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foram comprar ao imperador da Austria os caminhos de ferro do cslado? Não sahe tudo isto o illustre deputado?

O sr. Barros e Sá: — V. ex.ª dá-me licença?

O Orador: — Pois não!...

O sr. Barros e Sá: — Sei tudo isso, mas tambem sei com certeza que em março d'este anno v. ex.ª disse n'esta casa, que alguns capitalistas francezes se tinham associado com mr. Peito, e que a companhia estava formada. Isto foi depois da promulgação do decreto do imperador dos francezes; por consequencia se depois d'esse decreto a companhia estava organisada, já contava com os obstaculos provenientes d'esse decreto.

Se v. ex.ª duvida do que eu digo, posso mostrar-lhe o Diario da Camara.

O Orador: — Eu duvidaria muito mais do Diario da Camara do que do illustre deputado.

O sr. Barros e Sá: — Agradeço a v. ex.ª, mas não deve transtornar a ordem das idéas que aqui apresentei.

O Orador: — O que posso assegurar ao illustre deputado é que só mudei de opinião, quando recebi a participação do sr. Petto, acompanhando o decreto promulgado pelo imperador dos francezes, e dando-me conta de que os capitalistas que com elle estavam associados, depois d'esse decreto entendiam que não podiam estar associados. Não sei nada de datas, e digo ao illustre deputado que não leio nunca os meus discursos segunda vez.

Tenho uma grande repugnancia em rever os meus discursos, por uma rasão muito especial = porque não os estudo =. Se eu tivesse a premeditação do discurso, não apresentaria um tal desarranjo de observações como apresento. Confio nos meus discursos escriptos, mas confio muito mais na minha consciencia, e eu era incapaz de ler em meu poder a communicação d'esse individuo, e dizer aqui o contrario do que elle me indicava.

Mas, sr. presidente, quando nós dizemos que não estava na nossa mão obter melhores condições, suppõe o illustre deputado que isto é um rasgo de imaginação, que isto é uma consequencia do favoritismo, como já se tem dito? Eu podia mandar ao illustre deputado (mas não é preciso, porque de certo o lê) o Moniteur dos Interesses Materiaes, e creio que é o ultimo numero d'este jornal que ha em Lisboa, é do 1.º de agosto, e ahi verá o illustre deputado, que nações como a Hollanda encontram difficuldades em fazer caminhos de ferro. Pois a Hollanda que é capaz de fazer milagres, a Hollanda que se póde dizer que transformou o mar em terra, que conquistou verdadeiramente o terreno que possue, acha-se na maior difficuldade em fazer caminhos de ferro, e comtudo é a nação mais cheia de credito, é a nação onde não se attentou contra os possuidores de titulos de divida fundada, é a Hollanda que entendeu que as nações podem e devem pagar mais para satisfazerem as suas dividas, principio contrario ao que se proclama n'outros paizes.

Sr. presidente, se o illustre deputado me permitte, eu leio o que se diz n'este artigo; elle é muito comprido; é verdade que, como não é meu o discurso, não tenho muita repugnancia em o ler. (O sr. Barros e Sá: — Compare-o com os seus discursos.) Admirável, sr. presidente! Eu digo ao illustre deputado que já esperava esse áparte, sem d'elle estar prevenido. Isto faz-me lembrar aquelles que, vendo navegar a remos, se impacientam e dizem: «Pois navegar á véla não é mil vezes melhor, não é mais economico, não, mais rapido? Sabem como se destroe este argumento de um modo efficaz, heroico e decisivo? É respondendo: cessou o vento. No credito é assim; porque não havemos de ir a remos? Porque não podemos ir á véla. (O sr. Barros e Sá: — Creio que vae á véla.) Oxalá que os illustres deputados me ouvissem com tão boa vontade, como eu os ouço a elles, e eu realmente não acho nunca deslocadas as espirituosas observações dos meus adversarios; pelo contrario, acho que estas questões em que póde haver graves erros, mas em que creio que todos se fazem reciprocamente justiça, convem que sejam tratadas de uma maneira que o paiz possa ganhar. Por muitos inconvenientes que tenha este contralo, e eu não o quero discutir agora, vi-lhe uma grande vantagem. Por éster contrato dava-se um grande inconveniente, havia uma interrupção em um ponto importante da linha, mas parece-me que havia uma grande vantagem em se poder contar dentro em tres annos com 200 kilometros de caminho de ferro, feitos pelo preço de 25:000$000 réis o kilometro. E por esta occasião permitta-me a camara que diga: eu já fiz caminhos de ferro muito baratos, mas era no tempo em que outras nações tambem os faziam; agora o que me parece que não fiz foi um caminho de ferro tão barato, como fez um illustre deputado por Aveiro, que subiu á tribuna e disse, que não havia nada tão facil como transformar a estrada de Coimbra em caminho de ferro; era só assentar os carris; e sabe v. ex.ª com que despeza? Com a despeza de 10:000$000 réis por légua! (Riso.)

