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DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO 947

documentos que requeri e desde já digo ao sr. ministro o assumpto a que se referem. para poder dar ordem a fim de que sejam enviados a esta camara.

Eu desejo que seja remettida copia da carta ou officio dirigido pelo sr. Hintze Ribeiro ao nosso representante em Hespanha a que allude o telegramma de s. exa., publicado nos documentos officiaes com a data de 11 de junho. Desejo igualmente as copias das propostas feitas á societè financière, e copia das que ella fez ao governo.

Peço estas propostas porque o relatorio do governo e os pareceres da commissão alludem a ellas.

Espero que s. exa. não se negará a inundar estes documentos.

Os outros documentos que pedi são os telegrammas expedidos pelo sr. Sampaio ao nosso representante em Hespanha. Não podemos prescindir de todos estes documentos.

O sr. Antonio Rodrigues Sampaio: - Mando para a mesa duas representações a favor do projecto de lei relativo ao syndicato de Salamanca, uma é da camara municipal do concelho de Torres Novas, e a outra da camara municipal do concelho de Villa Nova de Ourem.

O sr. Telles de Vasconcellos: — Mando tambem para a mesa uma representação da camara municipal do concelho do Sardoal, pedindo a approvação do projecto de lei relativo ao syndicato de Salamanca.

O sr. Presidente: — Serão lidas na mesa no fim da sessão.

O sr. Visconde de S. Januario: — Mando para a mesa um parecer da commissão de marinha e ultramar sobre o projecto de lei que regula as condições em que os officiaes inferiores europeus e indigenas dás guarnições das provincias ultramarinas poderão ser readmittidos ao serviço.

Foi a imprimir.

ORDEM DO DIA

O sr. Presidente: — A ordem do dia é a continuação da discussão do parecer n.° 94, sobre o projecto de lei relativo ao syndicato portuense.

Prosegue com a palavra que lhe ficou reservada o digno par o sr. Pereira Dias.

O sr. Pereira Dias: — Permitta-me v. exa. que, interrompido o meu discurso de hontem pelo tempo, eu o interrompa hoje por considerações que me foram suggeridas pela leitura de um documento ha pouco feita ha mesa.

Sr. presidente, veiu o syndicato a Lisboa pedir a prorogação das côrtes para ser discutido - e approvado este projecto, e não só obteve a que pediu, mas alcançou já segunda, mas conseguirá quantas quizer!

O syndicato peça tudo, peça o que lhe aprouver, e será sorvido! (Apoiados.)

A responsabilidade do que vamos vendo e observando, do que succede e succeder, pertence toda ao governo, que não vê senão os seus caprichos e veleidades. (Apoiados.) O governo teima? A opposição teimará tambem. (Apoiados.) O governo avança? A opposição não recuará. (Apoiados.)

Sr. presidente, v. exa. sabe como no systema representativo a opposição influe no governo do estado; pois afianço a v. exa. é á camara que a opposição está firmemente resolvida, a usar dessa influencia aqui, na imprensa, nos comicios populares, em toda a parte, por todos os meios legaes de propaganda activa e energica, sem tregoas, riem attenções que não sejam as do bem publico.- (Muitos apoiados.)

Não ambicionâmos as pastas; (Apoiados.) desejâmos só que este projecto, pelo menos, seja adiado. (Apoiados.) Se governar é transigir, como ahi nos disse um digno par que apoia o governo, transija o sr. Fontes n’esta questão grave, perigosa! (Apoiados.)

E o sr. Fontes ou o governo, que é o mesmo,- já transigiu (Apoiados.), porque accertou aqui propostas que não quizera acceitar na camara aos senhores deputados. (Apoiados.)

Mas a transacção que acceitou é mais um erro, é mais uma leviandade politica do governo. Em questões d’esta ordem ou se transige de todo ou não se transige em nada. As apprehensões da opinião, as suspeitas do sentimento publico, hão se desfazem assim; pelo contrario, aggravam-se, recrescem) julgando-se justificadas. (Apoiados.)

O governo progressista commetteu um erro analogo, acceitando uma acclaração ao caminho de ferro de Torres, limitou-se a garantia de 6 por cento ao maximo de 3, e nem por asso as apprehensões da opinião, de que se tornara echo no parlamento o sr. Hintze Ribeiro, se desfizeram, pelo contrario, augmentaram. Em politica as meias transacções em assumptos d’esta ordem são más, são pessimas. (Apoiados.)

E transigindo o governo, como transigiu, em que posição politica collocou á sua maioria da camara dos senhores deputados? (Apoiados.) N’aquella camara, nem o governo acceitou, nem a sua maioria approvou, ás modificações, que agora o governo acceitou aqui, e que provavelmente lerão approvadas pela maioria dos dignos pares. (Apoiados.) E, tendo o projecto de voltar á camara dos senhores deputados, serão lá approvadas? A maioria poderá fazel o; salvará a vida, mas perderá a sua honra, a sua dignidade politica. (Apoiados.) E governo e maioria poderão durar, mas não viver. (Apoiados.) Este projecto é já um cadaver, (Apoiados.) o governo é um morto-vivo. Em pathologia politica ha d’estes paradoxos. (Apoiados.)

A opinião publica, que ahi sé manifesta contra o syndicato, e serodia; devia surgir ha mais tempo, porque ha muito que este contrato era conhecido. Assim o disse o digno par, o sr. visconde de Chancelleiros.

Sr. presidente a opinião publica apparece só quando póde e deve apparecer. As manifestações da opinião, quando espontaneas, têem periodos de elaboração que se não precipitam, conforme a vontade e os desejos dos partidos. (Apoiados.) São precedidas sempre pela discussão jornalistica e parlamentar, e mais tarde pelos comicios, onde os assumptos se discutem e esclarecem, de modo que sejam facilmente comprehendidos. (Apoiados.)

Quando appareceram, sr. presidente, as manifestações da opinião, os comicios populares, contra o imposto de rendimento e tratado de Lourenço Marques? Tarde e muito tarde, quando podiam e deviam apparecer.

E agora me recordo de ver o digno par n’essa epocha, faltando aqui todos os dias, todas ás horas, todas os instantes; levantando incidentes sobre incidentes; não acabando um para começar outro; muito cheio de si e da sua justificada vaidade, e voltado para ás galerias dessa opinião, arrancar d’ellas applausos e risos, usando e abusando da sua palavra facil e elegante, esgrimindo o epigramma gracioso á que é atreito o seu genio humoristico. {Apoiados.)

Recordo-me tambem de ver é admirar o illustre chefe do partido regenerador, com o aprumo elegante da sua figura correcta, solicitar dás galerias que o não applaudissem, acrescentando: «é verdade que eu proprio não posso muitas vezes subtrahir o meu espirito aos impulsos irresistiveis do enthusiasmo.» E se estas palavras hão eram de molde para evitar applausos, eram pelo menos o elogio merecido da sua arrebatadora eloquencia. (Riso.)

Como então, o sr. Fontes e o sr. visconde de Chancelleiros, com ás apparencias tambem de pregador convicto; mas em tom irado, intimavam o governo a sair do poder, em nome e por obra e graça d’aquella muito sua Opinião publica! (Apoiados.)

Eu não affirmo que esta opinião fosse serôdia e artificial, apesar de haver motivos serios para o affirmar. Aquella opinião publica, arranjada contra o imposto de rendimento e tratado de Lourenço Marques, não deveria ter desappa-