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tes, mas sobretudo á minha consciencia. {Vozes: — Muito bem.) E creia o nobre deputado que ella ha de ficar tão tranquilla como a sua, depois d'este negocio.

Diz-se, esta questão é uma questão politica. Eu não a posso considerar assim. Para mim é uma questão de administração. (Susurro—Vozes: — Falle, falle.) Apresentando uma moção de ordem, creio que tenho o direito de a fundamentar; mas se a camara julga que não devo usar da palavra, não obstante a consciencia do meu direito, curvar-me-hei á sua decisão. (Vozes: — Falle, falle.) N'esta, nem em qualquer outra questão, tenciono fazer opposição systematica e acintosa a estes, nem a outros ministros que estejam naquellas cadeiras. (Apontando para as cadeiras dos srs. ministros.) Desadoro a opposição systematica e acintosa. Nunca a farei senão quando me convencer de que o governo põe em perigo as liberdades publicas, ou os ministros que o compõem, são reconhecidamente deshonestos. (Apoiados prolongados.) Isto é condição da minha organisação moral, a camara já sabe que sou naturalmente excentrico. Não farei nunca opposição systematica e acintosa, mas não serei nunca ministerial systematico e acintoso. (Apoiados.) Sr. presidente, eu tambem tenho horror pelo monopolio, e parece-me que o mostrei bem, ainda não ha muito tempo n'esta casa.... (Uma voz: — Isto é um mysterio. — Susurro.) Senão posso fallar.... (Vozes: — Falle, falle.) Eu tinha muitas reflexões a fazer, não quero abusar da benevolencia da camara, mas entendo que tenho direito de fundamentar a minha substituição. (Vozes: — Tem, tem; falle, falle.) Dizia eu, sr. presidente, que tinha tambem horror aos monopolios, e que tinha, dado mais provas d'isso de que ninguem na importante questão do caminho de ferro. Tenho ouvido levantar agora aqui muitas vozes contra o monopolio do tabaco, mas ainda não ouvi levantar n'esta occasião uma só voz contra o monopolio dos vinculos; (Apoiados) contra o monopolio da terra, que é o peior de todos os monopolios. (Prolongados apoiados. — O sr. Fontes: — Apoiado, apoiado.) Estimo e honro-me muito de ser apoiado pelo meu nobre amigo, o sr. Fontes, mas permitta-me s. ex.ª que lhe pergunte com toda a veneração que me preso de tributar-lhe, com que medida dotou s. ex.ª o paiz a este respeito, durante cinco annos que esteve no poder? (Repelidos apoiados.) Não duvido das suas boas intenções, mas sinto que adiasse a realisação d'ellas para mais tarde, e sinto que não convenha agora no adiamento do monopolio do tabaco que é infinitamente menos importante do que o monopolio da terra. (Muitos apoiados — agitação.) S. ex.ª leria caído não menos dignamente do que caiu, se fosse victima dos seus principios n'esta questão. (Apoiados.)

Sr. presidente, uma das rasões por que eu não posso votar a regie, com a qual aliás sympathiso, é porque não tenho confiança sufficiente na acção fiscal do governo. (Susurro.) Não se maravilhe a camara d'esta declaração, que já devia esperar de mim. Isto é uma questão de confiança, e a confiança não se impõe, inspira-se. E nem o acta d'esta administração, nem os de quantas a tem precedido inspiram em mim esta confiança. Pois quando um illustre deputado que se senta nos bancos superiores, entre outros, tem levantado frequentemente, queixas tão justas e clamorosas contra o contrabando que se está fazendo. (O sr. Pegado: — Peço apalavra sobre a ordem.) Quando se diz aqui alto e bom som que entram centenares de pipas de aguardente e vinho pela raia; quando o contrabando de cereaes nos annos abundantes avultava a milhares, de moios de trigo; quando as eiras situadas na raiasão de uma tal fecundidade reproductiva que se semeia n'ellas o trigo, nasce, cresce e se debulha em poucas horas----(Riso,)

O sr. Pegado: — Peço a V. ex.ª que faça entrar o sr. deputado na ordem.

Muitas vozes: — Está na ordem, esta na ordem; falle, falle; isto é uma tyrannia.

