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A uma declaração porém me não posso eu eximir; sou deputado governamental, tenho-o sido n'esta legislatura, já o fui na passada e se-lo-hei sempre que me couber a honra de occupar uma cadeira no parlamento. Por mais de uma ver e em mais de um logar tenho tido occasião de declarar que sou deputado governamental, no sentido de apoiar desinteressadamente o governo em todas as medidas que a minha convicção applaudir como justas; n'este sentido sou deputado governamental d'este e de qualquer outro governo que naquellas cadeiras haja de se sentar, porque entendo que a iniciativa que todos pedimos, aquella que todos queremos, essa iniciativa rasgada e fecunda (é a expressão) em que todos fallámos, só no-la poderá dar o governo que receber do parlamento um apoio desinteressado, illustrado e sincero.

É n'este sentido que sou e que me prezo de ser deputado governamental. A camara já vê a grande distancia que vae (Peste apoio condicional, d'esta meia dedicação pelo ministerio, á dedicação sem limites, ao apoio sem restricções, que póde prestar quem, graças a uma convicção, que não invejo, mas que não censuro tambem, podér ser mais que deputado governamental, um bom, sincero e intelligente deputado ministerial.

Sr. presidente, declaro francamente o primeiro sentimento que tenho sempre, e que muita gente terá comigo, pelos homens que, largando o modesto repouso da vida privada, vão occupar aquellas cadeiras, é o sentimento de sympathia e de consideração de que se torna credor quem faz um grande sacrificio a bem do futuro do seu paiz. Chegámos a uma epocha que, tantas e taes são as difficuldades que entre nós peiam a acção governativa não ha animo, mesmo o mais temperado para as lides trabalhosas da vida publica, que não lenha como arrojado commettimento o de tomar na mão o leme do estado. Mas, por isso mesmo que a posição é mais difficil, por isso mesmo que é ardua a tarefa, e espinhosa a missão de que se encarregam os homens que ali sobem, é que eu penso que, pelo proprio impulso de uma generosidade que nenhum principio condemna, não podemos nem devemos deixar de lhes tributar toda a sympathia, de lhes prestar toda a coadjuvação que, sem quebra da nossa convicção, lhes podermos prestar, auxiliando-os assim na luta que a prudencia aconselha a que se não tente senão quando a consciencia da propria força eleva o individuo á altura das difficuldades que pretende vencer. Ser ministro é ler certas idéas, é trabalhar pela realisação pratica d'ellas, é representar n'este sentido um certo partido, é ler a assiduidade no trabalho, a illustração na intelligencia, a lealdade nos principios, a fé no coração e a convicção no espirito. (Apoiados.) Ser ministro não é o resultado de um acaso, nem uma vaidade satisfeita, nem um favor da prerogativa real, nem um apanagio de certa posição; ser ministro é ler as qualidades que indiquei; estes é que são os verdadeiros attributos de um bom ministro, com elles é que se ganham, não direi já as honras de ministro, mas a força e o credito de um bom governo, que são as verdadeiras honras para um ministro. (Apoiados.)

Sr. presidente, não sou suspeito, tenho sido sempre na minha curta vida publica coherente no meu modo de pensar. Apreciando os factos conscienciosamente á luz da minha rasão, quando me enganar accusem a minha intelligencia, mas nunca a minha consciencia. O que digo hoje tenho ouvido em mais de uma occasião da minha bôca o ministerio. Ser ministro não é adiar as difficuldades, é resolve-las; não é contemporisar com expedientes, é organisar por meio de reformas; não é transigir com os abusos, é ataca-los de frente; não é prometter apenas, é trabalhar e obrar. Se o governo realisasse todas quantas promessas se fazem no discurso da corôa, teria dotado convenientemente o paiz de todos quantos melhoramentos materiaes e moraes elle carece, e cuja realisação tem sido sempre o programma das differentes escolas politicas d'este paiz; das escolas politicas, disse eu, e creio que bem impropriamente, porque nós não temos de certo nem escolas politicas nem partidos; isso que temos são grandes associações politicas, cuja força parece residir mais no apoio de certas individualidades poderosas do que na propria influencia das idéas e dos principios. Se se lhes pergunta que artigos de fé sejam os seus, a que reforma visam na sociedade, com que meios se propõem realisa-la, a nada d'isto respondem convenientemente.

