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950 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

O commercio de Salamanca iria pela linha da Beira Alta para a Figueira, enraizando-se para sempre n'este importante emporio commercial!

Fallaremos opportunamente ácerca d'esta infundada e irrisoria allegação.

Sr. presidente, permitta-me v. exa. e a camara que eu intercale aqui mais um excerpto do relatorio do syndicato, é o seguinte:

"O Porto sabe hoje que foi a vista penetrante e lucida do actual ministro das obras publicas a que primeiro abrangeu todo o alcance da formação de um syndicato verdadeira e genuinamente portuense, como o unico capaz de bem zelar e defender os interesses ameaçados da cidade e das provincias, que com ella viveia ligadas; não receia, portanto, o Porto que os olhos, que tanto souberam ver, se desviem indifferentes ou se fechem para não olhar. A sentinella, que, ao avistar o inimigo, solta o brado de alarme, fica pelo facto da sua posição avançada na primeira fila dos combatentes, e v. exa. occupa hoje exactamente um d'esses postos de honra, e v. exa. que, vendo o perigo que corria a linha do Douro de ir esbarrar na fronteira, reduzida assim a arrastar a vida miseravel que só lhe póde dar o proprio sangue, quando é de sangue novo que ella carece; v. exa. que, vendo isso, repetimos, soltou o grito de alarme, aconselhando a formação d'este syndicato, é, jura-mol-o, incapaz de se não juntar a nós, que tentamos impedir que sejam inutilisados os grossos capitães gastos e a gastar pelo paiz na construcção da linha do Douro."

Sr. presidente, se eu fosse ministro das obras publicas, que nunca serei, subir-me-ia o rubor ás faces, depois de ter lido o officio, onde se escreveram estas exageradissimas lisonjas! (Apoiados.)

O orgulho de um ministro, a prosapia de um homem serio, não podem, não devem, ser tão arrogantes que só não humilhem perante as louvaminhas de qualquer syndicato! (Apoiados.) E é improprio de quem trata de negocios industriaes usar de um estylo tão empolado e bellicoso. Se a perspicacia do sr. ministro fosse seria, deveria ter descoberto n'este palavriado patriotismo de mais e seriedade de menos. (Apoiados.)

E o remate d'este officio do syndicato, dirigido ao sr. ministro, é admiravel!

Ouça a camara:

"No officio, que tivemos a honra de dirigir a v. exa., apresentando-lhe os nossos delegados em Lisboa, diziamos que este syndicato não mim a lucros, mas deseja unicamente contribuir para o bem do paiz em geral, e do Porto em particular, pedindo apenas uma modesta remuneração do capital a arriscar. Repetimol-o hoje, certos de que v. exa., amando como nós o seu paiz, não póde querer o prejuizo de quem se apresenta a defender-lhe os interesses."

O syndicato, afflicto e desesperado, porque a financière premeditava a ruina da cidade do Porto e do norte do paiz, terminava... por lembrar ao ministro que se não esquecesse da promettida e modesta remuneração ao capital a arriscar! (Riso.)

Não censuro o syndicato, por querer a remuneração dos seus capitães; estranho só que o momento e o estylo fossem accommodados á sua solicitação.

E quer saber a camara o perigo que o syndicato receiava e se propunha combater? Eil-o:

"O perigo que nos ameaça narra-se em poucas palavras. Consta que a société financiar e procede a novos estudos que prolongam a extensão da linha de Boadilla á Barca de Alva, para conseguir depois do concurso que o governo de Sua Magestade Catholica lhe permita alterar o actual traçado que reduz a distancia entre Salamanca e o referido ponto da fronteira portugueza.

"Consta ainda, que a société financière promove a creação de um grupo capitaneado por alguns portuguezes, que assim vão dar falsa apparencia nacional ao grupo francez, para destruir ou pelo menos reduzir as legitimas aspirações do syndicato portuense.

