O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

DIARIO DA CAMAEA DOS DIGNOS PARES DO REINO 67

É grande a responsabilidade dos srs. ministros! N'estas circumstancias, sr. presidente, eu, em tudo o que reputar necessario e proficuo para a solução dos graves poblemas politicos e financeiros, estou resolvido a dar apoio ao actual governo, e a contribuir para a conciliação dos partidos.

Discurso do digno par o sr. bispo de Vizeu, proferido na sessão de 20 de março, e que se publicou por extracto n'este Diario a pag. 37, col. 2.ª

O sr. Bispo de Vizeu: - Sr. presidente, bem longe estava eu de prever a altura a que chegaria o debate, e que os illustres oradores que têem tomado parte n'elle, em logar de se dirigirem ac governo, se tenham dirigido contra mim, de modo que eu sou a victima expiatoria de todas as iras politicas.

O sr. Corvo fez um discurso brilhante, mas parece-me que empregou mal a sua eloquencia. Esteve levantando castellos no ar, e entreteve-se a destrui-los. É uma cousa bonita, mas desnecessaria.

O sr. conde de Cavaleiros accusou-me, porque eu disse que apoiava o governo? e accusou me tambem de lançar tributos, querendo tornar me responsavel por essas propostas que ultimamente se apresentaram.

O sr. Fontes disse que eu me vangloriava de ser o iniciador das economias, que fiz d'ellas uma bandeira politica, e que não queria o fomento.

O sr. Corvo, que eu gostei muito de ouvir, disse que era o syllabus, que tinha o condão da infallibilidade em politica, que impunha a minha vontade a todos os meus corre ligionarios, que era inimigo de todos os melhoramentos, dos caminhos de ferro, dos telegraphos, das estradas, etc. Mas s. exa. de certo não acredita o que disse. Tudo isto foi fructo da sua imaginação. É impossivel que o seu discurso exprima as suas convicções.

A resposta que tenho a dar, verdadeiramente não precisa ser outra senão a de que s. exa. mesmo não acredita no que disse (riso prolongado).

Eu não quero melhoramentos publicos, não quero estradas, não quero canaes, não quero caminhos de ferro, não quero cousas uteis e necessarias!... Isto não póde ser (repete-se o riso).

Vamos ao facto: deu-se o caso de uma alteração no gabinete, foi isto porém um caso da familia que não era preciso vir para aqui. Desde que o sr. presidente do conselho se se apresentou dizendo, que se havia dado aquelle facto, mas que o ministerio recomposto e completo continuava com o mesmo pensamento, para que era preciso mais, e para que considerar que havia direito a mais! O que se passa em familia no seio do gabinete, todos que tem sido ministros sabem que não é costume dizer-se - saíram dois ministros da mesma maneira que outras vezes tem acontecido, tomaram os logares dois cavalheiros tambem conhecidos e intelligentes, o pensamento da administração, assim reconstituida, continua pela mesma fórma; que mais importa saber? A politica é a mesma e o sentido é satisfazer aos encargos publicos pelos tres meios já indicados anteriormente, crear receita, diminuir despeza e amortisar o deficit. Se pois as declarações feitas ao parlamento foram estas, uma vez que o presidente da administração dizia que o caminho a seguir era o mesmo, parecia de rasao e de logica que eu declarasse que estavamos conformes e que apoiava por isso o gabinete sem reserva nenhuma. Eis-aqui o que se passou e o que era natural, nem mais nem menos. Tudo o mais seria ir alem do justo, creio eu (apoiados).

Emquanto ás conferencias que tivemos de fusão ou não fusão, eu que declaro que não preciso dar mais explicações alem das que já foram dadas.

