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suadido que não se necessitava de negociação alguma, elle seria o primeiro a pôr cobro a essa desordem. (Apoiados.) Sua santidade não se recusaria a tomar todas as providencias que tendessem a terminar essas desintelligencias e desordens escandalosas que tem tido logar.

É que se lhe apresenta sempre a falsa asserção de que o padroado portuguez não tem missionarios precisos, e que os padres propagandistas são absolutamente necessarios para o serviço espiritual daquella christandade. Eu vou dar uma prova evidente de que a verdade não se tem apresentado ali como ella é, que a têem arredado, que a teem falseado.

Com effeito, chegando ao conhecimento do santo padre a interpellação que aqui leve logar a lai respeito, fez elle expedir ordens aos vigarios apostolicos da India, para que dessem conta exacta e circumstanciada da existencia ou não existencia do facto. Que aconteceu? Aconteceu que os vigarios apostolicos responderam que nas missões da India tal facto se não tinha dado!

Vou apresentar á camara um documento veridico a este respeito. Diz um jornal semi-official da missão da propaganda fide, o seguinte:

«Porém os vigarios apostolicos soberanamente declararam que nunca em suas missões se deu tal caso como aquelle, que no discurso do barão (aliàs visconde) de Ourem se insinua ter acontecido; nem tão pouco ouviram fallar de similhante occorrencia era outra qualquer missão. As respostas dos vigarios apostolicos já foram enviadas para Roma. »

Ora, depois d'esta tão positiva e formal negativa dada a inquirição que sua santidade mandou fazer, appareceu o padre Luiz, sectario da propaganda, e movido pelos remorsos da sua propria consciencia escreveu uma carta ao actual governador geral de Goa. e confessou em todas as suas partes esse horroroso facto de que mais detidamente me occuparei logo.

Entretanto vou passar á conclusão que dimana com toda a força do que acabo de referir, e vem a ser, que quanto mais o santissimo padre procura saber a verdade, tanto mais se lh'a occulta, negando descaradamente factos cujos vestigios são indeleveis, e que têem deixado traços ominosos da mais insupportavel deshumanidade e barbaria praticados por aquelles que se apresentam como ministros do Deus da verdade e da paz.

O nobre visconde de Ourem tem meios sufficientes para poder defender-se das accusações que lhe são feitas n'este documento, e por isso não fallarei n'esta parte.

Acabei de me referir a uma caria dirigida ao actual governador geral da India, o qual e o seu secretario não têem poupado esforços para defender a causa do padroado portuguez quanto n'elles cabe.

É a do padre frei Luiz secretario da congregação da propaganda fide, que n'essa carta declara o que houve a tal respeito, carta que está publicada no Boletim official do govêrno da India, onde diz que um dos nossos missionarios linha sido desenterrado de dentro da igreja, porque elle linha confessado reconhecer o padroado portuguez, que linha sido esse missionario excommungado, e que apesar de ler na hora da morte esse mesmo sacerdote pedido os ultimos sacramentos, nenhum dos ecclesiasticos se resolvêra a absolve-lo!!! Por aqui vê a camara qual é a santidade da religião que esses missionarios propagam! (Apoiados.) Ena suprema hora do passamento, em que o homem o mais barbaro se não nega a dar soccorros ao seu similhante, que esses missionarios se recusaram a acudir a um sacerdote!!! E não só negam esses soccorros espirituaes e piedosos, mas insultam ainda mais o cadaver d'esse ecclesiastico, pois que os seus ossos foram desenterrados do logar onde estavam e lançados ao monturo!!! Os homens que levantam aliar contra aliar, religião contra religião com tal fereza, não sei o que poderão fazer de bom.

Sr. presidente, esta offensa feita a um homem morto não é feita só a elle, é feita á nação portugueza e ao direito do real padroado, porque esse homem por ter reconhecido este

direito é que foi assim ultrajado; e preciso que nós entendamos as cousas como ellas são.

