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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

tem sido opposição franca, aberta e completa, posto que leal. A minha moção traduz mais uma vez os meus sentimentos de hostilidade politica ao governo que está presente, ao governo que aqui nos prometteu que tis lições da historia não haviam de passar despercebidas e que havia de obedecer mui restrictamente ao pensamento das economias e reformações, que desde a revolução de 1868 têem sido o lemma e o mote de todas as bandeiras ministeriaes. Desde então ainda não houve uma situação politica que ousasse arcar frente a frente com estes principios que são o credo do paiz, que são ainda mais, são um artigo de fé {apoiados).

O governo que no seu relatorio nos disse que algumas economias fez, vendo agora que essas economias, pela demonstração fulminante do sr. Mariano de Carvalho, não se effectuaram senão em virtude de actos independentes da vontade propria, retrata a confissão que havia feito, e recua da affirmativa primordial (apoiados).

São notaveis as contradições que quotidianamente se manifestam nas orações produzidas pelo governo e por aquelles raros, que pertencem á maioria e julgam do seu dever defende-lo melhor ou peior. Estas contradições estão na ordem do dia, nem podiam deixar de estar, attendendo ao terreno falso pisado por s. ex.ªs

O governo apresentou-se partidario das economias. No seu relatorio tinha-se ostentado partidario acérrimo d'essa grandiosa idéa, mas depois da resposta que o sr. presidente do conselho deu ao sr. Mariano de Carvalho, já recua, já foge, e já invoca a liberdade que s. ex.ª tem de não aceitar a discussão n'este terreno, naturalmente porque não favorece a sua argumentação senão á da opposição (muitos apoiados).

É uma cousa singular que o governo que tem por si uma facilidade de palavra, que todos nos lhe conhecemos, se arrogue ao mesmo tempo o direito de escolher a occasião propria para responder!

E singular o facto que se está dando constantemente, invocando-se o adiantado da hora, a falta de tempo e o direito que s. ex.ªs tem de escolher o terreno para o debate (apoiados). Nunca respondam, não por falta de argumentos, que os têem de sobra, mas porque nunca chega a opportunidade.

Estou persuadido que a opposição não ha de morrer tão depressa quanto seria o desejo de s. ex.ªs, e como ha de continuar a aggredir segundo o seu direito e dever, hão de s. ex.ªs concordar una a vez que chegou a opportunidade.

Ora, quando julgarem que soou a hora de desenrolar a sua vasta e terrivel argumentação, então a opposição mostrará eloquentemente, com a verdade palpavel dos factos, que tem muitas, successivas e fulminantes respostas contra s. ex.ªs e que na aljava não lhe faltam settas (apoiados).

Na orarão do sr. presidente do conselho, em que respondeu aos ataques do sr. José Luciano, disse s. ex.ª que por mais que tivesse excogitado o orçamento, por mais que o tivesse folheado, estudado e versado, não se lhe tinha deparado mais nenhuma economia a fazer, mais nenhuma reducção a praticar.

E credo politico do governo que no orçamento nada ha mais a cortar, que nenhuma reducção ha a fazer.

Noto a confissão de s. ex.ª, porque a responsabilidade d'ella há-de caír muito brevemente sobre a cabeça do governo. Não ha mais reducções a fazer. E ponto assentado, comtudo na commissão de fazenda que funcionou durante a sessão transacta, composta por muitos dos personagens mais respeitaveis do partido regenerador, lá se apontaram muitas economias (apoiados) que o governo não enxerga!

Alguns d'estes cavalheiros que firmaram com o seu nome o parecer da commissão de fazenda na sessão passada, e entre elles o sr. Barjona de Freitas e o sr. Sampaio affirmavam perante o paiz, e não tiveram duvida em o fazer, que muitas economias e reducções se podiam obter e ainda mais, chegaram a aponta-las. Desciam da these á hypothese (apoiados).

Parece que o meu amigo e collega o sr. Mariano de Carvalho se soccorreu a este argumento e foi encontrar na parecer da commissão de fazenda da sessão transacta algumas d'essas economias apontadas por deputados, que não sei se eram da opposição ou da maioria ao governo de então, porque a sua posição era mais que duvidosa, mas que, com certeza, estão consubstanciados como o gabinete actual, porque fazem parte d'elle. De sorte que ha quatro mezes entendia o partido regenerador que, era possivel cortar no orçamento mas agora já não. Bem disse o illustre presidente do conselho! Ha um abysmo entre o pensar o o fallar quando se está na opposição e quando se está no governo. N'aquella occasião o partido regenerador aspirava a ser governo, e por isso julgava muito possivel e facil effectuar largos côrtes no orçamento da despeza. Agora trepou, engatinhou, marinhou o partido regenerador ao poder. E logico que já não veja economias nem reducções que fazer. Tudo isto é logico.

Alteri tempi, alteri pensieri! (Apoiados.)

O sr. presidente do conselho, estadista que muito respeito, não só negou que no orçamento se podessem fazer mais algumas reducções, mas emprazou a opposição a que apresentasse as economias que entendia que podiam ser feitas. É muito commodo este modo de governar. O governo apresenta o seu pensamento financeiro. Esse pensamento financeiro traduz-se principalmente em aggravar os impostos existentes e em crear outros novos (apoiados). De accordo, completamente de accordo. Cada um encara as questões conforme o seu temperamento e os seus raciocinios. O governo que tem tendencias gastadoras, lança novos impostos; a opposição que tem tendencias economicas não quer lançar por ora novos impostos, porque entende que ainda se podem fazer reducções na despeza (apoiados). Diz, porém, o governo, pela voz auctorisada do sr. presidente do conselho se a opposição entende que mais economias são possiveis no orçamento, que se podem fazer mais reducções, que se póde levar a fouce economica mais longe, apresente as suas ideas e o seu plano.

Já disse que acho este systema demasiadamente commodo, mas tambem muito pouco digno. O governo serve para lançar novos impostos e aggravar os existentes. As economias são para a opposição! Mas a este como que desafio do sr. presidente do conselho quando nega que no orçamento sejam factiveis mais economias, responde o parecer da commissão de fazenda na sessão transacta, tambem assignado pelos srs. Barjona de Freitas e Sampaio. E ainda mais, a opposição não tem a menor duvida em apresentar brevemente as economias que entende que se podem fazer (apoiados). Vira breve (apoiados).

Tive a honra de pertencer á commissão de fazenda da ultima camara que foi dissolvida. Essa commissão entendeu que devia discutir grave e seriamente o orçamento. Era um dever que lhe impendia para responder aos clamores da opinião publica. Começamos a discussão sem o menor azedume, sem as menores tendencias de opposição ao governo (apoiados), apenas com o proposito firme, honrado e convicto de cortar no orçamento aquellas despezas que se nos affigurassem menos fundamentadas. Os representantes do partido regenerador que fizeram parte da commissão de fazenda, nunca aceitavam os côrtes, e levantavam-se sempre contra todos os alvitres propostos no sentido de verificar algumas reducções. Já os representantes do partido reformista e do partido historico se prestaram a cortar no orçamento. E eu cito a auctoria todos os cavalheiros que fizeram parte d'essa commissão (apoiados). Então o partido reformista tinha a bonhomia de acreditar que na discussão do orçamento não podia haver divergencias politicas, que todos deviam estar concordes no pensamento de reduzir quanto possivel a despeza antes de appellar para o augmento do imposto.

Essa bonhomia teve a devida recompensa. E agora mesmo a está recebendo do actual governo. Sobre esta nossa primitiva innocencia desfecha o illustre presidente do con-