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212 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

se os srs. ministros tomavam a responsabilidade dos actos do sr. conde de Samodães, e o sr. ministro do reino respondeu-me, como era proprio de quem comprehende a santidade das instituições constitucionaes, que tomava essa responsabilidade. Mas o sr. conde de Samodães não sáe porque esteja doente, apesar da sua saude ser um pouco delicada, e de não estar em maré de rosas, e antes rodeado de espinhos. O sr. conde de Samodães ha de sair, mas depois de votado o contrato, porque se diz que toda a opposição é ao sr. conde de Samodães, o que sinto, porque eu sou seu amigo como homem particular, e não costumo fazer accusações como esse grupo que se serve de todas as armas, incluindo a da calumnia para chegar aos seus fins. Não sei porque se offerece esta victima em holocausto.

Mas o sr. conde de Samodães, que entrou para o ministerio circumdado de grandes enthusiasmos, porque tinha sido escolhido pelo sr. ministro do reino, e tudo que s. exa. escolhia era como se fosse indicado pelo primeiro legislador do mundo, e primeiro politico da terra, ha de sair, porque não agrada a todos os grupos em que se acha dividido o campo ministerial, que segundo julgo são tres, e todos contrarios a s. Exa; ha de sair, e ver-se-ha se esta minha prophecia é errónea.

S. exa. sáe depois do contrato ser approvado, e não em virtude de uma votação da camara, e depois da sua saída ficam os srs. ministros livres para escolher outro habil, porque tambem o sr. Carlos Bento saiu e o ministerio ficou. Aquelle cavalheiro saiu por não se poder approvar o seu emprestimo em consequencia de ser muito oneroso para o thesouro; e comtudo o emprestimo do sr. Carlos Bento, comparado com o do sr. conde de Samodães, era muito melhor. Mas o sr. ministro do reino, pelo amor da verdade, mandou telegrammas aos governadores civis, dizendo que o emprestimo estava realisado. Depois saiu o sr. Carlos Bento, e tudo ficou em bem, o emprestimo não se arranjou, mas prestou-se homenagem á verdade; e este senhor, que está nomeado nosso ministro para o Brazil, como o declarou o sr. marquez de Sá, respondendo na camara dos senhores deputados ao sr. conde de Thomar, Antonio, que tinha pedido informações sobre a nossa legação no Brazil, está ainda exercendo o logar de deputado e naturalmente está guardado para substituir o sr. conde de Samodães.

S. exa. não acredita nesta minha asserção, mas é opinião minha, posso exprimir-me mal e... creio que o sr. ministro do reino faz um triste conceito da minha intelligencia...
O sr. Ministro do Reino: - Não me confesso.
O Orador: - V. exa. faz bem em se não confessar, eu é que me devo confessar a v. exa. e não v. exa. a mim (riso). Mas como quer que seja, é opinião minha e o tempo mostrará se estou prophetisando o que ha de realisar-se em breve ou se apenas a minha imaginação exaltada está suppondo factos, que jamais se realisarão. Portanto, sr. presidente, visto o estado em que se acha esta questão vou restringir-me o mais que poder, pois como os tempos mudam é imprudente chamar á autoria situações de homens politicos que viveram em certa e determinada epocha e a quem bastante se tem injuriado e stygmatisado.

Sr. presidente, se o contrato Goschen fosse apresentado numa epocha em que era ministro o sr. conde d'Avila ou o sr. conde de Thomar, o que se diria então? O sr. conde de Samodães ainda não era politico nessa epocha, ainda era muito moço, e não se póde lembrar. Dir-se-ia então que eram os reaccionarios, que eram os homens que desejavam vender o seu paiz ao estrangeiro. Hoje todos podem fazer tudo, e usar da liberdade de que falla o nosso Horário, empregando-a contra certos homens que se pretendem proscrever, mas que vem depois tempo em que se carece do seu auxilio e aceita-se a mão que dão. Por isso é bom ter prudencia e não lançar palavras vãs e sem sentido sobre homens importantes, que podem e devem prestar bons serviços ao seu paiz.