Mas, sr. presidente, se esses homens são levados ali pelo espirito de religião, por que não dão elles melhores exemplos áquelles povos? Quer V. ex.ª e a camara saber quaes são os exemplos de virtude que elles ahi dão? Como fazem as conversões? Lerei dois trechos de um documento official. (Leu.)

Eis-aqui quaes são os modelos que elles apresentam de santidade e de religião, é dizendo que os sacramentos prestados pelos padres que não são da propaganda são nullos, é dando estes escandalos de polygamia!

Sr. presidente, estes factos, que eu espero que o governo faça chegar ao conhecimento de sua santidade, facilitarão as negociações; porque é impossivel que o summo pontifice possa tolerar similhantes abusos.

Espero, pois, que o governo empregue mais energia n'esta questão. Era natural que os negocios se pozessem primeiro no statu quo, e que depois se negociasse; mas não é isto o que se fez, e a demora que tem havido nas negociações que se alongam sem fim é toda em prejuizo nosso. Cumpre portanto ao governo portuguez, não só tratar de abreviar as negociações, mas tambem tomar uma posição energica. Chamo a attenção do sr ministro dos negocios estrangeiros a este respeito. Mas ha uma outra circumstancia que eu não posso deixar passar: é necessario que o paiz saiba o que se tem feito até agora durante mais de vinte annos que as negociações têem durado; o paiz não tem conhecimento de que se tenha feito cousa alguma; sempre se lhe promette que em breves dias virá o resultado das negociações; o anno passado ouvi dizer dos bancos dos srs. ministros que, com quanto não se podessem concluir as negociações, segundo as esperanças do govêrno, o protocollo appareceria para se poder julgar das diligencias que se tinham empregado. Eu, sr. presidente, como o governo não acaba, como o acto governativo é continuo, não considerando os individuos que ahi se sentam (indicando os logares do ministerio), mas sim a entidade=»governo =, peço aos cavalheiros que actualmente a compõem, que aceitaram a politica dos seus antecessores, a satisfação da promessa que o ministerio passado fez; peço que o governo traga aqui o protocollo. Eu espero da parte do sr. ministro dos negocios estrangeiros, zeloso como elle é, portuguez que tem mostrado em differentes occasiões a grandeza do seu coração, que dê mais um documento de que se até agora se não tem colhido melhor resultado é porque não se tem podido conseguir. Longe de mim dizer-lhe uma só expressão de censura a este respeito; mas não posso deixar de lhe fazer este pedido, e espero que s. ex.ª o aceite, e que apresente á camara o estado dai negociações antes de findar a sessão.

Permitta-me tambem o nobre ministro que eu faça uma observação em relação a um ponto que s. ex.ª tocou. Reconhecendo o nobre ministro que as provincias ultramarinas podiam dar-nos grandes vantagens, apresentou o mappa das despezas que a metropole tem feito com ellas, e disse que só a falla de recursos é que a linha inhibido de fazer o que convinha. É pois de justiça e do dever de s. ex.ª que venha quanto antes pedir meios para aquellas provincias, e seja o govêrno quem traga as propostas necessarias para ellas, pois não é pela iniciativa da camara que os meios se lhe hão de fornecer; quando o governo está convencido de que grandes vantagens deve trazer ao paiz o melhoramento daquellas provincias, e elle que esta no estricto dever de nos apresentar as propostas necessarias, e emquanto não as apresentar a sua responsabilidade cresce tanto mais quanta for a demora que houver na apresentação d'ellas, quanto mais profunda é a convicção que elle tem de realisar Ião importantes melhoramentos.

Peço pois ao nobre visconde de Sá que não demore a apresentação das medidas que elle julgar convenientes para poder fomentar as nossas provincias do ultramar da melhor maneira possivel. Eu reconheço que o nobre visconde tem feito alguma cousa, louvo mesmo algumas das medidas que tenho visto publicadas pelo governo; e acredite s. ex.ª que nessa parte, lendo tomado muitas medidas legislativas em