito isto, sr. presidente, vou referir-me ao unico ponto que me levou a pedir a palavra; isto é, ás observações do sr. Fuschini, em referencia aos bons e compostos conservadores.
S. exa. referindo-se, aliás com muito elogio, aos ministros, disse que não podia deixar de qualifical-os do bons e compostos conservadores, accentuando que é sobretudo na pleiade dos novos no ministerio que reside essa qualidade, sendo esses portanto os que hão de timbrar em ser conservadores.
Disse s. exa. uma profundissima verdade! Conservadores, de certo, como membros, e soldados fieis do partido regenerador, mas tendo essa politica conservadora que fez tudo