Sr. presidente, as epochas passadas foram todas de esbanjadores: disse aqui já um digno par, que despenderam mais do que deviam. Eu tambem, fallando em opposição a algumas das situações passadas, disse por mais de uma vez que nós não deviamos ir atraz do enthusiasmo febril com os caminhos de ferro, que isso nos podia comprometter trazendo successivamente grandes dificuldades, difficeis sempre de compensar pela differença de circumstancias do nosso paiz em relação a outros. Recordo-me porem de ter ouvido um digno par dizer "caminhos de ferro a todo o preço", Outros dirão " a todo o preço cousa alguma". Era preciso attender ao custo de todos esses contratos, á maneira de fazer essas obras e aos despendios de seu custeio. Chegados, porem, a estas circumstancias em que se apresenta aqui este contrato de um emprestimo vergonhoso, que vejo eu e que ouço?!

Sr. presidente, o illustre estadista e digno par, o sr. conde d'Avila, honrou a tribuna cem um dos discursos mais importantes e que maior sensação tem produzido no publico; é que mesmo, quando se não concorda com as opiniões que s. exa. emitte, ninguem deixa de fazer justiça ao seu caracter, á sua intelligencia e á nobreza dos seus intuitos: não é para o lisonjear, pois que eu sou pouco lisonjeiro, mas é para expor a verdade, como acaba de dizer o sr. ministro do reino que é necessario dizer, que estou fallando.

O sr. conde d'Avila lembrou muito bem o que tinha dito em outro logar, isto é, que se não approvassem o seu accordo, epocha viria em que se teria de approvar outro peior; e com effeito quem é que póde duvidar que os encargos deste contrato são incomparavelmente maiores?!

S. exa. demonstrou a maneira como eram feitas taes operações para melhor se conhecer a differença; e o que é esta desgraçada, como bem lhe chamam, desgraçada multa! E muito a proposito acrescento eu agora uma pergunta aos sr. ministros. Esta multa é permittida pela nossa ordenação do reino? Direi mais: imaginemos que esta camara, no pleno goso do seu direito, não approva o contrato, quem é que paga a multa?

Eis-aqui está mais uma vez provado por que é que eu queria que chegasse a epocha em que se definisse bem o grande principio da responsabilidade ministerial; essa é, quanto a mim, uma das grandes necessidades publicas para que em casos como este os ministros fossem obrigados a pagar pelos seus haveres (apoiados). Os ministros que fizessem contratos desta ordem deviam assentar-se no banco dos réus, procurando-se ao menos livrar o paiz de passar por uma vergonha destas que estabelece o seu descredito. O paiz não estava assim nem mesmo quando o sr. José Dias Ferreira subiu ao poder; como é pois que o actual governo achou logo para si as praças estrangeiras hermeticamente fechadas, como s. exas. dizem?! São os proprios ministros actuaes que dizem isto, e anteriormente, até ao momento da sua entrada, não succedia assim; então de que é que isto provem?

Pois então o ministerio reformador, moralisador, o ministerio consolidado com o voto de innumeraveis representações por querer economias (já se sabe economias para os pequenos a par de muitas larguezas para os grandes), esse ministerio acha hermeticamente fechadas as praças estrangeiras! Estava reservado para elle o desaire de se fecharem hermeticamente as portas do credito nos paizes estrangeiros!

Eu fico espantado de ver a facilidade e desembaraço com que s. Ex.as fazem economias; admiro como elles armam á popularidade com a construcção de alguns kilometros de estradas que já haviam sido mandados fazer pela administração passada, como se vê pelo relatorio apresentado pelo sr. ministro das obras publicas, que não vejo presente, e por isso não me demorarei neste assumpto; mas essa popularidade não teem s. Ex.as lá fora, porque têem fechados hermeticamente as praças e os bancos. E como estão fechados para os srs. ministros, entendem s. Ex.as que tambem