"Cruzar os braços perante o attentado seria da parte do syndicato uma verdadeira cumplicidade; resolveu, portanto, luctar quanto as suas forças lho permittiam, embora o golpe que se intenta vibrar ao norte do paiz fim primeiro a elle."

D'aqui se conclue que o syndicato ía a Madrid, porque este officio é das vesperas da sua partida para a capital de Hespanha, não para evitar a deserção do concurso, mas para ser elle, e só elle, o arrematante da linha de Salamanca á Barca de Alva e a Villar Formoso! (Apoiados.)

A prosperidade da Figueira e a consequente ruina do Porto e do norte do paiz, a rivalidade entro a linha da Beira Alta e a do Douro, determinaram esta heroica e patrioca resolução do syndicato portuense! E para conseguir o seu generoso intento, desprezando suavidades no trato, e olvidando cortezias e habilidades de negocios, apresentou-se aos delegados da sociedade financeira do seguinte modo:

"Effectuado o deposito de 2.282:500 pecetas nominaes em titulos internos de 3 por cento, exigido aos concorrentes pelo programma, os delegados do syndicato, pesando todo o valor da arma que a société financière possuia no direito de preferencia, entenderam que o meio de inutilisar essa arma era obrigar a mão que a brandia a voltal-a contra o proprio peito, e, dirigindo-se acto continuo aos delegados da société financière disseram-lhe singelamente: "Não queremos afastar da praça a nenhum concorrente, pelo contrario; mas, ou vindes comnosco a um accordo, que salva-"guarde os interesses de Portugal, ou o vosso direito de preferencia vos sairá o mais caro possivel, porque concorreremos á licitação, prescindindo da subvenção."

"Os delegados da société financière não esperavam com certeza esta resolução; reconheceram o perigo que corriam, e ao cabo de longas discussões annuiram ao accordo, de cujas bases os delegados do syndicato deram immediatamente conhecimento a v. exa. pelo telegrapho."

Aquella negregada société financière que tão ousada e atrevida se havia mostrado, teve medo, e ao cabo de longas discussões que não duraram vinte e quatro horas, cedeu e entregou-se toda nas mãos do syndicato, que levavam a garantia de juro á custa do thesouro portuguez! (Apoiados e riso.)

Os inimigos congraçaram-se e fizeram um accordo! O governo progressista diligenciava por intermedio do sr. conde do Casal Ribeiro a simultaneidade da concurso para os dois ramaes á Barca de Alva e a Villar Formoso, com o fim de obrigar a financière á construcção d'estes dois troços da linha de Salamanca, e o governo regenerador procedeu de modo, e o syndicato negociou de fórma, que a financière nos obrigou, a nós, a construirmos o seu ramal, o de Villar Formoso! (Apoiados.) Que perspicacia esta, a do sr. ministro e a do seu syndicato! (Apoiados.) Queria-mos que a financière nos construisse o ramal de Barca de Alva á sua custa e no mesmo tempo em que terminasse a construcção do ramal de Villar Formoso, e com as mesmas tarifas, e succedeu que, pelo cerebrino accordo do syndicato, approvado pelo governo, a financière conseguisse que lhe construissemos, nós, á nossa custa, o seu ramal, com tarifas iguaes á do ramal da Barca de Alva, e, note a camara, n'um praso de tempo que não excederá tres annos, salvo para a parte cujo prolongamento em Portugal necessite para os estudos e construcção completa de mais largo proso! (Apoiados.) Assim o diz a seguinte clausula do famigerado accordo:

"As duas partes da linha, tanto a da Salamanca a Boadilla, e Villar Formoso, como a de Boadillla á Barca de Alva, serão construidas no praso maximo de tres annos a contar da notificação da concessão, salvo para a parte cujo prolongamento em Portugal necessite para os estudos e construcção completa de mais largo praso."

E o governo que não deveria acceitar esta clausula