Nós dissemos que os meios que queriamos empregar eram tres, repito, diminuir despezas, crear receitas e recorrer em ultimo caso muito parca e moderadamente ao credito: da combinação d'estes tres meios é que esperavamos conseguir alguma cousa em benencio do equilibrio sobre a receita e a despeza do estado. E reduzindo as despezas publicas quanto possa ser, ainda não dissemos a ultima palavra, e creando receita para satisfazer os encargos. N'estes elementos combinados é que está a conciliação politica, e foi assim que nós concordámos n'ella sem partilha de pastas. N'estas condições dou o meu leal apoio ao actual governo, e já na ultima sessão declarei, e o sr. conde de Cavalleiros bem o sabe, que eu não tenho ambições. Ora, o sr. Fontes disse que elle não era popular, nem queria popularidade, creio que foram estas as suas palavras. Parece me que s. exa. tinha dito que nunca havia fallado, nem feito alarde dos actos que praticou para armar á popularidade; e disse tambem que não era popular, e que pouco se importava com isso. Mas eu tenho ouvido dizer ao digno par, muitas vezes, que o governo constitucional é o governo da opinião publica, e que os homens d'estado que vão áquellas cadeiras não devem nunca governar senão pela opinião publica.

Muito bem: o governo constitucional é o governo do paiz pelo paiz. Entretanto o sr. Fontes disse tambem que se tivesse querido ser governo depois de 1868 o teria sido mais de uma vez, apesar de não ter a opinião publica.

Agora responderei ao discurso do digno par o sr. Andrade Corvo, que não teve rasão de ser, e parece-me que posso provar esta these. Eu declarei que se tinham levantado fundos a 21 por cento, e que rejeitára este meio de fazer fomento; porque nos levava á bancarota. As difficuldades financeiras com que lutamos nasceram d'esses desastrados ensaios de fomento, por isso nós tinhamos seguido outro systema mais conforme ás manifestações publicas, para nos desviarmos do abysmo imminente; e que a politica de hoje é a mesma que se estabeleceu em 1868 para 1869. Não seguimos outra, e o sr. Corvo levantou-se e protestou contra esta politica, porque disse que a politica de 1868 era para elle irreconciliavel, e por isso a não podia apoiar. Foi o que s. exa. disse, que nós eramos irreconciliaveis.

Ora eu fallei o mais moderadamente que era possivel, e sem querer armar á popularidade; mas talvez que pelo modo como fallei houvesse alguma palavra que fosse mal interpretada e levantasse esta grande celeuma contra mim, de modo que estou aqui feito um verdadeiro S. Sebastião crivado de setas (riso).

Diz o sr. Corvo que quer a felicidade d'esta terra; eu creio que não ha ninguem que a não queira, porque este desejo não é privilegio de ninguem, é a vontade de todos os homens politicos, e então póde s. exa. ter a certeza de que tanto o parlamento como todos os individuos que tiverem o nome de portuguezes têem esse mesmo desejo.

A questão seria é nos meios, ahi é que está a differença. O sr. Corvo e o sr. Fontes e todos os que seguem a sua escola querem o fomento de uma vez; querem -no depressa; não ha dinheiro, pede-se por todo o preço Ora ha de confessar que houve grande abuso; o fomento tambem trouxe abusos, parque de tudo se abusa, até das cousas mais sagradas. E como se um dono de uma propriedade a quizesse agricultar largamente, sem ter meios para isso, e pedindo dinheiro, pagando juros, empenhando-se, a final nunca chegava a ver os resultados, porque antes de obter os que teriam de compensar as despezas, morria. Isto é uma verdade.

Quanto não nos custaram os caminhos de ferro? Como se applicaram as sommas de dinheiro que foram destinadas para elles? Eu não quero tratar agora d'isso, mas o que é certo é que se gastou muito dinheiro com o fomento e que nós temos uma divida fluctuante que é ainda hoje de 10.000:000$000 réis, e que os juros que pagámos pela divida fundada e fluctuante absorvem metade, senão mais do nosso rendimento. Não tenho bem presente a somma a que se elevam esses juros, mas talvez exceda a metade da nossa receita. Ora isto é uma cousa grave e muito grave e não é com discursos brilhantes que se remedeia, é com