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292 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

sempre bem dirigidos, n'uma escala mais elevada do que os nossos recursos comportavam, concorreram poderosamente para chegarmos ao estado em que nos encontramos. Portanto ambas estas opiniões são um pouco exageradas, e o meio termo parece-me que era o que mais nos convinha (apoiados).
Agora, no que estou de accordo com os illustres deputados, é em que nós temos incontestavelmente progredido no melhoramento das condições economicas do nosso paiz, e essas condições talvez tivessem mesmo dado um passo mais rapido do que os nossos recursos o permittiam, em relação ás nossas finanças... Não me occorre o que ía a dizer...
(Interrupção do sr. ministro da fazenda, que se não percebeu.)
O Orador: - Não era isso... é o mesmo. Mas a nossa situação, segundo o meu modo de pensar, não aconselha o seguir nem um nem outro systema exclusivamente; e se se debatessem as idéas de uma maneira exclusiva em qualquer d'essas escolas, fosse qual fosse a que prevalecesse, estou persuadido, de que os interesses do paiz soffreriam muito com isso. É necessario progredir, mas progredir de maneira que os capitães empregados n'esse progresso não venham a produzir um resultado igual áquelle que Camões nos conta
Do qual, quasi afogada, em pago morre.
Quando não houver descripção e prudencia na execução d'essas obras, ha inevitavelmente abuso de um principio, aliás muito aceitavel.
Diz-se que a prosperidade, que nós, relativamente, temos alcançado, é devida ao emprego que temos feito da nossa actividade para o desenvolvimento material do paiz. De certo dentro de certos limites.
O que porém eu devo dizer é que os individuos que dizem isto como opinião exclusiva são muito modestos, porque eu entendo que elles concorreram para o desenvolvimento e prosperidade do paiz, tornando, como governo, a iniciativa de medidas que deram em resultado o não termos ha dezoito ou vinte annos perturbações serias da ordem publica (apoiados). Esta é a expressão mais cabal e mais completa do progresso de uma nação, e se nós temos progredido incontestavelmente, é porque temos tido, a par da ordem, a liberdade, visto que, sem que uma cousa sirva de garantia á outra, nenhuma d'ellas deixa de ser precaria.
Nós tinhamos progredido pouco se nos contentassemos só com os effeitos beneficos d'esta existencia que temos atravessado, e pela qual não podemos deixar de confessar, que têem muita gloria em homens que trabalharam para isto, occupando aliás uma posição que lhes dava responsabilidade, se não conseguirem estes resultados. E eu digo isto a respeito de todos, porque hoje em dia é muito difficil fazer a distincção entre uma escola e outra. Se essa distincção é facil no momento actual, logo que avançamos um pouco é difficil. O que era elogio hontem, é vituperio hoje, e eu pela minha parte não tenho rancor ou odio politico a ninguem, e até me parece que esse sentimento me devia pesar bastante e ser-me altamente desagradavel.
Eu entendo que as nossas recordações politicas, ainda que tratemos de pôr em comparação os nossos sentimentos, servem-nos de pouco, porque para fazer essas recordações para com a política é muito tarde, e para com a historia é muito cêdo. Falta o interesse pelo lado da política e a imparcialidade pelo lado da historia. Mas a verdade é que esses individuos, que atravessaram tão grandes crises, e que pela sua energia conseguiram que a tranquillidade publica nunca fosse alterada durante tantos annos, mantendo a par d'isso toda a liberdade compatível com o estado da nossa civilisação, devem ser respeitados sempre (apoiados).
Eu ouço dizer a todo o momento, pensemos no futuro. Pois eu entendo que devemos tratar mais do presente. O futuro, acho-o completamente garantido desde que me garantam o presente. As difficuldades são todas de momento, e são principalmente difficuldades no modo, na fórma, porque se manifestam. Se o sr. ministro da fazenda tivesse no orçamento o deficit collocado em divida consolidada, e não tivesse o desequilíbrio entre a receita e a despeza na fórma de divida fluctuante, com certeza s. exa. não se achava n'estes embaraços. As difficuldades não são organicas, são principalmente de methodo.
Isto o que demonstra é que, vencida esta difficuldade e não se tornando a facilitar a existencia d'ella, nós saímos effectivamente d'este mau caminho.
Para isso é preciso empenharmo-nos na adopção d'aquelle principio de que se não deve crear uma despeza sem ao mesmo tempo se crear receita para ella (apoiado), de que se não deve acompanhar o papel fiduciario de promessas, sem haver a respectiva existencia metallica, que deve na occasião da exigencia ser necessaria á troca, para que o agio não seja augmentado, e o agio das esperanças descontadas tem subido muito no mercado politico.
Para isso não acontecer, o sr. ministro da fazenda não propõe só um projecto de emprestimo, propõe tambem projectos de impostos.
Mas o que tambem é verdade, e que é justa a consideração de que é desagradavel na occasião actual, quando se fazem economias, algumas das quaes são duras, a fórma de algumas das quaes é violenta, que as nossas difficuldades financeiras nos levem a realisar d'estas operações; porque é duro nas circumstancias actuaes, mais do que em nenhuma outra circumstancia, quando o governo se vê obrigado a exigir sacrificios a uma classe respeitavel da sociedade, que nós nos vejamos na triste necessidade de deixar de tirar todo o partido d'essas economias por termos de recorrer a operações que hão de trazer grandes encargos, e a actual traz encargos pesadissimos.
Eu já disse que um dos primeiros motivos que me movem a votar a generalidade do projecto em discussão é a consideração de que a parte principal d'este emprestimo é destinada a substituir por encargos de differente natureza os encargos que actualmente pesam sobre o estado.
Os encargos que se vão contrahir não são de certo inferiores aos que existem, mas collocam-nos n'uma posição muitíssimo menos desagradavel.
Pois alguem ignora qual é a posição do um ministro da fazenda, que quinze dias antes de estar obrigado a fazer um pagamento consideravel não sabe se o portador das letras, pela importancia d'este pagamento, está disposto a renova-las ou não?!
E isto aconteça frequentíssimas vezes. Muitas vezes succede que ha individuos com creditos sobre o governo, o qual não sabe quinze dias antes da epocha do pagamento se as letras poderão ser renovadas ou não.
Veja se em que circumstancias se acha um ministro da fazenda com relação a estes pagamentos. Tem havido occasiões em que para se fazer o pagamento de um mez, que importa em 1.000:000$000 réis, o governo não tem senão 100:000$000 réis.
Isto não está mesmo em harmonia com a existencia do nosso deficit, ou com o desequilibrio entre a receita e a despeza, que é mais devido a circumstancias extraordinarias e ao systema que temos adoptado do que á circumstancia que muitos acreditam, e é a de tomarmos encargos com que não podemos.
Prestei toda a attenção ao sr. ministro da fazenda, e animei-me a propor a reducção do capital de que se trata, porque me pareceu ouvir a s. exa., segundo a nota que tomei, que este banqueiro ou outro qualquer não duvidaria reduzir a importancia do emprestimo de que nos occupâmos.
Não desejo tirar d'aqui consequencia alguma a respeito da significação positiva ou categorica que possam ter estas observações, mas na minha opinião entendo que a reducção de 1.000:000 libras não inhabilita o governo para satisfazer aos seus encargos, e ao mesmo tempo mostra que da nossa parte estamos dispostos a recorrer ao elemento de