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4 DE OUTUBRO DE 1975 1751

vessa, que a herança do fascismo é a verdadeira origem dessa triste realidade.
Que compreendam todos que foram os erros do fascismo, muitos desses erros intencionais em obscurantismo, que hoje justificam toda esta desgraçada qualidade de vida do povo.
Vê-se e compreende-se que qualquer povo com melhor educação sanitária e social está mais prevenido para se defender dos ataques de doença em relação a si próprio e ao seu semelhante.
Assim se compreende que, com a falta de cultura e, neste caso, da cultura para a saúde - a educação sanitária e social -, Portugal figurará na cauda da Europa, nos índices estatísticos da saúde.
Ao dizermos que os erros do fascismo foram intencionais, visando um obscurantismo, vamos dar exemplo para provar que assim foi.
Nos liceus havia uma cadeira que versava este assunto que em mil novecentos e trinta e pouco foi substituída pelas actividades da chamada Mocidade Portuguesa, de triste memória. Portanto, intencionalidade na substituição de uma potencial melhor qualidade de vida por ensino fascizante.
Mas há mais. Como sabem, foi sempre preocupante para cada país o estado sanitário e a educação para a saúde também dos outros países, pois compreende-se que as epidemias com os vírus, bactérias, etc., ultrapassaram as fronteiras e levaram de uns para os outros países o mal-estar, doença e morte.
Pois, nesta linha, em 1966, vários países da Europa incentivaram e conseguiram que em Portugal se organizasse uma semana de educação sanitária. Foi no Museu de Machado de Castro, em Coimbra, tendo como presidente o director da Faculdade de Farmácia de Paris.
Foi prestimosa a colaboração de cada país - eram, salvo erro, doze esses países - através da cedência de slides, gravuras, quadros, maquetas, enfim, toda uma «máquina» de divulgação e informação que em cada um desses países era a expressão da experiência de muitos anos de uma prática que lhes tinha proporcionado melhor qualidade de vida.
Pois, Sr. Presidente, Srs. Deputados, essa exposição, que devia passar a itinerante através de todos os distritos, concelhos e aldeias do País, ali morreu.
A explicação para o facto de esta iniciativa ali ter morrido foi esta, em minha opinião:
Teria de ser designada uma comissão de educação sanitária em cada freguesia, concelho e distrito, e, tal como nos outros países tinha sucedido, previa-se êxito; simplesmente a máquina fascista fez comissões em que prioritariamente os seus membros tinham de ser da ANP, colaboradores do fascismo nas juntas, Legião, etc., e não as pessoas que estivessem ligadas ao ensino ou saúde. Como estão a compreender, são provas da intencionalidade do fascismo em obscurecer, sacrificando o povo na qualidade de vida a que tinha direito. Mas qual a causa que levou o fascismo a tal atitude? É porque, ao tratar-se de saúde, tem que falar-se em habitação, em águas canalizadas, em esgotos, em poluição, em alimentação, em cultura geral, em sexologia, em tempos livres, etc., e, ao ter de falar verdade, ia-se contra o fascismo e tal não lhes interessava. Mas estamos perante a realidade, temos que enfrentar a herança, triste herança que a Revolução encontrou, que estes apelos angustiantes e justos vão denunciando, e ainda há muitos outros gritos angustiantes que nem chegam até nós, mas que nós temos que chegar até eles. Além dos 300 000 deficientes mentais citados, há também 600 000 deficientes motores e outros. Há meio milhão de alcoólicos. Há milhares de crianças que morrem antes de atingir um ano de idade. Há milhares de mortos por doenças infecto-contagiosas.
Há, em resumo, muitas vidas ceifadas, muitíssimas com uma qualidade de vida minorada e muita vida em frustração cuja causa mais importante se pode encontrar na falta de acesso ao ensino e em especial ao ensino para a saúde, a educação sanitária e social.
Se a Revolução preconizou medidas para uma melhor qualidade de vida, esta Revolução estará incompleta ou está andando devagar de mais se não nos preocuparmos e accionarmos um dos meios que fornecerá a melhor qualidade de vida - a educação sanitária e social.
E, Portugueses, não há tempo a perder, há que ganhar a Revolução para toda a população que de saúde só sabe que «o que não mata engorda» e que os vírus, as bactérias e os fungos são factores que ninguém vê; a sua verdade fatalista de tudo, «será o que Deus quiser que seja», é que prevalece.
Desta tribuna quero apelar para que a Revolução dê entrada à educação sanitária e social, que é o mesmo que dizer ao serviço de preservação e prevenção da saúde e da melhor qualidade de vida.
Entrar em debate a educação sanitária e social com a participação de todos os vocacionados para participar no ensinar os assuntos ligados com a saúde, para transmitir de forma adequada ao meio e realidades presentes, partindo dos problemas numa atitude de constante indagação e seguir, na medida do exequível, a actividade de detectar também hipóteses discuti-las, incutindo o sentido de maneira inovadora.
As acções educativas, e esta da educação sanitária em especial, têm que exercer-se em áreas que até agora não receberam qualquer atenção, tendo gerado inocentes vítimas sangrando e fazendo sangrar.
Em resumo, as nossas escolas, estabelecimentos prisionais, campos e fábricas precisam também e já da participação dos trabalhadores do ensino na educação sanitária e social, pois é bem verdadeira a voz do povo a dizer: «A saúde acima de tudo.»
Mas não voltemos a errar como no tempo do fascismo, de que quem podia ensinar saúde eram unicamente os médicos e até só entre estes os apaniguados do tal regime. Não, neste momento nós temos que considerar capacitados para participar, ensinar e debater a educação sanitária e social os progressistas interessados no êxito da Revolução, vocacionados para transmitir vinculando conhecimentos no âmbito das ciências naturais, sociologia, sexologia, alimentação, nutrição, psicologia, ecologia, poluição, casamentos consanguíneos, hereditariedade, cromossomas, economia, tempos livres, alcoolismo, tabagismo, etc.
Sr. Presidente, evidentemente que a minha intervenção teve o propósito de denunciar a falta de educação sanitária e social no povo português principalmente entre as camadas mais desfavorecidas, faltou esta observação através das experiências vividas no dia-a-dia.
Como modo de terminar reclamo do Ministério ou Ministérios responsáveis fundamentando e transmitindo, assim, os apelos atrás citados e tenho ainda

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