Quem ha que conhece ahi pelos artigos de um credo differente cada uma das facções que retalham o corpo social?

O que pede o progressismo historico, que não prometia a regeneração, que o partido cartista não aceite, e mesmo que o realista não tolere?

Um illustre deputado, que eu muito respeito pelo seu talento, pela nobreza e lealdade dos seus sentimentos, disse-nos em uma occasião, referindo-se a um grupo de deputados que se denominavam eclécticos ¦= que eram uma confraria =. Faço minha a sua expressão, e direi que não temos partidos, temos confrarias: a confraria do sr. José Passos, a confraria do sr. Antonio José d'Avila, a confraria do sr. Fontes Pereira de Mello, e todas quantas mais houver de instituir a piedade dos fieis. (Riso.) Mas por isso mesmo que não ha partido é que é facil ao governo o crear, pela energia da sua acção, pelo rigor da sua iniciativa, um partido que o apoie cheio de convicção e de fé.

Se tem força para isso deve faze-lo, e se a não tem abandone aquellas cadeiras, sem que se lhe preoccupe o espirito com o receio do que succederá com a sua queda; pelo meu lado declaro já ao governo que quaesquer que sejam os homens que venham depois de vós (apontando para os srs. ministros) hei de combate-los, se não fizerem mais do que vós tendes feito. (Apoiados do lado esquerdo.)

Queremos homens que governem e não nos importámos com a sua procedencia. Não pergunto a ninguem d'onde vem, pergunto a todos para onde vão. (Apoiados.) Não peço aos partidos um governo, mas peço ao governo um partido; quero, repito, que elle o crie, pelo pensamento da sua acção, pela influencia de uma iniciativa intelligente e energica, tratando e curando, perante o parlamento, da reforma em os differentes ramos de administração publica, a cujo respeito tantas e Ião instantes providencias o paiz reclama. Deveria esperar que tal reforma se realisasse, se confiasse em que o governo cumpriria tudo quanto solemnemente prometteu no discurso da corôa. A revisão da pauta, a emigração, o processo judicial, o credito, o recrutamento, a lei eleitoral, as colonias e a instrucção publica, diz a commissão no seu projecto de resposta ao discurso da corôa, mereceram a particular solicitude do governo.» Veja a camara, o governo foi solicito porque prometteu; com que epithetos classificaremos a sua actividade se em vez de prometter, cumprir o que promette? O governo falla nas nossas colonias. Sabe a camara o que isso significa? Quer saber o que são as nossas colonias? Veja-o na desgraçada questão que nos esta prendendo a attenção. (Apoiados.) Este é que é o signal symptomatico do gravissimo mal que ellas soffrem.

O governo falla tambem de emigração, da emigração de que não devêra fallar por vergonha! Sabe a camara o que é este negocio? Na legislatura passada apresentou o governo uma proposta de lei, com o fim, segundo se pensa, de reprimir a emigrarão; entendeu que a condirão essencial para conseguir esse fim era, não direi canonisar porque tanto não podia o governo, mas legitimar os engajadores dando-lhes patente, e pouco fallou para lhes dar tambem regimento nas nossas leis. Esta idéa foi mal aceita pela camara, o projecto voltou de novo a uma commissão ad hoc, e posso dar um testemunho do zêlo e assiduidade com que trabalhou a commissão; apresentou o seu trabalho, foi preterido por questões de ordem, não se discutiu, dissolveu-se depois a camara, o meu nobre amigo o sr. José Estevão renovou depois a iniciativa d'esse projecto, mas o governo que sabe que continua a emigração, que o sabe, porque o accusa a imprensa, porque o accusa a opinião publica, porque o accusâmos nós aqui, não faz seu este negocio, não promove o seu andamento, e consente que este trafico de escravatura branca continue desassombradamente. (Apoiados.)

O governo falla tambem da reforma no processo judicial. Esta reforma é de absoluta necessidade fazer-se, porque se