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108 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

e eu tenho aqui a acta da sessão d’aquella camara, que vou ler.

(Leu.)

Isto é muito differente, e mostra-se que n’aquellas arruaças da cidade de Braga não havia idéa de rixa velha com Guimarães, pois que não foram só os seus procuradores as victimas das arruaças.

O concelho de Villa Nova de Famalicão, que não quer a desannexação, e está ao lado de Braga, desejando que o projecto apresentado pelo sr. Castello Branco não seja convertido em lei, tambem esse teve um procurador apupado.

O que o sr. ministro queria dizer era que a camara municipal de Guimarães fôra muito louvada pelas juntas de parochia do mesmo concelho.

A rasão do engano é facil de comprehender, o governo anda muito preoccupado com um projecto que fará com que a anarchia do Minho se estenda a todo é paiz!

O governo quer commetter mais esse attentado e é este o motivo da sua confusão entre parochias e municipios.

Pretende apresentar um projecto que diga respeito a todos os concelhos do reino, e é por isso, repito, que está fazendo esta confusão deploravel.

Lavra a anarchia no districto de Braga e imaginou que ella se estendia já a todo o paiz!

Por ora, felizmente, ainda não chegámos a esse ponto, e é para que não cheguemos que eu peço com instancia ao governo que largue o poder. (Apoiados.)

Saia o medico, saia o piloto. Venha outro medico, venha outro piloto. É o que faz um bom chefe de familia, é o que faz um bom capitão de navio.

O que tem hoje a fazer o governo com relação ao grave conflicto do Minho? Não sei. O que deveria ter feito, sei eu, mas não o fez e não póde boje fazer nada porque está cheio de compromissos.

Sr. presidente, foram graves as accusações feitas n’aquella provincia ao primeiro magistrado, e a obrigação do governo, para honra do proprio governador civil, era mandar immediatamente syndicar dos seus actos.

Como não se fez isso, não se póde saber aonde está a verdade, pois era essencial e necessaria essa syndicancia, e talvez bastasse para que não principiasse o conflicto que está agora n’uma tal exaltação, que não sei aonde possa chegar.

Parece que o governo teve medo da, syndicancia como teve medo de dissolver a camara municipal de Guimarães, que estava fóra da legalidade.

Se não fosse atacado de tanto medo, se tivesse cumprido com o seu dever, tinha agora uma grande força moral. Se caísse diante do desempenho do seu dever, caía bem; não caía aos pedaços como lhe está succedendo agora, dando este tristissimo espectaculo de uma, agonia lenta e duradoura, sem nada poder fazer que seja util ao seu paiz.

Disse o sr. ministro que o governo não póde deixar de attender á cidade de Guimarães, porque a cidade de Braga nada pedia.

Lembra-me estes eleitores boçaes que respondem a quem lhes vae pedir o voto: «Já outro m’o, pediu primeiro; viesse mais cedo».

Sr. presidente, para o governo não ha principios nem justiça.

Para elle, os que devem ser attendidos em primeiro logar, são os que demonstrarem mais força, mais energia e estiverem mais encarniçadamente fóra da ordem.

Não podia o governo suppor que a cidade de Braga, até então socegada, viesse depois levantar-lhe difficuldades?

Não o podia prever?

Pois uma das obrigações dos governos é serem previdentes.

O governo não comprehendeu, desculpe-me que lhe diga, a grande delicadeza dos honrados cidadãos de Braga, que certos dos seus direitos, não quizeram fazer aggravo ao governo, pedindo-lhe que não praticasse um desproposito.

Não comprehendeu isso.

E não comprehendeu tambem que desde o momento em que a satisfação á cidade de Guimarães não podia ser outra senão a punição immediata dos arruaceiros, os homens bons da cidade de Braga não podiam ir aos comicios, pedir esse castigo, porque bem sabiam que d’ali podiam resultar consequencias funestas, se algumas pessoas imprudentes se lembrassem de substituir-a justiça que tardava, e exagerando-a na sua exaltação de momento, arrastassem pelas das da cidade os causadores do tumulto.

Bem sabia Braga o que poderia succeder se acaso pedisse justiça contra os criminosos, por isso conservou-se serena e quêda, esperando que os tribunaes julgassem;

Eu francamente, se encontro, e encontro certamente palavras de desculpa para a cidade de Guimarães, que se insurreccionou por um motivo de indignação justa, não sei que palavras de louvor sejam bastantes para a prudencia d’aquella cidade de Braga.

Eu sinto que estou cansando a camara.

Vozes: — Não, senhor, falte, falle.

O Orador: — O que é preciso é que o governo acabe esta comedia em que apparecem dois papões: Braga e Guimarães.

V. exa. comprehende perfeitamente que isto não é serio.

No theatro vem o entremez depois da tragedia, e eu receio que n’esta desgraçada questão a tragedia venha logo após a comedia.

Cáia pois, o panno e quanto antes, e acabe de uma vez a representação!

Sr. presidente, este governo diante do conflicto já não póde ir nem para um lado, nem para outro.

Eu não apresento nenhuma moção de censura, o que não quer dizer que se algum digno par a apresentar, a não vote; não a apresento porque não é precisa, o governo já está em cheque, e em cheque-mate.

O que eu desejo, sr. presidente é que n’esta partida de xadrez com a provincia do Minho, como em todas as outras que esta situação joga com o paiz, a pedra principal seja sempre e só o governo responsavel.

O sr. Visconde de Moreira do Rey: — A terra em que eu nasci pertence ao districto de Braga, e visto que aqui se referem ás tradições antigas, eu creio poder affirmar que, desde o principio da monarchia, a minha terra manifestou sempre certo amor e grande dedicação pela capital do districto.

O mesmo lhe acontece em relação a Guimarães, cidade importante e a sua mais proxima vizinha, com a qual sempre teve e mantem as melhores relações de amisade.

Pessoalmente eu tenho e tive sempre a maior consideração pelas duas cidades, n’uma das quaes tenho familia e em ambas muitos amigos e excellentes relações.

Assim a casa em que nasci, a propriedade que herdei, as recordações de familia, os primeiros estudos, como os primeiros passos na vida publica, tudo existe ou se passou no districto do Braga, e eu, tendo condições que a muitos faltam, de interesse proprio ou de exactas informações, não posso nem quero acreditar nas suspeitas, para lhes não chamar prophecias, que foram aqui apresentadas pelo digno par que me precedeu.

A camara vê que eu reuno todas as condições precisas para poder entrar n’este debate, com calor e com paixão, e até me parece que, se algum excesso podesse ser admittido, seria, se não justo, pelo menos, desculpavel. Feita esta declaração, permitta-me a camara que eu declare francamente o grande paixão que n’este momento me domina.

Essa paixão é simplesmente é profundo desgosto de ver discutir n’esta casa uma questão d’esta ordem.

É triste que os partidos politicos e o governo, tendo questões graves a tratar, como são a questão de fazenda, a questão colonial, e muitas outras importantes e urgentes,