O Orador: — Sr. presidente, o ultimo dos meus illustres collegas de quem eu esperava uma intolerancia Ião-descomedida como injustificavel, (Muitos apoiados.) era o illustre deputado que me interrompeu. (Apoiados.) Modere s. ex.ª a sua impaciencia e o seu zêlo pelo regimento, e seja mais coherente comsigo mesmo. Porque é que o sr. deputado não teve a mesma intolerancia com um dos nossos illustres collegas que hontem tomou a palavra sobre á ordem e não concluiu pôr mandar para a mesa proposta alguma? (Apoiados.) Que motivo dei eu ao nobre deputada para me chamar á ordem? Pois porventura não estarei no ordem, quando fundamento uma proposta que mandei para a mesa?

Vozes: — Está na ordem; falle, falle.

O sr. Rebello da Silva (com vehemencia): — Aqui esta o regimento: falle, que ninguem lhe póde coarctar esse direito.

O Orador: — Eu detesto todos os despotismos, e mais do que todos o despotismo parlamentar, que é a negação do principio em virtude do qual aqui nos reunimos. Reconheço a superioridade da intelligencia de todos os membros d'esta casa sobre a minha, mas não reconheço a supremacia dos seus direitos que são iguaes aos meus. (Vozes: — Muito bem — apoiados.)

Sr. presidente, pois quando nós todos sabemos que centenares de pipas de aguardente, e milhares de moios de trigo illudem a fiscalisação ou a corrompem; pois quando um chefe de uma alfandega tem a imprudencia de dizer pela imprensa, que se os empregados seus subordinados recebem alguma cousa dos contrabandistas é menos como preço da corrupção, do que como esmolla, (Sensação.) e que não consta que esse empregado fosse ainda corrigido com uma demissão prompta, é que se nos vem aconselhar que se entregue mais este ramo de fiscalisação ao governo, que não sabe, não quer ou não póde fiscalisar as receitas publicas? Pois aonde entra uma pipa de aguardente ou um meio de trigo não podem entrar centenares de arraieis de tabaco? (Apoiados.)

Sr. presidente, a occasião de emprehender a régie é a mais inopportuna. Eu desejava que o zêlo dos illustres impugnadores da arrematação, me acompanhasse na grave e impreterivel questão da reorganisação do serviço fiscal, só depois da qual eu entendo adoptavel a régie, (Apoiados.) na questão da melhor arrecadação das receitas publicas, (Apoiados.) na questão do monopolio das moratorias, (Apoiados.) na questão do monopolio dos exactores da fazenda que estão alcançados com o thesouro, (Apoiados.) no monopolio que disfructam os arrematantes e rendeiros de bens nacionaes que ainda devem o preço das suas arrematações e das suas rendas, (Apoiados.), na questão do monopolio das accumulações, (Apoiados) na questão das ajudas de custo aos diplomatas e dos direitos de mercê aos agraciados com titulos e condecorações. (Muitos apoiados.) Tudo isto são verdadeiros monopolios, porque tudo são excepções ás regras de uma boa administração. (Apoiados.) Derrubemos primeiro estes monopolios e depois ¦ tratemos de derrubar o contraio do tabaco, que ainda assim, bem regulado e definido não é tão feio como o pintam. É para este campo que eu chamo os meus illustres collegas de todos os lados da camara, que eu chamo o proprio govêrno no interesse da fazenda publica e no interêsse da moralidade. (Apoiados.)

Sr. presidente, uma cousa ha n'esle paiz que tambem é monopolio d'elle, e a que eu tenho tanto medo, que se não corrigirmos as tendencias desvairadas que se vão desenvolvendo de dia para dia, receio que nos veremos mais tarde n'uma situação infinitamente mais difficil do que aquella em que nos achâmos collocados. Refiro-me á empregomania que invadiu a nossa população, e que arreda das funcções reproductivas que convem aos nossos interesses economicos. (Apoiados) Procura-se um homem para administrar uma fabrica, para trabalhar n'um escriptorio de commercio, para explorar uma granja, e não é facil encontra-lo. Vaga um emprêgo publico, embora mal retribuido e mal estipendiado, são centenares a pretende-lo.

O sr. Ministro da Fazenda (Antonio José d'Avila): — Apoiado, apoiado; é verdade.