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7 DE FEVEREIRO DE 1987

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A EXTRA encontra-se em difícil situação, apesar de um brutal salto nas vendas entre 1982 e 1983. De facto, depois de ter facturado meio milhão de contos em 1982, vendeu no ano seguinte 7,5 milhões de contos, valor que caiaria em 1984 para 4,7 milhões. Em resultado, passou de um prejuízo de 34 000 contos em 1982 para um lucro de 440 000 no ano seguinte, e de 90 000 em 1984. Devido a supostas irregularidades, que estão a ser investigadas pela actual administração, a EXTRA não se encontra em boa situação.

Apesar dos maus resultados apresentados pelas empresas públicas de armamento, a venda de armas com destino ao Médio Oriente, que representam 75 % das exportações de armamento portuguesas entre 1981 e 1986, rendeu mais de 35,7 milhões de contos. Se

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não fossem a guerra do Golfo e as vendas ao Irão, que teria acontecido à indústria portuguesa? A sua obsolescência limita os mercados ao Terceiro Mundo. Mas mesmo assim, a capacidade de penetração dos vendedores portugueses de espingardas e balas razoavelmente antiquadas não tem sido muito grande. Em África, por exemplo, Portugal quase não vende. Entre 1981 e 1986 Portugal vendeu pouco mais de 100 000 contos ás ex-colónias.

Segundo o almirante Souto Cruz, consultor do Núcleo de Indústrias de Armamento da AIP, se não se der uma reconversão, «aquilo que fabricamos deixará de servir às nossas Forças Armadas», dando o exemplo da Aviação e da Marinha, onde as munições utilizadas já são todas importadas.

Isto significa, em termos mais práticos, que as fábricas portuguesas deveriam abandonar a fabricação de material ultrapassado, como a artilharia de 105 mm, e adquirir a tecnologia para o fabrico (e não apenas a montagem com componentes importados) de material mais moderno como, por exemplo, as granadas de 155 mm e 203 mm, utilizadas pela NATO. As nossas exportações para países da Aliança Atlântica têm vindo a decrescer constantemente nos últimos anos.

Mas há quem se mostre céptico quanto à viabilidade de uma reconversão significativa. Um oficial general disse ao Expresso que, apesar de achar que «a reconversão é necessária, pois além da abertura de novos mercados permitirá que a indústria de armamento possa ser usada como instrumento de política externa», duvida da sua viabilidade. Enquanto as fábricas portuguesas continuarem a exportar 95 % da sua produção para clientes pouco exigentes do Terceiro Mundo ou através de intermediários pouco escrupulosos, «as negociatas vão continuar», acrescentou a mesma fonte.

José Júdice e Benjamim Formigo (Expresso, de 24-1-87)

O percurso das armas portuguesas para os «contras» da Nicarágua

Portugal foi uma das grandes fontes de abastecimento de armas e munições dos «contras» nicaraguenses, o movimento apoiado pelo Presidente Ronald Reagan contra a vontade do Congresso norte-americano. O Expresso conta a história — ou a parte dela que até agora nos foi possível descobrir.

Portugal vendeu, entre Janeiro de 1985 e Junho de 1986, às Forças Armadas da Guatemala 7461 de material de guerra, no valor de 661 398 contos. As armas e munições saíram de Portugal com destino à República da Guatemala. Nunca lá chagaram. Em vez disso, tudo indica que acabaram nas mãos dos «contras» anti-sandinistas, o movimento apoiado pelo Presidente Reagan no seu combate ao Governo de Manágua.

Estas armas e munições começaram a ser adquiridas em Dezembro de 1984 às fábricas nacionais de armamento pela DEFEX (uma empresa de importação e exportação de armas fundada em 1978), em associação com duas empresas da América do Norte. Primeiramente com a Trans World Arms Inc., com sede no Canadá, substituída no início de 1985 pela Energy Resources International, empresa norte-americana fundada por Thomas Clines e cuja morada coincide com a do general Richard Secord.

Em Dezembro de 1984, cerca de dois meses depois de o Presidente Reagan ter sido obrigado pelo Congresso norte-americano a terminar o auxílio militar aos «contras» nicaraguenses, foi feita em Portugal a primeira encomenda de material bélico destinado supostamente às Forças Armadas da Guatemala. A DEFEX encomendou ao INDEP um milhão de munições de calibre 7,62, 2000 granadas de morteiro de 60 mm e 1000 granadas de morteiro de 81 mm. Para provar a legitimidade do negócio foi entregue na Direcção Nacional de Armamento um certificado de destino final, documento indispensável para obter a autorização de compra e exportação do material de guerra fabricado pela indústria portuguesa. Esse certificado, um documento em papel timbrado do Estado Mayor de la Defensa de la Republica da Guatemala, atestava que o material pretendido era para «uso exclusivo do Exército da Guatemala e que não seria exportado para outro país». Assinava o documento o «general Cesar Augusto Caceres Rojas», na qualidade de «Jefe Interino dei Estado Mayor de la Defensa Nacional». Nos sete meses seguintes a DEFEX apresentaria mais nove certificados

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