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928 ANNAES DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

nados com a idéa de que iam para a Africa, os soldados não tiveram, comtudo, uma só palavra de insubordinação, não agrediram qualquer superior, não soltaram gritos subversivos... apenas gestas, alguns gestos ou acenos, talvez um saudoso adeus!...

E quantos foram os soldados que se tornaram mais salientes na confraternisação com o povo?

Lêem-se os seus nomes a paginas 787 dos nossos Annaes.

Sete soldados apenas!

E para castigar sete soldados foram deportados cento e quinze para a Africa!

Oh! Sr. Presidente! (Apoiados).

Agora vamos a ver, ainda para apurar bem a questão, o que dizia o commandante da divisão Sr. general Cibrão, quando informou o Ministerio da Guerra sobre as causas do acontecimento de Santo Ovidio:

"O facto de se haver licenceado, por rasões de ordem economica, um grande numero de soldados, do contingente d'este anno, logo immediatamente depois de promptos da instrucção da recruta, tendo-se concedido tambem largas licenças registadas aos soldados dos contingentes anteriores, o que tudo contribuiu poderosamente para pôr fora de mão dos seus officiaes e sargentos, individuos a quem o pouco de serviço regimental dera apenas uma fragil cohesão militar".

Vejam! E o proprio commandante da 3.ª divisão militar que diz que a rasão de serem licenceados foi de ordem economica.

Portanto, o Sr. Ministro da Guerra, para fazer uma economia desastrada - e elle, orador, provará como .e por que - licenceou aquelles recrutas logo depois de terem recebido a instrucção, assim como licenceou os soldados dos contingentes anteriores.

Foram, pois, varias as causas que influiram n'este acontecimento, e algumas d'ellas, como o general da divisão explica, vieram de cima, vieram da lei, recrutamento regional, vieram do Ministerio da Guerra, rasão de economia.

Mas ainda assim o acontecimento não foi o que podia ser.

O general da divisão classifica-o de pouco grave.

Já um Digno Par sublinhou esta phrase.

Os soldados commetteram uma infracção pequena, que foi aggravada, na opinião do commandaute da 3.ª divisão militar, pela importancia que a imprensa lhe deu; mas o Governo castigou-os para dizer que teve energia no respeito ao sagrado principio da ordem publica.

Assim mandou para a Africa 115 § homens, só por deferencia para com a opinião publica mal informada. (Apoiados).

Vae agora fazer sobre esta questão algumas considerações de ordem politica, porque se trata de uma questão politica, considerada pelo paiz como tal, e a prova está na numerosa assistencia a esta sessão e no proximo eu cemimento das Côrtes.

Elle, orador, subordina sua voz ao impulso da consciencia e tanto basta para ficar satisfeito.

Tem trabalhado muitas vezes em plena harmonia e completo accordo, com muitos homens que teem feito parte do Governo, e alguns d'elles notaveis pelas suas grandes qualidades, pela lealdade do seu caracter e pela alta comprehensão do estado do paiz,, e entre estes deve fazer a devida justiça, até com enthusiasmo, a Fontes Pereira de Mello.

Viu constantemente aquelle grande estadista tomar a responsabilidade dos erros era differentes administrações.

Elle, orador, fez n'esta casa uma opposição constante e vehemente, como deve constar dos Annaes parlamentares, contra a reforma Constituciona, reforma que o Sr. Fontes não queria, mas que apresentou em obediencia a quem a desejava.

Reformou-se a Carta Constitucional pela segunda vez quando tinhamos um déficit de 8:000 contos de réis.

.Esquecemo-nos do que os outros paizes faziam.

A Italia, de 1866 a 1870, teve o seu orçamento com um déficit de 50:000 contos de réis, mas organisou as suas finanças e não tocou no seu Estatuto.

É necessario ver as cousas como são, e não póde haver boa disciplina no exercito quando ha anarchia em todos os ramos da administração publica.

O Ministerio tendo consciencia d'isso procurou um ponto de apoio, porque sabe que sem a força difficilmente póde manter este estado de cousas.

Ainda hoje o Digno Par o Sr. Dantas Baracho fez uma referencia ao orçamento ou orçamentira, porque o orçamento é uma mentira para encobrir a anarchia das finanças, parallela da anarchia politica.

E comtudo o orçamento foi assim mesmo approvado.

E elle, orador, com a sua ingenuidade, assistindo á discussão e. tendo visto uma disposição que se lhe afigurou não ser suficientemente garantida, apresentou uma proposta, mas não foi acceita.

Refere-se ao artigo 46.° do orçamento, que diz:

"Os titulos de divida publica fundada, na posse da fazenda, que não provierem de cobrança de rendimentos ou de bens proprios nacionaes, nem de pagamentos de alcances de exactores, só poderão ser applicados para caução dos contratos legalmente celebrados. Os titulos que provierem de cobrança de reudimentos, de bens nacionaes ou de pagamento de alcances de exactores, poderão ser convertidos em recursos effectivos, nos termos da lei da receita geral do estado".

O orador commenta largamente este artigo, accusando o Governo de o não ter cumprido e respeitado.

Fizemos um convenio com o applauso de quem o propoz e de quem o votou, convencidos. de que punhamos um fecho brilhante á nossa historia financeira, isto na opinião do Sr. Presidente do Conselho e do Sr. Ministro da Fazenda, e de que levantavamos o nosso credito com tanta efficacia, que logo na sessão immediata vem o Governo pedir auctorisação para contrahir um grande emprestimo. -

Estima, ver presente o Digno Par, o Sr. Mattoso Santos, que era então Ministro da Fazenda, e permitta S. Exa. que lhe diga, sem aggressão pessoal, sem desmerecer os seus conhecimentos e sem que isto signifique o contrario d'aquillo que tem dito de S. Exa., permitta que lhe diga que como Ministro da Fazenda não correspondeu ao que d'elle todos esperavam.

O paiz reage e d'ahi a indignação.

Dizia alguem que a indignação era a ultima faisca da vida de um povo.

Quando se dão factos como os de Coimbra, por causa das taes licenças sanitarias, quando é necessario que se erga a opinião publica, e falle alto, o mesmo é ver saltar a faisca, a ultima, de um povo que soffre e está cançado de soffrer.

Por isso reage.

A acção reflexa dos acontecimentos de Coimbra fez-se sentir no Porto occasionando uma crise para a qual o Governo tem concorrido.

Diz-se: é uma questão, entre operarios e industriaes.

Mas, não é d'isso que trata.

Essa crise data de 1899 e foi aggravada por circumstancias que os Srs. Ministros teem obrigação de conhecer e de attenuar.

Veiu a anarchia, cada vez maior.

Veiu o augmento no preço do algodão, do carvão, e das substancias alimenticias.

Aggravaram-se as condições de Angola, e depois veiu a crise do alcool.

Tem vindo tudo o que é mau e perigoso, e comtudo os Ministros apenas pensam em fazer politica. Entretanto a anarchia cresce e alastra.

Está talvez cançando a Camara com