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DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO 69

commerciaes dos dois paizes, e manifesta ao consul o desejo de ter com elle uma entrevista, para se consultarem sobre o modo de construir uma estrada para Lourenço Marques, a qual deve concorrer para levar a este porto muito commercio.

Não temos mais do que estes elementos para decidir em negocio tão momentoso, e é foi coso confessar que é bem pouco. Não se creia porem que o governo tomasse estas cartas em pouca conta, ao contrario disso, fez á vista d'ellas o que podia e lhe cumpria fazer, expedindo em 26 de março de 1870 portaria ao governador geral da provincia de Moçambique, em que, dando por assentadas todas as conveniencias economicas que deviam resultar da estrada aberta da bahia de Lourenço Marques para as terras do Transvaal, ordena ao governador geral dê com urgencia as providencias necessarias para se estudar o traçado e se orçar a despeza da estrada, mandando ouvir ao mesmo tempo o governador do districto de Lourenço Marques sobre o modo pratico de se executar essa obra; e como era necessario conhecer tambem a disposições em que está o governo da republica a respeito de concorrer com o governo portnguez para uma obra de reciproca utilidade, foi o mesmo governador geral encarregado de mandar fazer estas indagações por pessoas competentes e com a maxima brevidade.

Ainda não conhecemos os resultados da execução d'este despacho, mas o digno par, que é um engenheiro distincto, não póde estranhar que sem elles nos declaremos inhabilitados para deliberar sobre tão importante negocio, que de certo não é mais facil de ser apreciado na provincia de Moçambique do que o é no reino, aonde todos calculam com mais certeza e promptidão as condições economicas e technicas das emprezas similhantes, e aonde todavia nunca as deliberámos na ausencia d'estes dados.

Posso affirmar ao digno par e á camara que o governo logo que tenba fixado as suas idéas sobre o traçado, que não póde deixar de ser combinado com a republica...

O sr. Larcher: - Tem v. exa. conhecimento do contrato do caminho de ferro celebrado entre os Boers e uma companhia?

O Orador: - Não, senhor, nada officialrnente a esse respeito me consta; e pelas disposições em que os Boers se achavam, e se deprehendem da correspondencia do secretario geral do governo de Transvaal e do seu presidente, devemos acreditar que elles, no fim do anno passado, não pensavam em similhante cousa, e não tinham proposta alguma com esse intuito, porque a correspondencia que vagamente pedia conselho sobre o modo pratico de executar esta empreza dá logar a suppor que não tinham estudado nenhum plano de construcção de que necessariamente haviam de tomar conhecimento se lhe fosse proposto para qual contrato.

Se o governo tivesse conhecimento de que se tratava de contratar esse caminho de ferro para a nossa fronteira e que havia probabilidades de o realisar, de certo lhe conviria contratar a continuação d'elle, se o podesse fazer em condições rascaveis, e em todo o caso ogoverno ha de tomar as medidas que julgar necessarias para proteger efficazmente os interesses do paiz.

E com isto parece-me ter respondido ao digno par, se s. exa. não carecer de mais explicações.

O sr. Larcher: - Em primeiro logar cumpre-me agradecer a benevolencia com que o illustre ministro da marinha e ultramar me respondeu, e com prazer o faço.

Quanto á primeira questão, a que se refere á occupação da ilha Unhaca e á retirada consecutiva das forças, convenho em que o comportamento do governo foi o mais.cordato, visto que havia negociações diplomaticas pendentes entre os dois paizes, e que póde ser talvez taxado de imprudente o acto praticado pelo governador de Lourenço Marques, o qual podia perturbar violentamente aquellas negociações. Esta consideração comtudo não abala a minha crença, e, apesar do que s. exa. declarou, receio deveras que, se este negocio depende de uma deliberação por parte da Inglaterra, tarde ou nunca se resolverá. Não convem á Inglaterra abreviar questões que motivem a sua intervenção nos nossos negocios coloniaes. Havemos de recorrer necessariamente a uma arbitragem, á qual serão presentes os fundamentos das pretensões dos inglezes, que são exactamente os que lhes assistiam com respeito á ilha de Bolama.

Portanto continuarei a insistir junto do governo, e diligenciarei que os meus illustres collegas não cessem de lembrar coustantemente esta questão.

Ha uma circurnstancia da maior importancia, á qual é preciso attender, e que mostra que, se descurarmos este negocio, póde nos resultar grande mal; emquanto que, se pelo contrario, lhe procurarmos uma solução rapida, póde realisar-se aquelle brilhante futuro que eu procurei indicar. Póde affluir quasi de repente á bahia de Lourenço Marques um movimento quasi vertiginoso de commercio a que ella não está habituada, e muito conviria que, chegando essa occasião, se achasse completamente resolvida esta questão, e que então não houvesse quem nos dispute a posse d'aquelle bocado de terra, que tão importante é para nós.

O sr. Ministro da Marinha: - E é a mais fertil.

O Orador: - Diz s. exa. que não tem informações officiaes ácerca das queixas a que me referi, nem do contrato do caminho de ferro a que alludi; e antes de eu responder a esta observação, permitta-se-me que eu toque n'outro ponto que prende com este assumpto, e que eu tinha esquecido quando usei da palavra para effectuar a minha interpellação.

O governo de Lourenço Marques depende do de Moçambique, e elevando-se aquelle districto ao grau de prosperidade e de riqueza que diligenciei descrever, seria conveniente que aquelle governo, actualmente de segunda ordem, se tornasse independente do governo de Moçambique, se elle se podesse corresponder directamente com o governo da metropole.

Sei que se abriu, ou se vae abrir concurso para uma carreira directa de vapores para Moçambique, e lembrarei a s. exa. que, no caso de não se poder fazer esse contrato em boas condições, ainda assim poderia contratar com a companhia que emprehende a carreira entre Liverpooi e o Cabo da Boa Esperança, tocando na Madeira, a qual, talvez a troco de um pequeno subsidio, se encarregasse de ir a Moçambique e á bahia de Lourenço Marques. Mas em todos os casos deverão os vapores tocar em Lourenço Marques, ou estabelecer-se uma carreira addicional para este ponto, de modo que uma carta possa ali chegar em trinta on quarenta dias em vez de sete ou oito mezes que actualmente consome.

Voltando ás queixas a que eu me referi na minha interpellação, declaro que não são officiaes, e mal de nós se ellas tivessem já chegado por essa via. Servi-me de informações particulares, pelas quaes me consta que os Boers já se acham encommodados com a lentidão com que procedemos em negocios que prendem com o desenvolvimento futuro da republica e da nossa colonia, e como effectivamente se não póde negar que tudo quanto de nós depende caminha de vagar, não é de admirar que o nosso proceder inalteravel desagrade aos que são mais activos e mais energicos do que nós.

Concluindo, repetirei a s. exa. que em questões de tamanha importancia é necessario que se deixem de lado as praxes que entorpecera, e que tudo se decida com brevidade, porque nem estas questões nem as circumstantias especiaes em que se acha o districto de Lourenço Marques, permittem que se ande com a morosidade costumada.

O sr. Ministro da Marinha: - As reflexões do digno par referem se a actos futuros. Tomo-as pois, na devida consideração, e farei uso d'ellas quando as circumstancias assim o exijam.