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II SÉRIE — NÚMERO 40

dela tiveram conhecimento, que não falaram do assunto aos seus grupos parlamentares.

Segundo um alto dirigente do PSD, na altura ministro do Gabinete de Soares, e hoje ocupando destacado papel nas relações entre Portugal e os Estados Unidos, a decisão de vender ao Irão as armas e munições de

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que necessitava para prosseguir a guerra foi uma «questão de pragmatismo nnanceiro», uma vez que o Iraque estava «com dificuldades de tesouraria». Este antigo membro do Governo, que viria a ocupar posteriormente funções de maior responsabilidade nesse Executivo e no partido, reconheceria no entanto «não ter tido conhecimento prévio» da decisão. Esta só seria autorizada desde que os fornecimentos não fossem

«susceptíveis de alterar o curso do conflito e a relação de forças na região», conforme uma orientação estabelecida pelo Ministério da Defesa em 1984.

Carta sem resposta

O Presidente Ramalho Eanes, poucos meses depois, interrogou o primeiro-ministro Mário Soares sobre o significado da presença no Aeroporto de Lisboa de um avião iraniano a carregar material de guerra. O então Presidente da República fora apanhado de surpresa pelo facto de Portugal ter começado a vender armas ao Irão. O Executivo não se dera ao trabalho de informar Belém sobre a sua nova orientação política quanto ao conflito do Golfo. Uma decisão deste teor, com profundas implicações nas relações de Portugal com os países árabes, em particular com os chamados Estados árabes moderados, apoiantes do Iraque, foi tomada sem que tivesse havido um debate, considera o então Presidente. Eanes inquiriu o primeiro-ministro sobre o assunto numa carta que nunca teve resposta. (O chefe da Casa Civil do actual Presidente disse ao Expresso que Mário Soares não se recorda deste assunto.)

Era inevitável que as exportações para o Irão chamassem imediatamente a atenção. A presença de um Jumbo da Iran Air rodeado de excepcionais medidas de segurança no Aeroporto da Portela enquanto carregava material de guerra português foi logo do conhecimento de altos funcionários diplomáticos iraquianos em Lisboa. O embaixador do Iraque alertou para o facto o almirante Souto Cruz, na altura consultor da Presidência da República e um dos homens mais importantes nas relações entre Portugal e os países árabes. A vinda a Lisboa do avião iraniano foi tão conspícua que até uma equipa da televisão de Bagdad se deslocou ao Aeroporto para filmar o acontecimento.

Uma indústria obsoleta

Entre 1974 e 1980, antes da guerra do Golfo, as fábricas portuguesas de armamento viviam uma apagada rotina nas margens do Tejo, fabricando munições destinadas essencialmente às ditaduras latino-americanas, velhos e leais clientes. A didatura militar argentina, o antigo regime uruguaio, a Bolívia e os generais Pinochet, do Chile, e Stroessner do Paraguai, são compradores habituais de importantes quantidades de material de guerra português, absorvendo a maioria dos 889 000 contos vendidos por Portugal à América do

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