O sr. José Estevão: — Não é isso: eu tomarei a palavra, (Vozes: — Era a de Mogofores.)

O Orador:. — O illustre deputado sabe muito bem que a estrada de Coimbra, na maior parte dos pontos do seu transito, não se presta a preencher o destino de uma boa communicação accelerada; o illustre deputado que a conhece tão bem ou melhor do que eu, sabe muito bem que ella offerece muitas difficuldades para se transformar em caminho de ferro; essa estrada não offerece as condições de nivel, e os raios de curva proprios para se poder converter em caminho de ferro.

Mas, sr. presidente tem-se procedido sempre assim; tem havido sempre exagerações. Ainda agora o illustre deputado que me precedeu na tribuna, esteve a dizer que a companhia passada tinha todos os meios, podia fazer tudo; mas, sr. presidente, foi pena que fosse necessario recorrer á força armada para tirar os empreiteiros de cima do leito do caminho de ferro. E permitta-me o illustre deputado que lhe diga em resposta á citação que nos fez de que n'esse caminho havia os carris para todo elle, e, seja dito, carris insufficientes pelo seu peso, e a respeito dos quaes a primeira operação que o governo tem a fazer é muda-los, porque não os póde considerar senão como carris provisorios; permitta-me o illustre deputado que lhe diga que essa grande abundancia de carris, foi precisamente um grande defeito, defeito que nós tratamos de corrigir, quando dissemos a quem nos fazia propostas: não podemos aceitar propostas senão fixando-se por cada kilometro o material com que ha de ser feito; porque este paiz já foi victima de uma tentativa sobre esse ponto. Quer saber a camara o que já aconteceu?

Aconteceu que os empreiteiros do caminho de ferro de leste, o genero em que lucravam mais era nos carris; os carris eram todo o lucro daquella obra, por consequencia os empreiteiros não faziam obras, mas forneciam todos os carris que eram precisos para toda a extenção do caminho. Eis-aqui como a existencia de grande numero de carris prova que effectivamente se fez um mau negocio n'esse ponto, e isso tratou-se de evitar actualmente. (Uma voz: — Era necessario compra-los.) Era necessario compra-los, mas o que não era necessario é que esses individuos estivessem fornecendo o genero mais valioso, para elles, do seu contrato, para na occasião em que tinham de cumprir o resto do mesmo contrato hesitarem, e ser o governo obrigado para elles suspenderem os seus trabalhos a tira-los de cima do terreno que occupavam.

Sr. presidente, eu podia citar, a respeito do custo de cada kilometro do nosso caminho de ferro, uma auctoridade insuspeita, é o do engenheiro Vatier, quando falla de custo pelo qual effectivamente se podia fazer cada kilometro do caminho de ferro por preço mais barato, e funda-se que nós o fizemos por um preço carissimo. Parece-me que os caminhos de ferro que tinhamos a fazer mais caros já os fizemos; os que fizermos d'aqui em diante já não chegarão a esse preço.

Não direi mais nada, senão que tendo isto sido considerado uma grande interpellação, e tendo o governo sido chamado a dar conta de que havia occorrido a respeito d'este contrato, o governo devia apressar-se a dar essa conta, sa-