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2246 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

gramma). Por outro lado as farinhas de maior venda são as tres, cuja media se eleva a 78 réis. E certo que estes preços são os da venda avulso, e que as grandes vendas tem sempre abatimento, nunca inferior a 5 por cento; portanto chegariamos n'este caso a 78 - 3,9 (5 por cento de 78) = 74.

Fundando-me, pois, n'estes elementos, fixo o valor da farinha em 7$400 por l00 kilogrammas, dado o direito de 22 réis. Considero este preço da venda exacto; com effeito, as fabricas vendiam a farinha portugueza ao padeiro, como o sr. ministro declara no seu relatorio, a 71,90, ou seja 12 réis por kilogramma; logo o preço da farinha importada devia ser superior. Este raciocinio é tanto mais exacto, quanto o preço de 72 réis por kilogramma para a farinha portugueza me parece excepcionalmente baixo.

Sr. presidente, confesso que a materia é enfadonha; mas peço desculpa á camara, mas não sei tratar estas questões por outra fórma, nem supponho que possam ser resolvidas por vagas dissertações.

É interessante, ainda, estudar a importação de uma especie particular de farinha, embora se faça em pequena quantidade relativa.

É conhecido o pão da luxo chamado em Lisboa, pão de Vienna d'Austria. Consegue-se este producto por um processo especial de panificação, que não vem a proposito desenvolver.

Dirigi-mo, ao habil industrial o sr. Ribeiro da Silva e recebi d'elle indicações valiosas, algumas das quaes vão admirar a camara, como me causaram estranheza. E n'este ponto seja-me licito agradecer a este habil industrial pela fórma bisarra como me franqueou alguns elementos e documentos da sua escripturação, que tenho presentes.

O sr. Ribeiro da Silva importa farinhas da Hungria para a elaboração do pão de Vienna. Os typos da fabrica húngara são sete: 0, 00, 000, 1.°, 2.°, 3.°, 4.°; affirmando-me esto industrial, que apenas importava a ultima mais inferior, porque a suppunha superior em qualidade a mais fina do nosso paiz! Tal é o estado rudimentar da industria da moagem entre nós?! Porque realmente a differença do qualidade dos trigos, por si só, não póde explicar similhante facto. A esta imperfeição das nossas fabricas terei ainda de referir-me n'outro ponto.

Os documentos originaes, sobre uma partida d'esta farinha saída de Hamburgo, tenho-os presentes e d'elles extracto os seguintes elementos, dos quaes alguns já me serviram anteriormente:

10:090 kilogrammas de farinha hungara n.° 4

No Tejo, com transporte de Hamburgo....... 623$000

Descarga para o cães...................... 5$000

Direitos da farinha liquida (9:990 kilogrammas) 219$780

Idem dos saccos (100)..................... 5$000

Trafego................................. l$509

Sellos, guias, visto etc., etc................. 450

Transporte para o caos..................... 2$925

Transporte para a padaria.................. 6$200

Commissão ao despachante................... 2$000

857$664

isto é, 100 kilogrammas custaram approximadamente réis 8$608.

Certamente não trago esto caso para exemplo; apresento-o como esclarecimento util, sobre tudo nas despezas accessorias, que o illustre ministro tratou tão de resto.

Pouco me importa também com o aggravamento de preço, quo para esta farinha resulta do augmento de direito de 8 réis, que a elevará a 94,58. O pão, que ella produz, é de luxo. Nos meus calculos tenho em vista apenas o pão do consumidor pobre.

Veja a camara, quantos elementos de correcção têem de ser introduzidos nos calculos do illustre ministro!

Desenvolvi n'este ponto o meu estudo, porque o preço da farinha é um dos dados mais interessantes do problema.

Percentagens das farinhas e outros productos do trigo red-winter n.º 2
Sr. presidente, não citarei novamente os exemplos e as experiencias, que apresentei em 1887, e das quaes conclui que a percentagem da farinha nos trigos molles do typo de red-winter não 6 inferior a 75 por cento; todavia, essas experiencias têem valor, porque foram realisadas cautelosamente sobre trigos molles das cercanias de Paris e ainda com o antigo systema de moagem por meio de mós.

Ora, o systema de moagem pelos cylindros austro-hungaros, no dizer dos entendidos e por expressa declaração dos moageiros, produz maior percentagem de farinha e apura-lhe a qualidade.

Eis, por exemplo, o que diz a este respeito o ultimo relatorio, referente a 1887, da companhia de moagem da Estrella: "essa transformação constava especialmente, alem dos melhoramentos correspondentes nos apparelhos de limpeza de trigo, etc., da substituição das antigas mós de quartzo pelos cylindros de ferro, systema austro-hungaro, adoptados como melhores no estrangeiro, que já se ia introduzindo no paiz, e se recommenda pela excellencia e maior percentagem das farinhas, accentuando-se muito a preferencia que, as fabricadas por este processo, iam tendo entre os consumidores.

"Podemos desde já affirmar-vos, tanto pela affluencia de pedidos, que tivemos desde o primeiro dia, como pela opinião da maior parte dos nossos freguezes, e pela analyso que temos feito das farinhas, que effectivamente a melhoria dos productos é notavel, e a percentagem maior, o que garante á companhia a continuação da sua prosperidade."

Podia citar ainda novas experiencias concludentes, feitas todas no estrangeiro, é certo; mas, em que trigos molles haviam produzido com as más, percentagens superiores a 75 por cento.

Queixam-se muitos de que em geral recorremos a experiencias estranhas. Que remédio ha, se em Portugal nada se faz a este respeito! Apenas havemos realisado umas incompletas experiencias sobre a moagem, a que brevemente me referirei; nada se experimentou sobre panificação, não sendo este lado da questão menos interessante.

De resto, sr. presidente, estas experiencias estranhas não são tão inadmissiveis como se pretende affirmar. Em regra vão procurar-se em paizes, que têem condições economicas similhantes ás nossas, e verificam-se sobre substancias analogas. Ninguem poderá negar que os trigos molles de Paris, que offerecem um peso medio por hectolitro igual ao palhinha (e sabe-se que entre o peso do trigo e a producção da farinha se dá uma certa proporcionalidade) não sejam comparaveis com este.

É certo, que ultimamente se fizeram entre nós algumas experiencias. Fui membro da commissão, que a ellas assistiu; posso, pois, fallar affoutamente; estas experiencias julgo-as interessantes, mas não concludentes. Em primeiro logar, as quantidades de cada trigo, sobre que recaiu cada experiencia (cerca de 10:000 kilogrammas) parecem-me pequenas. Em tal quantidade, qualquer erro (o tantas causas ha d'elles!) póde ser apreciavel. Depois houve certa pressa nas experiencias, ás vezes tres partidas differentes seguiam-se no mesmo apparelho.
Conheço os apparelhos, sei como isto se póde fazer, mas não affirmo que não seja origem de differenças e causa de erros.

De reato, n'essas experiencias uma cousa ha que me repugna: que o nosso ribeiro fino produza menor percentagem de farinha do que o palhinha, A comparação simples-